‘Nós amamos o Brasil’, diz porta-voz de Putin sobre diálogo com Lula
O diplomata Dmitri Peskov, porta-voz do presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que os debates entre o mandatário de seu país e Lula (PT) em torno da construção de um mundo multipolar pode fazer com que, no futuro, uma nova entrevista dele à coluna tenha 50 minutos sobre as relações russo-brasileiras, “e apenas dez minutos sobre o presidente Donald Trump”.
Dmitri Peskov, 57, que é diplomata e desde 2008 a voz de Putin para seu próprio país e o mundo, recebeu o jornal Folha na semana passada em seu gabinete em Moscou.
Na segunda parte da conversa, que durou 1 hora e 15 minutos, ele fala sobre as pretensões do Brasil na cena mundial e a divergência sobre a entrada da Venezuela no Brics, grupo formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e agora integrado por um total de dez membros plenos.
O presidente Lula tem ambições grandes sobre o peso do Brasil no mundo. Mas o país não tem poder militar, nem econômico para interferir em conflitos. Ele pode, mesmo assim, ter um papel importante e ser um mediador da paz?
O presidente Putin já falou várias vezes que nós saudamos os esforços de todos os países para a paz. E saudamos também a disposição do presidente Lula.
A Rússia apoia a entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU? Há lugar de fato para o Brasil nesse mundo multipolar? Ou ele seria o mundo da Rússia, da China e dos EUA?
Nós estamos convencidos de que o Brasil tem direito natural à entrada no Conselho de Segurança e apoiamos verdadeiramente o Brasil.
O processo de reformulação do Conselho é bastante complicado, e duradouro, dificultado hoje pela situação mundial que vivemos. Mas quando falamos em um mundo multipolar, é verdadeiramente multipolar.
O Brasil divergiu da Rússia em relação à entrada da Venezuela no bloco do Brics.
Nós apoiamos o presidente [venezuelano Nicolás] Maduro, e vamos seguir apoiando. São as nossas relações com a Venezuela. Nossas relações com o Brasil são outra coisa.
O presidente Lula é visto como um aliado pela Rússia?
Nós sabemos que o presidente Lula é a favor do desenvolvimento das nossas relações, e do diálogo sobre temas complexos e difíceis.
“Nós apoiamos o presidente [venezuelano Nicolás] Maduro, e vamos seguir apoiando. São as nossas relações com a Venezuela. Nossas relações com o Brasil são outra coisa” —- Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.
O Brasil é um parceiro comercial e econômico muito importante para nós. Esperamos que a nossa cooperação aumente, apesar de todos os obstáculos e dificuldades existentes.
O que muitas vezes nos une também é uma visão similar do mundo e da essência das relações internacionais.
Putin e Lula se falam bastante, e discutem sobre isso em suas conversas. Por isso estamos juntos em organizações como o Brics.
Nós gostamos muito do Brasil, nós amamos o Brasil. E contamos com a reciprocidade do Brasil.
E, mais importante: sabe a que vai levar no futuro o que os nossos presidentes falam hoje no âmbito do diálogo bilateral e do Brics? Que, em nossa próxima entrevista, possamos conversar durante 50 minutos sobre as relações russo-brasileiras, e apenas dez minutos sobre o presidente Trump.