Ministério da Fazenda vê desafios ampliados para Brasil com vitória de Trump, diz agência; entenda
A eleição do republicano Donald Trump para retornar à presidência dos Estados Unidos a partir de 2025 indica um cenário econômico mais difícil para o Brasil, que deverá lidar com ampliação de medidas protecionistas, pressões inflacionárias mais fortes e níveis mais altos de juros no mundo, avaliaram três autoridades do Ministério da Fazenda.
Em meio a reação de aliados políticos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra medidas de ajuste fiscal, especialmente diante desse novo cenário, uma das fontes ponderou que o governo precisará enfrentar reformas estruturais com ainda mais afinco para evitar que o ambiente desafiador para o Brasil após a eleição de Trump fique ainda pior.
Para uma das fontes ouvidas, caso o governo não realize os ajustes, o dólar vai permanecer em torno dos R$ 6, a inflação deve subir para 5% e os juros vão ultrapassar 13%.
Pela manhã de quarta-feira (6), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o dia “amanheceu mais tenso” nos mercados em função do que foi dito na campanha pela presidência dos Estados Unidos, mas ele destacou que o discurso feito por Trump na madrugada desta quarta-feira mostram um tom mais moderado.
“Temos que aguardar um pouquinho e cuidar da nossa casa”, avaliou o ministro, que minimizou um impacto político no Brasil. “É difícil dizer isso, porque você não tem um casamento de eleições, entre o Brasil e os Estados Unidos não se dá assim, não tem um automatismo. Existe um fenômeno de extrema-direita no mundo crescente. Mas isso não é de agora, né?”.
Na manhã da quarta-feira (6), a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, afirmou que a eleição de Trump demanda um fortalecimento da democracia no Brasil. “Mas principalmente respostas concretas às necessidades e expectativas do povo, que não cabem na receita neoliberal que o mercado quer impor”, destacou.
Na terça-feira (5), ela havia se posicionado contra medidas de ajuste em Saúde, Educação, seguro-desemprego, benefícios assistenciais e aposentadorias.
IMPACTOS
Trump venceu a democrata Kamala Harris nas eleições de terça-feira (5) após propor durante a campanha iniciativas que incluem aumento de tarifas de importação, maiores restrições a produtos chineses e corte de impostos para empresas e cidadãos norte-americanos.
Avaliação apresentada nas últimas semanas pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mostra que as promessas de campanha feitas por Trump tendem a gerar déficits fiscais maiores do que em um governo Kamala Harri. O conjunto de medidas, para ele, se traduzirá em maior pressão inflacionária nos EUA.
Um cenário de inflação mais alta tende a dificultar o trabalho do banco central dos EUA, exigindo doses maiores de juros, o que gera como efeito uma ampliação do fluxo de recursos para o país norte-americano e fortalecimento do dólar. Um movimento desse tipo reprime investimentos e eleva custos em economias emergentes.
APOIO A TRUMP NO CONGRESSO
Outra autoridade da Fazenda destacou que a possível ampliação de força dos republicanos na Câmara e a conquista do controle do Senado pelo partido indica que Trump terá condições de realmente emplacar sua agenda de campanha.
A fonte disse que a expectativa é que o futuro presidente dos EUA consiga emplacar as suas propostas em vários temas ao longo do mandato, sendo que o efeito terá impacto no comércio global em virtude da política protecionista defendida por Trump.
Para uma terceira fonte da Fazenda, uma nova rodada protecionista nos EUA naturalmente seria replicada por outros países, gerando maior inflação global. Ela avaliou, no entanto, que o mundo deve se acomodar à nova realidade sem grandes choques, apesar de não ser o cenário ideal para os países emergentes no curto prazo.
Uma quarta fonte, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), também demonstrou preocupação com as políticas de protecionismo, considerando que o cenário atual já é de maior fragmentação entre os países com o acirramento do conflito entre EUA e China.
Com Bernardo Caram, da Reuters