Entidades judaicas repudiam fala de cunho nazista de comentarista da JP New
As organizações judaicas Conib (Confederação Israelita do Brasil), Fisesp (Federação Israelita de São Paulo) e JPD (Judeus pela Democracia) repudiaram a afirmação de cunho nazista do comentarista da Jovem Pan News, José Carlos Bernardi, nesta 3ª feira (16.nov.2021).
No Jornal da Manhã, Bernardi afirmou que um dos fatores para “enriquecer” a economia da Alemanha na 2ª Guerra Mundial foi a apropriação das riquezas dos milhões de judeus mortos no Holocausto.
“É só assaltar todos os judeus que a gente consegue chegar lá. Se a gente matar um monte de judeu e se apropriar do poder econômico dos judeus, o Brasil enriquece. Foi o que aconteceu com a Alemanha pós-guerra”, disse.
No Twitter, a JPD escreveu que a afirmação de Bernardi é “mentirosa e revisionista”, além de “reincidente na emissora”. “A fala de Bernardi apoia-se no mito antissemita da riqueza dos judeus e ignora totalmente os diversos fatores econômicos que alçaram a Alemanha ao patamar de desenvolvimento atual. É antissemita e é burra”, disse o grupo.
Em carta conjunta, a Conib e Fipesp disseram que a narrativa colocada à audiência do recém-inaugurado canal televisivo da Jovem Pan causou “justificada consternação e revolta na comunidade judaica”. Eis a íntegra (123 KB).
“Entendemos ser de fundamental importância alertar aos formadores de opinião que a comparação de situações contemporâneas com os horrores do Nazismo e do Holocausto, para qualquer finalidade, é equivocada e extremamente dolorosa ao povo judeu”, diz o texto.
O episódio matou quase 6 milhões de judeus de 1933 e 1945 de “maneira orquestrada, cruel e sistemática”, segundo o Museu do Holocausto. É considerado o maior genocídio do século 20. Por causa disso, as entidades judaicas mantêm como slogan permanente a frase “não compare o incomparável”, em sinal à gravidade do assunto.
“Esse tipo de afirmação relativiza o Holocausto, o coloca não como uma categoria vinculada ao genocídio, mas a questões políticas e econômicas”, disse Michel Gherman, professor de Sociologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que é judeu. “Coloca o nazismo como um sistema que fortalece o Estado judeu, e não como um fenômeno que decide pela morte de milhões”.
Essa fala do "comentarista cristão" Jose Carlos Bernardi resume muito o negacionismo histórico que tomou esse pais de assalto em 2018. Além da ignorância completa dos processos do pós guerra, típica de um analfabeto em História, o sujeito incorpora referencias do antissemitismo. pic.twitter.com/E6sfho4d3h
— Michel Gherman (@michel_gherman) November 16, 2021
Pedido de desculpas
Em nota, Bernardi pediu desculpas pelo comentário. “Fui mal-entendido”, disse em nota enviada pela assessoria de imprensa da Jovem Pan News.
“Não foi minha intenção ofender a ninguém, a nenhuma comunidade, é só ver o contexto do raciocínio. Mas, de qualquer forma, não quer que sobrem dúvidas sobre o meu respeito ao povo judeu e que, reitero, tudo não passa de um mal-entendido”, diz o texto. A apologia ao nazismo é crime no Brasil desde 1997.
Bernardi foi um dos comentaristas da Jovem Pan que criticaram a investigação sobre contas em paraísos fiscais Pandora Papers, no começo de outubro. Acusou o ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, na sigla em inglês) de “esconder parte dos documentos ao escolher a quem atacar” e afirmou que os jornalistas envolvidos no projeto “trabalham com a mão esquerda” –ambas inverdades.