EUA tomarão providências se não houver ‘mudanças imediatas’ no canal, diz Rubio a presidente do Panamá

O presidente do Panamá, Jose Mulino, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio chegam ao palácio presidencial para reunião. - Mark Schiefelbein/via REUTERS
Caso o Panamá não aja para reduzir a influência da China sobre o canal, o governo dos EUA tomará providências, disse no domingo (2) o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio, ao presidente panamenho, José Raúl Mulino. Segundo Rubio, os EUA consideram Pequim uma ameaça ao canal do Panamá e uma violação do acordo sobre a via marítima, segundo relato de um porta-voz do Departamento de Estado sobre a reunião entre Rubio e Mulino no palácio presidencial.
O presidente Donald Trump vem ameaçando tomar o controle do canal do Panamá por considerar que ele está sob “influência chinesa”, mas sem dar detalhes de sua queixa.
O governo panamenho nega estar cedendo a operação do canal à China e insiste que administra a via de forma justa para todos os navios.
Embora o próprio canal seja operado pelo Panamá, os dois portos em cada lado são geridos por uma empresa de Hong Kong, enquanto outros terminais próximos são operados por empresas privadas dos Estados Unidos, Singapura e Taiwan.
Mulino declarou que a soberania do Panamá sobre a via não está em discussão. Em entrevista coletiva, ele disse não ver uma ameaça concreta contra os tratados pelos quais os Estados Unidos entregaram ao seu país o controle do canal.
“Não sinto que haja neste momento qualquer ameaça real contra o tratado, sua vigência e muito menos de uso de força militar para se apoderar do canal, não sinto isso”, afirmou Mulino.
Estratégico, o canal une os oceanos Pacífico e Atlântico, por onde passam 5% do comércio marítimo mundial e 40% dos contêineres dos Estados Unidos.
Rubio chegou na noite de sábado (1º) ao Panamá, em sua viagem inaugural ao exterior como secretário de Estado.
O Panamá é a primeira parada de um giro de seis dias que inclui El Salvador, Costa Rica, Guatemala e República Dominicana. Os principais temas da viagem são o canal, migração, o combate ao crime organizado e a crescente influência da China na região.
No tema da migração, o governo panamenho reagiu de forma mais positiva. Mulino disse que o Panamá poderia repatriar migrantes detidos ao tentar cruzar a selva de Darien, desde que os americanos paguem pelos voos de deportação.
Por lá atravessaram cerca de 300 mil migrantes em 2024, em sua maioria venezuelanos, rumo aos Estados Unidos. Trump, que considera “criminoso” qualquer pessoa a entrar ilegalmente nos Estados Unidos, prometeu um número recorde de deportações.
No final da tarde de domingo (2), o secretário de Estado visitaria as eclusas de Miraflores no canal. Trump não descartou o uso da força militar para reaver a passagem, construída pelos Estados Unidos, inaugurada em 1914 e entregue ao Panamá no fim de 1999 em virtude de tratados bilaterais.
Rubio minimiza a opção militar, mas assegura que Washington não permitirá que a China supostamente controle o canal por meio da empresa de Hong Kong.
Após sua reunião com Mulino, Rubio, que é filho de imigrantes cubanos e fala espanhol fluentemente, visitará também instalações de gás natural liquefeito em Colón.
Na capital panamenha, cerca de 200 pessoas protestaram neste domingo, gritando: “Fora do Panamá, Rubio! A pátria não se vende, a pátria se defende!”. Dezenas de policiais impediram que os manifestantes se aproximassem do centro histórico. “Ao mensageiro imperial (Rubio), reiteramos que Trump não tem absolutamente nada aqui. O Panamá é um país livre e soberano”, declarou à AFP o líder sindical Saúl Méndez, um dos organizadores dos atos.
O secretário de Estado chegou à América Latina propondo uma política externa agressiva. No sábado (1º), Trump desencadeou uma crise diplomática e comercial com as tarifas que impôs à China, ao Canadá e ao México, cujo governo acusou de se aliar aos narcotraficantes. Com Trump, está de volta a política do “grande porrete” do início do século 20, quando os EUA ameaçavam usar força militar para atingir seus objetivos na região.
Em sua primeira semana de governo, Trump pôs em curso um plano de deportações de latino-americanos, algemados e alguns com grilhões, em aviões militares. Diante da recusa da Colômbia de receber os deportados nessas condições, Trump ameaçou impor tarifas, e o presidente colombiano, Gustavo Petro, recuou.
Em El Salvador, Costa Rica, Guatemala e República Dominicana, o secretário de Estado pressionará por cooperação com a política de deportação de migrantes. “Está se construindo o cenário perfeito para que os países latino-americanos tenham cada vez menos margem de manobra para resistir à política migratória de Trump”, disse Sandra Borda, professora de ciência política da Universidade dos Andes.
O enviado especial do Departamento de Estado para a América Latina, Mauricio Claver-Carone, declarou que Rubio poderia discutir em El Salvador —cujo presidente, Nayib Bukele, é aliado de Trump— a possibilidade de receber membros da facção criminosa Tren de Aragua, caso se recusem a ir para a Venezuela.