Irmão de homem morto no Galo da Madrugada diz que PMs liberaram criminoso após ‘carteirada’ e ‘jogaram’ vítima no porta-malas de viatura

João Amancio fantasiado para brincar o Galo da Madrugada — Foto: Reprodução/WhatsApp
O irmão do homem de 32 anos que foi morto durante a dispersão do Galo da Madrugada no sábado (1º) afirmou que o autor do disparo foi liberado pela Polícia Militar após dar uma “carteirada”, se identificando como policial.
Segundo ele, o atirador chegou a ser abordado por agentes, mas, ao se apresentar como policial, foi imediatamente liberado. Enquanto isso, a vítima, de acordo com o irmão, foi colocada no porta-malas de uma viatura e levada ao hospital. José Amancio Filho era caldeireiro, casado e pai de uma criança de 4 anos e de um adolescente de 12 anos.
De acordo com o irmão da vítima, o crime aconteceu na Avenida Sul, próximo ao túnel de acesso ao bairro do Cabanga, na região central de Recife (PE).
Ele caminhava com um colega; em sua frente estava um casal de amigos e atrás, João Amancio com sua esposa. O grupo voltava para o Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, onde mora.
O desentendimento aconteceu após um dos amigos que estava no grupo esbarrar em uma mulher desconhecida. Segundo o irmão, a mulher reagiu irritada e, quando João tentou intervir na situação, o companheiro da mulher disparou imediatamente, acertando o tórax da vítima e outro amigo no queixo.
“Meu irmão vinha atrás e só perguntou: ‘Por que isso aí? Tem necessidade disso aí não’. Aí o cara foi e atirou. Ele já estava com a arma em punho, não estava nem a cintura dele. Ele só fez apontar para meu irmão e atirar. Só isso, mais nada”, contou.
Após o disparo, o homem e a mulher seguiram caminhando e foram abordados por quatro policiais militares, segundo a testemunha. A dupla teria sido liberada após o homem mostrar a carteira para os agentes.
“Ele ‘deu a carteirada’ e os policiais liberaram ele. Eu vi quando ele mostrou alguma coisa e os policiais liberaram. Enquanto isso, a gente estava gritando, um monte de gente gritando no túnel dizendo que foi ele que tinha atirado e os policiais liberaram. Eu continuei gritando e os policiais disseram: ‘Vamos socorrer teu irmão, depois a gente vê isso’”, afirmou.
Apesar dos policiais terem argumentado que a prioridade era o atendimento da vítima, para o irmão de João Amancio, os agentes tentaram defender o atirador. Segundo ele, o irmão foi encaminhado ao hospital no porta-malas, possivelmente já morto. E ele foi derrubado no chão quando contestou a conduta dos policiais.
“Jogaram meu irmão dentro da mala do carro. Eu queria ir junto. Não deixaram e eu continuei gritando que tinham sido eles que tinham liberado o cara. Eles me deram uma queda, eu caí e bati a cabeça no chão. […] Não sou nenhum médico legista, mas acredito eu que meu irmão já estava sem vida”, disse.
O irmão de João Amancio contou que pegou um mototáxi para chegar ao hospital o mais rápido possível. Lá, ele teria confrontado novamente um dos agentes que liberou o atirador e o que o derrubou no chão.
“Quando eu cheguei, vi um dos policiais que me deu a queda e liberou o meliante. Eu disse: ‘Você liberou o cara que matou meu irmão. Você liberou o cara, o cara é polícia igual a você. Liberou o cara só porque o cara é polícia’. Aí ele saiu de dentro do hospital, não falou nada”, afirmou.
O que dizem as polícias
O portal procurou a Polícia Militar e a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco e fez as seguintes perguntas:
- Por que o homem foi liberado pela PM mesmo após um flagrante de homicídio?
- Por que João Amancio foi encaminhado ao hospital no porta-malas?
- Se ele já estava morto, como suspeita o irmão, por que foi retirado da cena do crime?
- O atirador foi identificado ou se apresentou à polícia?
- O homem se identificou como policial?
- O que a Polícia Militar tem a dizer sobre a agressão ao irmão da vítima e sobre a conduta dos quatro policiais militares que liberaram o atirador?
Até a última atualização desta reportagem, nem a PM, nem a SDS responderam.
Também procurada, a Polícia Civil disse que:
- A Polícia Militar foi acionada para uma ocorrência com vítima por disparo de arma de fogo após o encerramento dos trios;
- A vítima foi atingida na região do tórax e socorrida por policiais militares para o Hospital da Restauração, no bairro do Derby, área central do Recife, mas não resistiu aos ferimentos;.
- O caso está sendo investigada pela 1° Delegacia de Homicídios;
- Um inquérito policial foi instaurado e as diligências seguem em andamento.
Confusão em prévia
No domingo anterior, 29 pessoas foram parar na delegacia após brigas generalizadas durante o desfile das Virgens do Bairro Novo, tradicional bloco carnavalesco de Olinda.
A confusão aconteceu num dos corredores de acesso à prévia carnavalesca. Duas pessoas feridas nos confrontos foram hospitalizadas por causa da gravidade dos ferimentos.
De acordo com a Polícia Militar (PM), cerca de 150 pessoas participaram das brigas e três menores de idade foram detidos entre o grupo levado para a delegacia. Não foi divulgado para qual hospital as duas vítimas foram levadas nem o estado de saúde delas.