O Homem do Norte: Saiba tudo sobre o melhor filme já feito sobre os vikings

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© Aidan Monaghan. MITOLOGIA: Tribo liderada por Amleth (Alexander Skarsgard, ao centro): guerreiros possuídos pelo instinto de animais

Por Felipe Machado
MÍSTICA Nicole Kidman, como a rainha Gudrún: saga familiar sobre amor e morte
MÍSTICA. Nicole Kidman, como a rainha Gudrún: saga familiar sobre amor e morte

Eu te vingarei, pai. Eu te salvarei, mãe. Eu te matarei, tio. O hipnótico mantra, repetido pelo príncipe Amleth ao longo das duas horas e dezessete minutos de O Homem do Norte, poderia até ser um resumo adequado do novo filme de Robert Eggers, mas apenas para quem não está familiarizado com o trabalho do diretor. Considerado um dos nomes mais visionários da nova geração que surgiu em Hollywood nos últimos anos, o norte-americano de 38 anos costuma oferecer experiências cinematográficas que vão muito além das palavras do roteiro, criando universos sombrios, originais e visualmente perturbadores.

Seu estilo único chega agora aos filmes sobre vikings: O Homem do Norte é uma saga repleta de batalhas sangrentas e feiticeiros assustadores, mas traz também a complexidade de um drama de William Shakespeare – e isso não é apenas modo de dizer. O roteiro de Eggers, em parceria com o poeta e romancista islandês Sigurjón Birgir Sigurôsson, é uma adaptação livre da peça teatral Hamlet. Não foi à toa que o dramaturgo utilizou a expressão “há algo de podre no reino da Dinamarca”: sua obra é inspirada em uma lenda do livro A História dos Dinamarqueses, compilação organizada pelo escrivão Saxo Grammaticus no século 13. No filme, porém, o protagonista Amleth é um guerreiro bem mais sanguinário que o príncipe criado pelo bardo inglês. Ambos compartilham o mesmo desejo: vingar o assassinato do pai pelo tio, um usurpador do trono que toma a coroa para si.

INSPIRAÇÃO Ethan Hawke, como o rei Aurvandill: roteiro inspirado na lenda que deu origem a Hamlet, de Shakespeare
INSPIRAÇÃO. Ethan Hawke, como o rei Aurvandill: roteiro inspirado na lenda que deu origem a Hamlet, de Shakespeare

O ator Alex Skarsgard, que faz o papel principal, revela que se inspirou em velhas lendas nórdicas para compor o personagem. “Os vikings acreditavam que algumas pessoas eram possuídas por espíritos de animais, que se manifestavam de diferentes maneiras”, explica. “Enquanto as mulheres geralmente encarnavam criaturas do mar, os homens podiam ser raposas, lobos ou ursos. No caso de Amleth, ele combina a ferocidade e força do urso com a agilidade do lobo.” Eggers conta que a personalidade de Skarsgard foi determinante para a realização do projeto, e que só decidiu fazer o filme após encontrar-se pessoalmente com o ator. “Nunca quis filmar uma história sobre vikings. Achava um povo violento, sem nada de interessante. Mas minha esposa, que sempre gostou das sagas medievais islandesas, me convenceu de que eu amaria essas tramas se as conhecesse melhor”, diz ele. “Ao conhecer Skarsgard, decidi que precisava tentar fazer um filme definitivo sobre essa era.”

Antes de liderar essa superprodução de US$ 90 milhões, Eggers havia dirigido apenas dois longas: A Bruxa, de 2015, e O Farol, de 2019, obra-prima claustrofóbica e surrealista estrelada por Robbert Pattinson e Willem Dafoe. Filmado em preto e branco, remete à densidade psicológica do mestre sueco Ingmar Bergman, de quem Eggers é admirador.

Pesquisa histórica

O Homem do Norte é fruto de um meticuloso processo de pesquisa. Trabalhando com arqueólogos e historiadores, o filme recria o ambiente da época em seus mínimos detalhes cenográficos, além de ter o cuidado de incluir elementos psicológicos sobre as crenças, mitologias e rituais escandinavos. Isso significa que a trama trata do lado sobrenatural dos personagens como parte do cotidiano, pois era assim que eles viam a vida. Foi o grande desafio do parceiro inseparável de Eggers, o diretor de fotografia Jarin Blaschke, e do designer de produção Craig Lathrop: fugir dos estereótipos sem perder o apelo das tradicionais produções sobre vikings.

A fama de gênio de Eggers atraiu astros ao elenco, como Nicole Kidman, Ethan Hawke, Anya Taylor-Joy, Willem Dafoe e Björk, longe das telas há 17 anos. Natural da Islândia, ela cresceu ouvindo as sagas locais. Não é possível dizer, porém, que sentiu-se em casa durante suas cenas. As filmagens não foram realizadas na Escadinávia, mas na Irlanda do Norte. Devido ao perfeccionismo do diretor, certamente nem o mais atento historiador perceberá a diferença.

© Aidan Monaghan

Próximo projeto do diretor será remake de Nosferatu

Quando era criança, Robert Eggers ganhou de presente livros de Albrecht Dürer e Martin Schongauer, pintores alemães do século 15, e de Arthur Rackham, ilustrador britânico do período vitoriano. Belos, porém lúgubres, a influência das publicações explica a tendência por visuais sinistros em seus filmes. Fascinado por horror, Eggers já está em fase de pré-produção de seu novo projeto: um remake de Nosferatu, clássico do cinema mudo dirigido por F.W. Murnau, em 1922. Famosa adaptação da história de Drácula, o filme guarda uma curiosidade: o nome do personagem foi trocado porque a viúva da Bram Stoker, autor da obra original e morto em 1912, recusou-se a autorizar a filmagem.

 

 

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