Lula diz que decisão do Copom foi ‘uma pena’, critica autonomia do BC e chama Campos Neto de ‘esse rapaz’

0

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu jornalistas para café da manhã no Palácio do Planalto na terça (23) - Gabriela Biló /Folhapress

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse na quinta-feira (20) que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central foi “uma pena” e chamou o presidente da entidade, Roberto Campos Neto, de “esse rapaz”.

A declaração foi dada à rádio Verdinha de Fortaleza, no Ceará. Essa é a segunda entrevista seguida do presidente, nesta semana, em que ele critica o BC e a postura de Campos Neto (leia mais abaixo).

Mesmo diante da pressão do presidente, em reunião na quarta (19), o Copom decidiu manter a taxa Selic em 10,50% ao ano — interrompendo o ciclo de cortes. A decisão foi unânime.

Ele voltou a questionar a mudança na lei feita no governo de Jair Bolsonaro (2019-2022) que tornou o BC autônomo em relação ao governo federal.

“O presidente da República nunca se mete nas decisões do Copom, do Banco Central. O [Henrique] Meirelles [ex-presidente do BC] tinha autonomia comigo, tanto quanto tem esse rapaz [Campos Neto] tem hoje. Só que o Meirelles era uma pessoa, era um cara que eu tinha o poder de tirar, como Fernando Henrique Cardoso tirou tantos, como outros presidentes tiraram tantos”, argumentou Lula.

Aí resolveram entender que era importante colocar alguém sabe que tivesse um banco central independente, que tivesse autonomia. Autonomia de quem? Autonomia de quem? Autonomia para servir quem? Autonomia para atender quem?, completou.

Para ele, o Brasil está perdendo com a manutenção da taxa de juros. Após a fala do presidente, a cotação do dólar chegou ao maior valor deste governo.

“Foi uma pena, foi uma pena que manteve [a Selic], porque, quem está perdendo com isso? É o Brasil, é o povo brasileiro. Porque quanto mais a gente paga de juro, menos dinheiro a gente tem para investir aqui dentro, e isso tem que ser tratado como gasto. Mas eu não vejo o mercado falar, sabe, dos moradores de rua. Eu não vejo o mercado falar do catador de papel. Eu não vejo o mercado falar do desempregado. Eu não vejo o mercado falar das pessoas que necessitam do Estado”, declarou Lula.

Mais críticas a Campos Neto nesta semana

Na terça (18) — antes da reunião do BC resultou na manutenção da taxa Selic em 10,50% — Lula concedeu uma entrevista à rádio CBN, em que argumentou que a taxa de juros estava desajustada e que o presidente do BC não demonstrava autonomia.

Na ocasião, ele afirmou: “Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante: é o comportamento do Banco Central.”

“Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, completou o presidente.

A decisão do BC foi unânime. Os quatro indicados por Lula no BC também votaram pela interrupção da queda dos juros.

Eleições municipais

Durante a entrevista à rádio Verdinha do Ceará, Lula afirmou que pretende fazer campanha para candidatos na eleição municipal deste ano nos locais com adversário “negacionista”, mas “com muito cuidado” para não ser surpreendido e prejudicar a base de apoio do governo no Congresso.

“Eu tenho que levar em conta se nas cidades esses partidos que me apoiam estão disputando, eu tenho que levar em conta quem são os adversários. E, aí, naquele que o adversário for adversário ideológico, adversário negacionista, você pode ter certeza que eu vou fazer campanha”, declarou.

Sem citar o nome de Jair Bolsonaro (PL), Lula também voltou a afirmar que, em 2026, poderá disputar a reeleição para evitar a vitória de um candidato que ele considera negacionista, alinhado ao ex-presidente.

Segurança pública

Lula afirmou na entrevista que o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, trabalha na proposta de uma série de ações na área de segurança pública. O presidente pretende discutir o tema com ministros e governadores antes de definir anúncios.

Lula reconheceu que a segurança pública é uma das áreas de preocupação no país e citou o avanço do crime organizado e a política de Bolsonaro que facilitou o acesso às armas.

“Caso mais recente a liberação de armas, quem comprou arma não é pessoa honesta e decente, que quer trabalhar, não. Muitas organizações criminosas compraram armas à vontade porque todo mundo poderia comprar”, disse.

Greve das federais

Lula também destacou os investimento do governo em universidades e mencionou a greve, que já dura três meses.

“Se tem um assunto que gosto de discutir é greve porque eu nasci na greve. Acho que todo e qualquer movimento de trabalhadores tem o direito de fazer greve, de reivindicar. O que as pessoas não podem esquecer é o que já foi feito, o que foi oferecido”, disse Lula.

As paralisações nas universidades federais começaram em março, pelos técnicos administrativos. Em abril, os professores também pararam. Professores e técnicos cobram reestruturação de carreira, recomposição de salários e do orçamento da educação.

“Oferecemos em média entre 28% e 43% de reposição das pessoas. Fizemos muitos benefícios. Apresentamos um pacote e demos 9% antecipado ano passado. Eu, às vezes, fico triste porque ninguém agradeceu pelos 9% e estão fazendo uma greve dizendo que é por 4,5%, que nós não demos nada esse ano. Se a gente não deu porque a gente não pode dar, isso não significa que a gente não possa nos anos seguintes dar mais do que os 4,5%”, prosseguiu o presidente.

Lula reafirmou que há espaço para conversa e negociação no governo.

About Author

Deixe um comentário...