Mãe diz que ‘nenhum órgão de saúde acompanhou’ os filhos vacinados contra Covid-19 com doses para adultos, vídeo

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Frascos da vacina da Pfizer em versão pediátrica (laranja) e a partir dos 12 anos (roxa) — Foto: Tobias Schwarz/AFP

A mãe de duas das cerca de 48 crianças vacinadas contra a Covid-19, com doses da Pfizer para adultos, em Lucena, na Região Metropolitana de João Pessoa, disse em depoimento ao Ministério Público Federal (veja detalhes mais abaixo), nesta segunda-feira (17), “que nenhum órgão de saúde acompanhou as crianças após a vacinação indevida” e “que depois que teve conhecimento da vacinação errada, não teve apoio da técnica que aplicou, nem do prefeito, nem da secretaria de saúde”.

A mãe disse, ainda, que o filho mais velho começou a apresentar tontura e fraqueza no seguinte à vacinação. Mas que preferiu não levar as crianças até a Unidade Básica de Saúde (UBS) onde elas foram vacinadas porque perdeu a confiança na equipe de saúde após a vacinação incorreta. Foram vacinados os filhos de 5 e 7 anos da mulher.

Depoimento de mãe que teve dois filhos vacinados contra a Covid-19 com doses para adultos na PB — Foto: MPF-PB/Divulgação
Depoimento de mãe que teve dois filhos vacinados contra a Covid-19 com doses para adultos na PB — Foto: MPF-PB/Divulgação

Ainda ao MPF, a mulher contou que foi informada que as doses estavam disponíveis para as crianças por meio da mensagem que uma agente de saúde no município enviou em um grupo usado para comunicação com a comunidade.

Por outro lado, o prefeito de Lucena, Léo Bezerra, disse em entrevista coletiva para a imprensa, na tarde desta segunda (17), que todas as crianças vacinadas de forma incorreta estão sendo monitoradas diariamente.

Conforme o prefeito, o acompanhamento está sendo feito por médicos e enfermeiros que vão até as casas de quem foi vacinado. Dessa forma, qualquer anormalidade apresentada pelas crianças será notificada para que o município decida qual procedimento médico adotar.

O caso veio à tona após outras mães das crianças denunciarem, no sábado (15), que seus filhos haviam sido vacinados antes do início da campanha oficial, com doses destinadas para adultos (veja vídeo clicando aqui).

Pelo menos 48 crianças foram vacinadas indevidamente. A técnica de enfermagem que aplicou os imunizantes disse que foi a chefe de imunização da prefeitura da cidade quem determinou que todas as pessoas que estivessem na unidade de saúde deveriam ser vacinadas, “pois a validade das vacinas da Pfizer estavam para vencer”.

Além de inadequadas para a idade, a Secretaria de Estado da Saúde também investiga se as vacinas já estavam vencidas.

O que disse a mãe

  • No depoimento, a mãe disse que dois filhos, de 5 e 7 anos, foram vacinados contra a Covid-19 no dia 7 de janeiro de 2022;
  • A mulher disse que viu na televisão que a vacinação havia sido liberada e que, dias depois, viu em um grupo de mensagens da comunidade em que mora que os imunizantes haviam chegado e estavam disponíveis. Uma agente de saúde teria feito o comunicado;
  • A mãe disse também que adultos tomaram a vacina no mesmo dia, sendo que segundas doses e doses de reforço. Os imunizantes foram os mesmos, de acordo com ela;
  • Depois que teve conhecimento da vacinação errada, a mulher contou que não recebeu assistência da técnica que aplicou [a vacina], do prefeito e da Secretaria de Saúde. Ainda conforme o depoimento, nenhum órgão de saúde acompanhou as crianças;
  • A mãe disse também que o filho mais velho ficou tonto e teve fraqueza durante dois dias. Essas reações começaram no dia seguinte da vacinação;
  • As crianças não foram levadas até a UBS porque a mãe disse que perdeu a confiança no local após a vacinação indevida, que só tomou conhecimento após assistir sobre o caso em um telejornal.

Como foi a aplicação

No dia da aplicação, conforme a técnica de enfermagem, várias pessoas teriam aparecido no local, incluindo crianças e adolescentes, que receberam as mesmas doses dos adultos, de vacinas da Pfizer do lote FN3457.

Em relação à ordem de vacinar todas as pessoas, a técnica reiterou que chegou a mandar uma mensagem de texto para a chefe de imunização do município perguntando se era para vacinar todas as pessoas e que recebeu “sim” como resposta.

Ela disse ainda que, depois da troca de mensagens, recebeu uma ligação da chefe, que disse que era a ordem era vacinar porque as doses iriam vencer.

O g1 não teve acesso às mensagens trocadas entre a técnica e a chefe de imunização, apenas ao que a profissional informou ao MPF, em depoimento.

Ela disse ainda ao MPF que não sabia que crianças não podiam ser vacinadas com as mesmas doses que os adultos. Ela afirmou também que não sabia da existência de vacinas pediátricas em Lucena.

Técnica disse que aplicou doses de adulto em crianças, com ordens da secretaria de saúde de Lucena — Foto: Reprodução
Técnica disse que aplicou doses de adulto em crianças, com ordens da secretaria de saúde de Lucena — Foto: Reprodução

Segundo Geraldo Medeiros, houve quatro treinamentos para aplicação de doses pediátricas, mas a equipe de Lucena não participou do treinamento (veja vídeo clicando aqui).

O que diz o MPF

Nesta segunda, o MPF informou que já existe um procedimento aberto para acompanhar o caso. A assessoria de imprensa do órgão disse que ainda é prematuro afirmar algo no sentido de responsabilidade sobre o caso, pois as pessoas ainda estão sendo ouvidas. O MPF vai apurar não só no âmbito individual da pessoa que aplicou as vacinas, mas também do agente público, do município.

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