‘Houve uma quebra de confiança, algo nos foi dito e não cumprido’, diz Amorim sobre eleição na Venezuela
O assessor especial do presidente Lula para Assuntos Externos, o ex-chanceler Celso Amorim, disse na terça-feira (29) em audiência na Câmara que a Venezuela quebrou a confiança do Brasil no processo eleitoral que reelegeu o presidente Nicolás Maduro.
“No caso da Venezuela houve uma quebra de confiança dentro do processo eleitoral, algo nos foi dito e não foi cumprido. Não quero personificar, vamos ver como isso evolui”, afirmou Amorim.
O governo de Lula, ao longo do ano de 2023, buscou reintegrar Maduro à comunidade da América do Sul e o recebeu em Brasília com pompas de aliado. Lula tentou influenciar o processo eleitoral na Venezuela, então marcado para julho de 2024, no sentido de que o pleito fosse transparente e democrático.
Apesar de declarações iniciais de Maduro que agradaram o Palácio do Planalto, na prática, à medida em que a eleição foi se aproximando, o que o mundo viu — e o próprio governo brasileiro também — é que Maduro não se comprometeria com nenhum dos acordos sobre a justiça do pleito.
As autoridades eleitorais venezuelanas e a Justiça do país consideraram Maduro vencedor, mas a legalidade da eleição é contestada por diversos organismos internacionais e as atas eleitorais — boletins de votação — nunca foram apresentadas.
O governo brasileiro ainda não reconheceu Maduro como presidente eleito. E, na semana passada, vetou a entrada da Venezuela no grupo Brics (liderado por Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul).
Maduro, que vem criticando o Brasil, disse que o veto à entrada nos Brics foi uma “agressão inexplicável”
“Lamento o que disse o Maduro. O Brasil achou que nesse momento a Venezuela não contribuiria para o melhor funcionamento dos Brics”, disse o assessor especial de Lula.
“Nesse momento, se olhar as redes eletrônicas, a Venezuela nos acusa injustamente de inimizade a respeito ao Brics. Se o Brasil quer ter influência positiva é preciso manter a interlocução, diminui drasticamente depois das eleições. Investimos muito numa eleição isenta na Venezuela, criou um mal-estar, existe mal-estar hoje”, completou.
Ao longo de toda a audiência, parlamentares de oposição queriam extrair de Amorim uma resposta concreta sobre se ela considera ou não a Venezuela uma ditadura. Maduro está no poder de 2013 e renovou o mandato em eleições consideradas suspeitas.
“Eu não classifico governos. Acho mais importante com relação a Venezuela é manter a interlocução pra melhorar. Temos que ter grandeza, somos um grande país, as vezes temos que aceitar bobagenzinhas para influenciar depois”, argumentou Amorim.