Filha deixa julgamento chorando na França ao descobrir que pai guardava fotos delas nua

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Caroline sendo amparada pelo irmão, ao lado da mãe — Foto: Christophe SIMON / AFP

O francês Dominique Pélicot, de 71 anos, acusado de drogar a mulher por 10 anos para que estranhos a estuprassem, também tinha fotos da filha, Caroline, nua, em seu computador.

A revelação ocorreu na terça-feira (3), segundo dia de julgamento dele em Avignon, no sul da França, e levou Caroline aos prantos.

Segundo a imprensa, que acompanha o caso, ela abandonou a sala de audiência tremendo e às lágrimas, acompanhada dos dois irmãos, e só retornou 20 minutos depois.

A mãe dela, Gisèle, permaneceu durante todo o relato dos fatos no local. À sua frente, o ex-marido e principal agressor parecia impassível enquanto os crimes eram narrados.

As fotos foram encontradas no computador de Dominique, em uma pasta intitulada “Em volta da minha filha, nua”.

Ao jornal “Le Parisien”, esta semana, Caroline confessou seu medo de que o pai também pudesse ter convidado homens para estuprá-la depois que soube da foto em que aparece com “a calcinha de outra pessoa”:

“Estou convencida de que fui drogada, mas ele nunca vai admitir”.

A divulgação do caso ao público foi uma escolha de Gisèle, de 72 anos. Segundo um de seus advogados, ela renunciou ao seu direito ao anonimato para que “isso nunca mais aconteça” e porque um julgamento a portas fechadas era “o que seus agressores queriam”.

“Ela está completamente determinada a enfrentá-los e ao marido com quem viveu por 50 anos, mas de quem nada sabia”, explicou o defensor Antoine Camus.

Nesta terça, ao serem questionados pelo juiz, 35 réus se declararam inocentes e 14, culpados, inclusive Dominique Pélicot. Um deles está foragido e outro não compareceu ao tribunal.

Gisèle, ao centro, ao lado dos 3 filhos e da nora — Foto: Christophe SIMON / AFP
Gisèle, ao centro, ao lado dos 3 filhos e da nora — Foto: Christophe SIMON / AFP

Idoso e mais 50 homens são julgados por crime

Além do ex-marido, que pode pegar até 20 anos de prisão, mais 50 homens, com idades entre 26 e 74 anos e perfis diversos, respondem pelos crimes que estão sendo julgados; 18 deles estão em prisão preventiva.

A maioria esteve apenas uma vez na casa do réu principal na cidade de Mazan, no sul da França. Dez deles estiveram até seis vezes no local.

O marido da vítima não pedia dinheiro em troca. Os acusados não sofrem patologias psicológicas significativas, embora tenham um sentimento de “onipotência” sobre o corpo feminino, segundo especialistas.

Muitos afirmam que acreditavam estar participando das fantasias do casal. Segundo o marido, “todos sabiam” que sua esposa estava drogada sem o seu consentimento.

Segundo a investigação, “cada um dispunha de seu livre arbítrio” e poderia ter “partido” ao perceber a situação.

Os investigadores identificaram 92 estupros desde 2011, quando o casal vivia na região de Paris, mas principalmente a partir de 2013, ao se mudarem para Mazan, até 2020.

O ex-funcionário da empresa de energia elétrica EDF administrava um ansiolítico forte à esposa e determinava que os homens, contatados no site de encontros coco.fr – já desativado – não a acordassem.

Também os orientava a não usar perfume ou tabaco, aquecer as mãos com água quente e tirar a roupa na cozinha, para evitar que fossem esquecidas no quarto.

Réus sendo orientados por advogada durante audiência — Foto: Christophe SIMON / AFP
Réus sendo orientados por advogada durante audiência — Foto: Christophe SIMON / AFP

“Nenhuma lembrança”

Gisèle P. soube dos estupros aos 68 anos, em 2020, quando seu marido foi flagrado em um shopping filmando clientes por baixo de suas saias.

Os investigadores encontraram em seu computador muitas fotos e vídeos da vítima, visivelmente inconsciente, enquanto dezenas de estranhos a estupravam.

Para a mulher, o processo é “terrível”, afirma Antoine Camus, um dos seus advogados, que também defende seus três filhos e cinco netos.

Ela “vivenciará pela primeira vez, de forma diferida, os estupros que sofreu durante dez anos, já que não tem nenhuma lembrança”, disse Camus à AFP, antes do julgamento.

A vítima prestará depoimento na quinta-feira (5). Já o ex-marido, que se diz pronto “para enfrentar a mulher e a família”, segundo sua advogada Béatrice Zavarro, será interrogado no dia 10 de setembro.

Após sua prisão, a unidade de casos arquivados o identificou em outros dois processos: um homicídio com estupro em Paris em 1991, que ele nega, e uma tentativa de estupro em 1999, que admitiu após a identificação de seu DNA.

Protesto na porta do tribunal — Foto: Christophe SIMON / AFP
Protesto na porta do tribunal — Foto: Christophe SIMON / AFP

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