Irmã de brasileira que estava na Ucrânia fala sobre primeira ligação após 26 dias: ‘Eu já sabia que era ela’
A irmã da artesã Silvana Pilipenko, paraibana que estava desaparecida na Ucrânia, falou nesta quarta-feira (30) sobre o primeiro contato que teve com Silvana após 26 dias, depois que ela, o marido e a sogra chegaram à Crimeia, região anexada à Rússia em 2014. “Quando o telefone tocou, eu já sabia que era ela. O telefone quase caia, eu botei para tremer, para chorar, e ela chorava também”, disse Mere Vicente, que mora em João Pessoa, em entrevista à CBN Paraíba.
Silvana foi localizada pelo filho dela, Gabriel Pilipenko, no apartamento onde ela mora, na cidade de Mariupol, na terça-feira (29). Ele ligou rapidamente para a família, no Brasil, e informou que todos estavam indo para a casa de familiares do pai dele, Vasyl Pilipenko, na Crimeia.
“Eu não sei a data exata [que eles chegaram na Crimeia] por causa da diferença de horário, mas eles chegaram lá de 4h [Horário da Ucrânia]. Ela conseguiu tirar o celular de lá e botou para carregar na Crimeia, quando ela ligou para mim era meia noite aqui”, disse Mere.
Por telefone, Silvana conseguiu falar com a irmã, com a sobrinha, Beatriz Vicente, e também com a mãe, Antônia Vicente.
“Mamãe está bem, disse a Silvana que não era mais hora de chorar, e só de agradecer a Deus. Mamãe está bem mais forte que a gente”, contou a irmã da paraibana.
Volta ao Brasil
Segundo Mere, Silvana deve voltar para o Brasil em cerca de uma semana. “Só vai voltar ela, porque a sogra não quer vir, não aguenta a viagem, e Vasyl vai ficar cuidando da mãe”, explicou.
O filho da paraibana contou que o Itamaraty está ajudando em todo o processo. Procurado pelo g1, o Itamaraty informou através de sua assessoria de imprensa que está em contato com a brasileira e com seus familiares diretos, por meio do escritório de apoio em Lviv. Disse ainda que a Embaixada do Brasil em Moscou realizou gestões junto ao governo russo para que a brasileira e seus acompanhantes ucranianos tenham saída facilitada da zona de conflito.
Além disso, o Itamaraty afirma que já está ultimando os preparativos para a eventual repatriação ao Brasil.
“Os pormenores de tal operação serão decididos proximamente em conjunto com a cidadã e sua família”, informa.
“É como se a ficha ainda não tivesse caído […] Eu estou falando com ela, mas eu tenho que ver, pegar nela, abraçar, para acreditar, completa Mere.
Entenda a situação da Crimeia
A Crimeia, localizada no sul ucraniano, foi anexada pela Rússia em 2014. No local fica a maior base naval do país no Mar Negro.
A invasão da Rússia na Crimeia foi feita aos poucos. Quando o ex-presidente da Ucrânia, o líder pró-russo Viktor Yanukovych, foi deposto após uma série de protestos, o povo ucraniano estava dividido entre aqueles que queriam uma maior integração com a Rússia e aqueles que apoiavam uma aliança com a União Europeia. E Moscou decidiu intervir.
Guerra na Ucrânia completa 1 mês; veja o estágio da invasão (veja vídeo clicando aqui)
Em fevereiro de 2014, o presidente russo estava enviando discretamente tropas adicionais para as bases que a Rússia tinha na Crimeia, graças ao Tratado de Partição de 1997.
O primeiro sinal de que a Crimeia estava sendo retirada da Ucrânia aconteceu quando a Rússia montou postos de controle em Armyansk e Chongar, os dois principais cruzamentos rodoviários entre a Ucrânia continental e a península da Crimeia.
Após a queda de Yanukovych, o Parlamento da Crimeia elegeu um primeiro-ministro pró-Rússia e votou pela separação da Ucrânia.
Em 18 de março, dois dias após a publicação dos resultados, Putin oficializou a invasão ao assinar um projeto de lei incorporando a Crimeia à Federação Russa
Entenda o caso
Silvana Pilipenko, de 54 anos, havia falado pela última vez com a família no dia 3 de março, quando disse que a cidade estava começando a ser atacada e sofria com quedas de energia. No dia anterior, um vídeo com notícias foi enviado à família (veja abaixo).
No vídeo, a paraibana disse que a cidade de Mariupol estava cercada e, por isso, não havia como sair de lá.
“A cidade está cercada pelas forças armadas, todas as saídas estão minadas, então é impossível tentar sair daqui nesse momento. Basicamente Mariupol faz fronteira com o país atacante, então não podemos seguir nessa direção. Se fôssemos para outra direção, no sentido Polônia ou Hungria, teríamos que atravessar todo território, o que não seria viável diante das circunstâncias e da distância”, explicou.
Ela também alertou que a comunicação poderia ser dificultada pela falta de energia elétrica.