Comportamento pesou contra Vinicius Junior na Bola de Ouro, indicam votos

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Vinicius Jr. Foto: Angel Martinez/Getty Images

Votos já divulgados pelos jornalistas do colégio eleitoral da Bola de Ouro, prêmio dado ao melhor jogador do mundo na temporada, indicam que o segundo lugar de Vinicius Junior deveu-se em parte, como se suspeitava, à sua atitude dentro de campo.

Mesmo sem menção direta à revolta do brasileiro do Real Madrid contra o racismo no futebol, declarações de alguns dos cem eleitores sugerem que um dos critérios estabelecidos pela organizadora da premiação, a revista France Football, “classe e fair play”, pesou contra ele e a favor do vencedor, Rodri, do Manchester City, clube inglês.

Alguns dos jornalistas deixaram claro que se sentem desagradados com o comportamento de Vinicius Junior.

“Com Vinicius há um porém, em relação ao critério do fair play. Ele é vingativo e provocador demais”, opinou o jornalista camaronês Gustave Samnick, da revista Notre Afrik. “Vinicius ainda precisa amadurecer sua personalidade”, disse o alemão Karlheinz Wild, da revista Kicker.

À visibilidade do brasileiro contrapõe-se a suposta discrição do espanhol. Os três critérios que a revista pede para serem levados em conta são:

  1. Desempenhos individuais e caráter decisivo e impressionante;
  2. Desempenhos coletivos e títulos;
  3. Classe e ‘fair play’

“No futebol de hoje é muito difícil achar jogadores que não estejam nas redes sociais, que se formaram na faculdade, que tenham uma grande dose de humildade e moderação”, declarou o eleitor polonês Maciej Iwański, da emissora TVP Sport. Rodri não tem conta oficial no Instagram, por exemplo.

A íntegra dos votos deve ser revelada apenas no próximo dia 9 pela France Football. O jornal Folha identificou, porém, 22 votos divulgados parcial ou integralmente. “Lembramos expressamente a todos os jurados que eles não devem divulgar o detalhamento antes da publicação da revista”, disse à reportagem o redator-chefe adjunto, Emmanuel Bojan.

O representante espanhol no corpo de jurados, Alfredo Relaño, consagrado jornalista do diário esportivo As, de Madri, votou em Vinicius à frente de Rodri, mas reconheceu que o brasileiro pode ter sido prejudicado pelo comportamento. “Vinicius é um pouco revoltado”, escreveu. “Critica os árbitros, se mete em confusões que o distraem. Entendo que isso é um déficit [em relação às normas do prêmio].”

“Respeito a decisão final, mas confesso que fiquei surpreso com a vitória do Rodri”, disse ao jornal Folha o eleitor cabo-verdiano, Simão Rodrigues, da agência de notícias Inforpress. “Votei em Vinicius Junior porque merecia tal distinção.”

O colombiano Pache Andrade, da rádio Minuto de Dios, que declarou voto em Vinicius, foi um dos poucos a insinuar o peso da questão racial na eleição. Com uma frase racista. Ele afirmou na rede X, em espanhol, que “para mi caso el primer lugar fue un ‘negrito'” (algo como “no meu caso o primeiro colocado foi um negrinho”). Ele colocou em segundo e terceiro lugares os espanhóis Dani Carvajal, companheiro do brasileiro no Real Madrid, e Lamine Yamal, do Barcelona.

Outros jornalistas justificaram o espanhol do Manchester City à frente do brasileiro do Real Madrid com base nos torneios de seleções. O espanhol conquistou a Eurocopa, disputada na Alemanha, enquanto o brasileiro foi eliminado com a seleção nas quartas da Copa América, nos EUA.

“Deixei Vinícius e Bellingham de fora porque fizeram péssimos torneios continentais”, disse o chileno Danilo Díaz, da rádio ADN. E justificou, minucioso: “Vinícius perdeu 17 bolas contra a Costa Rica e acho que 13 ou 14 diante do Paraguai.”

Se todos os 22 votos tornados públicos foram, de fato, os apresentados à revista, o primeiro colocado na votação desse estrato foi a seguinte:

  • 12 votaram em Rodri: Alemanha, Camarões, Chile, China, Croácia, Itália, Noruega, Polônia, Portugal, República Tcheca, Ucrânia e Venezuela
  • 7 em Vinicius Junior: Brasil, Cabo Verde, Colômbia, Espanha, Guiné Equatorial, Marrocos e México
  • 2 em Jude Bellingham: Escócia e El Salvador
  • 1 em Toni Kroos: Equador

Nessa amostragem, chama a atenção a predominância de votos europeus em Rodri.

Cada jornalista tinha que votar em dez nomes, por ordem de preferência, a partir de uma lista de 30 pré-selecionados pela revista. Para cada voto, o primeiro colocado recebia 15 pontos, e os demais, pela ordem, 12, 10, 8, 7, 5, 4, 3, 2 e 1.

Foi a primeira vez que a revista adotou esse sistema. Antes, cada jurado votava em apenas cinco nomes. Além disso, o detalhamento dos votos era revelado na France Football no dia seguinte à entrega do prêmio.

Desta vez, decidiu-se segurar a informação por uma semana, pois os prazos de impressão da revista exigiam realizar as entrevistas e reportagens com grande antecedência, provocando o vazamento do nome do vencedor e tirando parte da graça do evento.

O resultado, porém, foi o que se viu na última segunda-feira (28): a notícia do triunfo de Rodri vazou do mesmo jeito, e, indignado, o Real Madrid decidiu boicotar a cerimônia.

A escolha dos eleitores também tem uma forte dose de subjetividade. Alguns são nomes consagrados da televisão em seus países, como o narrador Cléber Machado, do Brasil. Outros são historiadores do futebol.

O método de escolha pode ser prosaico. Cléber Machado contou em uma entrevista que a France Football chegou a seu nome porque o correspondente da revista em São Paulo jogava bola com ele e outros cronistas esportivos.

Vota na premiação um jornalista de cada um dos cem primeiros países do ranking de seleções da Fifa. Alguns votos geram polêmica. O eleitor argentino do ano passado, o ex-jogador Quique Wolff, foi excluído neste ano por ter indicado quatro argentinos nas quatro primeiras posições em 2023.

Ser eleitor da Bola de Ouro é um sinal de prestígio no meio. Muitos incluem essa distinção na descrição do perfil nas redes sociais. Para o site Pulse, da Costa do Marfim, a inclusão do jornalista Adamah Khalil “nesse círculo fechado de votantes representa uma grande honra para o país”.

No dia seguinte à polêmica entrega da Bola de Ouro, os cem jornalistas votantes receberam um e-mail da revista France Football:

“Caros jurados, informamos que seu voto será publicado com exclusividade na France Football em 9 de novembro. Para manter essa exclusividade, pedimos que não compartilhem seu voto nas redes sociais nem em nenhum meio de comunicação antes da publicação oficial. Obrigado por sua compreensão e cooperação.”

 

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