Nova York retira último orelhão das ruas e se prepara para era dos pontos de wi-fi gratuitos
Por Vitor Paiva
Os dois últimos telefones públicos de Nova York foram removidos da cidade no último dia 23 de maio. Localizados lado a lado na esquina da Sétima Avenida com a Rua 50, próximos ao Times Square, os orelhões eram os exemplares derradeiros de um elemento urbano que, por décadas, se espalhou por toda ilha, e se tornou um dos verdadeiros símbolos de Manhattan. Assim como os táxis e as placas de rua, os telefones públicos nova-iorquinos eram parte da iconografia inconfundível da cidade, reproduzidos em revistas em quadrinhos, filmes, séries e tantos mais.
A remoção do par de telefones públicos representa, portanto, o fim de uma era, encerrada naturalmente pela popularização dos telefones móveis e smartphones, e o acesso irrestrito à internet do mundo contemporâneo. O primeiro telefone público nos EUA foi instalado na cidade de Hartford, em Connecticut, em 1889, e rapidamente se revelou um sucesso: anos depois, em 1925, Nova York já possuia mais de 25 mil cabines espalhadas pelas ruas da cidade – nas quais os usuários podiam inserir moedas de 5, 10 e 25 centavos para começar e seguir com suas ligações.
Até o final do século XX, um aparelho telefônico era item de luxo para boa parte das pessoas: nos anos 1940, menos da metade da população dos EUA possuía um telefone em casa e, assim, os orelhões eram seu principal meio de comunicação. Apesar do uso ter começado a cair consideravelmente durante os anos 1990, somente em 2015 a prefeitura da cidade começou a recolher os orelhões, e substituir as cabines por pontos de WiFi gratuitos.
Além de oferecer acesso livre à internet, nos pontos é hoje possível realizar ligações gratuitas para qualquer local dos EUA, incluindo chamadas de emergência. Atualmente a cidade já conta com milhares de pontos de conexão à internet livres, em spots que seguem sendo instalados, substituindo os antigos orelhões.
Após a remoção, os últimos dois telefones públicos se tornaram literalmente peças de museu, e foram transportados para o Museum of the City of New York, para estrelar o acervo de uma exposição precisamente intitulada “Analog City”, ou “Cidade Analógica”. Para além da nostalgia, a pergunta que mais foi repetida entre os novaiorquinos que assistiram a cerimoniosa remoção era uma só: onde agora Clark Kent irá se esconder para se transformar no Super-Homem?