Humanos já degustavam queijo azul e cerveja há 2.700 anos, revela estudo
A paixão do ser humano pelo queijo e pela cerveja vem de longe. Trabalhadores de uma mina de sal na Áustria já produziam queijo azul e cerveja de forma sofisticada há 2.700 anos, segundo um estudo publicado na quarta-feira (13).
Os cientistas fizeram esta descoberta analisando amostras de excrementos humanos encontradas no coração da mina de Hallstatt, nos Alpes austríacos. O estudo foi publicado na edição desta quarta-feira da revista Current Biology.
Frank Maixner, microbiologista do Instituto de Pesquisas Eurac de Bolzano (Itália) e autor principal do estudo, disse ter ficado surpreso em saber que os mineiros de sal de mais de dois milênios atrás eram suficientemente avançados para “utilizar a fermentação de forma intencional”.
“Isso é muito sofisticado na minha opinião”, disse Maixner à AFP. “É algo que não esperava para aquela época”.
A descoberta é a primeira evidência até agora da maturação do queijo na Europa, segundo os pesquisadores.
E embora o consumo de álcool esteja bem documentado em escritos antigos e em provas arqueológicas, as fezes dos mineiros de sal contêm a primeira evidência molecular do consumo de cerveja no continente naquela época.
“Cada vez fica mais claro que não só as práticas culinárias pré-históricas eram sofisticadas, como os complexos alimentos processados, assim como a técnica da fermentação, tiveram um papel de destaque na nossa história alimentar primitiva”, afirmou Kerstin Kowarik, do Museu de História Natural de Viena.
A cidade de Hallstatt, declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco, se dedica à produção de sal há mais de 3.000 anos, segundo Maixner.
A comunidade “é um local muito particular, está situada nos Alpes, no meio do nada”, acrescentou. “Toda a comunidade trabalhava e vivia desta mina”.
Os mineiros passavam todo o dia ali, trabalhando, comendo e fazendo suas necessidades ali mesmo, na mina.
Graças à temperatura constante de cerca de 8ºC e à alta concentração de sal da mina, as fezes dos mineiros permaneceram especialmente bem preservadas.
Os cientistas analisaram quatro amostras: uma que data da Idade do Bronze, duas da Idade do Ferro e uma do século XVIII.
Uma delas, com 2.700 anos de antiguidade, continha dois fungos: o Penicillium roqueforti e o Saccharomyces cerevisiae. Ambos são conhecidos hoje em dia por seu uso na elaboração de alimentos.