Irã anuncia ‘clínica de tratamento’ para mulheres que desafiarem código de vestimenta

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Mulheres iranianas caminham em rua de Teerã, que obriga o uso do hijab (véu) em público - Atta Kenare - 1.jul.2024/AFP

O regime do Irã afirmou que as mulheres que desafiarem os códigos de vestimentas no país serão submetidas a uma “clínica de tratamento de remoção do hijab [véu islâmico]”. O anúncio foi feito por Mehri Talebi Darestani, chefe do departamento de mulheres e famílias, ligada ao órgão de promoção da virtude e prevenção ao vício.

Grupos de direitos humanos e de proteção ao direito das mulheres protestaram contra a intenção anunciada pela pasta e lembraram que ela é subordinada ao líder supremo de Teerã, o aiatolá Ali Khamenei.

Uma jovem iraniana ouvida pelo jornal britânico The Guardian sob condição de anonimato disse que a intenção de Teerã é não fazer uma clínica, mas uma prisão.

“Estamos lutando para sobreviver e enfrentando apagões, mas é um pedaço de tecido que preocupa este Estado. Se há um momento para todos nós voltarmos às ruas, é agora, ou eles prenderão todos”, ela afirmou.

Os iranianos convivem atualmente com apagões de energia programados pelo governo diante de uma crise de fornecimento de gás natural no país.

O anúncio da chamada clínica de tratamento acontece semanas depois da denúncia de prisão de uma estudante universitária que teria se despido em protesto contra o rígido código de vestimenta imposto às mulheres no país.

O caso foi denunciado no dia 2 deste mês pela ONG Anistia Internacional. Ela foi presa de forma violenta na Universidade Islâmica de Azad, em Teerã. Um vídeo compartilhado nas redes sociais a mostra sendo forçada a entrar em um carro por homens à paisana.

As organizações de direitos humanos relacionam os dois casos ao que houve com Mahsa Amini, 22, morta em 2022 após ser presa pela polícia moral do país.

Ela tinha sido detida por supostamente não usar corretamente o hijab, o véu islâmico, e de acordo com a sua família, foi espancada até a morte pelas forças de segurança —o regime afirma que ela morreu devido a um ataque cardíaco.

O episódio mobilizou todo o país, e as manifestações que o sucederam foram consideradas a maior ameaça ao regime dos aiatolás desde a criação da República Islâmica em 1979.

A administração reagiu duramente, e organizações de direitos humanos afirmam que confrontos entre as forças de segurança e manifestantes durante os atos deixaram mais de 500 mortes, sendo 71 delas de menores de idade. Quando a situação arrefeceu, Teerã realizou sete execuções ligadas aos atos.

Um relatório da Anistia Internacional publicado no ano passado ainda afirmou que as autoridades iranianas “têm submetido as famílias das vítimas a prisões e detenções arbitrárias, impondo restrições cruéis às reuniões pacíficas em túmulos e destruindo as lápides das vítimas”.

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