Netanyahu sacramenta o sexto mandato em sociedade com fundamentalistas religiosos

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Benjamin Netanyahu — Foto: Amir Cohen/REUTERS

Por Sandra Cohen

Não há o que celebrar no novo governo que toma posse nesta quinta-feira em Israel, formado pela coalizão mais alinhada à extrema direita desde a fundação do país, em 1948. Após um intervalo de 18 meses, o premiê Benjamin Netanyahu marca o retorno ao poder para um sexto mandato, sob a égide de seus sócios fundamentalistas – dois partidos ultra ortodoxos e três de extrema direita.

Isso significa abrir mão definitivamente de valores seculares que nortearam Israel, reduzir os direitos das minorias, expandir os assentamentos, anexar territórios e enterrar a possibilidade de um Estado palestino. Essa combinação forma, como definiu o jornal “Haaretz”, a coalizão de extrema direita mais racista, homofóbica e teocrática de sua História. Faz também o direitista Netanyahu parecer um moderado.

O governo tem 64 das 120 cadeiras do Knesset (Parlamento) e, coerente com sua formação ultra religiosa, apenas 5 mulheres entre os 30 ministros. Como observou o colunista Uri Misgav, para chegar a essa composição, “a mais terrível de todos os tempos”, Netanyahu abandonou o melhor dos valores dos quais se gabava: contenção militar, eficiência econômica administrativa e tolerância LGBTQ.

O premiê inseriu figuras incendiárias em seu governo. Condenado em 2007 por apoiar um grupo de extrema direita ilegal e incitação ao racismo, Itamar Ben-Gvir, do Poder Judaico, será o ministro que comandará a polícia e a segurança nacional, que anteriormente o prendeu.

Aliados de Benjamin Netanyahu aparecem sentados em bancada do Parlamento israelense — Foto: Amir Cohen/REUTERS
Aliados de Benjamin Netanyahu aparecem sentados em bancada do Parlamento israelense — Foto: Amir Cohen/REUTERS

Chefe do partido Noam, de extrema direita homofóbico e anti-árabe, Avi Maoz assumirá um cargo recém-criado para cuidar da “identidade judaica nacional”. Em outras palavras, estará sob seu domínio o conteúdo curricular das escolas israelenses. Maoz manifestou desejo de cancelar a parada anual do orgulho gay e professa apoio à terapia de conversão de homossexuais.

Condenado e preso por crimes fiscais, Aryeh Deri, líder do partido ultraortodoxo Shas, será ministro das Finanças, graças a uma mudança na legislação. Ele alternará o cargo com Bezalel Smotrich, do Partido Sionismo Religioso, um ideólogo de extrema direita e defensor de alinhar o sistema judicial israelense ao das leis da Torá. Em 2005, foi preso por três semanas por suposta conspiração terrorista.

Integrante do movimento dos colonos, Smotrich terá autoridade também sobre uma agência vinculada ao Ministério da Defesa que trata da expansão de assentamentos judaicos na Cisjordânia. Como ministro independente, supervisionará uma área que abriga 500 mil colonos e 300 mil palestinos.

Civis seguram bandeiras de Israel durante protesto nas ruas de Jerusalem — Foto: Ammar Awad/REUTERS
Civis seguram bandeiras de Israel durante protesto nas ruas de Jerusalem — Foto: Ammar Awad/REUTERS

Pesquisas de opinião dão conta de que 60% dos israelenses temem pelo futuro da democracia israelense com esta coalizão de falcões à frente do poder. O prestigiado escritor David Grossman alertou, em artigo, que o caos criado por Netanyahu tem a extensão de uma catástrofe, com leis que legitimam a discriminação e a possível criação de uma milícia privada nos territórios palestinos.

A desordem, observou ele, parece ser um caminho sem volta: “Tudo o que aconteceu em Israel desde a eleição é ostensivamente legal e democrático. Mas sob seu disfarce – como aconteceu mais de uma vez na História – as sementes do caos foram semeadas nas instituições mais vitais de Israel.”

A ambição desmedida do premiê fez com que se embrenhasse em um terreno que ele próprio abomina, mas o único possível, para num sexto mandato, tentar se livrar de condenações em três processos por corrupção. Seu juramento nesta quinta-feira no Knesset soou um tanto quanto errático para um político experiente que acaba de tomar posse pela sexta vez. “Este não é o fim da democracia ou o fim do país.”

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