Oficina de empoderamento feminino, da Prefeitura de João Pessoa, transforma vida de mulheres que estão em sofrimento mental

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Na oficina, as participantes fazem pinturas em tecidos que são utilizados para a produção de ecobags (bolsas ecológicas). Foto: Thibério Rodrigues e Micael Lima

Estimular a capacidade criativa e produtiva de mulheres em sofrimento mental. Esse é o objetivo da oficina de empoderamento feminino, desenvolvida por profissionais do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Gutemberg Botelho, mantido pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da Prefeitura de João Pessoa. O grupo iniciado há pouco mais de um ano já reúne 25 mulheres usuárias do serviço e deu origem ao projeto ‘Bem Me Quero’, de economia solidária.

Na oficina, as participantes fazem pinturas em tecidos que são utilizados para a produção de ecobags (bolsas ecológicas). O material produzido é posto à venda, contribuindo para a geração de renda e transformando a autoestima dessas mulheres.

De acordo com a diretora-geral do Caps Gutemberg Botelho, Ana Karina Almeida, a oficina surgiu a partir da vontade de trabalhar questões psíquicas paralelamente ao empoderamento feminino. “A ideia inicial era construir com essas mulheres em sofrimento mental algo que elas pudessem produzir e vender para gerar renda”, afirmou.

Além de Ana Karina, a oficina é coordenada pela psicóloga Gisela Oliveira e a assistente social Máglia Gondim, ambas servidoras do Caps. “No início, só tínhamos os tecidos, os pinceis, as tintas e a vontade de fazer algo. Quando começamos, as usuárias não conseguiam sair da ideia da arte pronta, de reproduzir um desenho já existente e que elas só pintariam. A partir daí, pensamos que poderíamos estimular o oposto disso, com a arte livre, de forma que elas possam se expressar sem limitações”, explicou a psicóloga.

Em meio à resistência para expressar o seu emocional, a arte surge para essas mulheres como um instrumento terapêutico, que possibilita a abertura para um mundo um pouco diferente do que elas viviam. “Elas estavam tão presas em reproduzir outros desenhos e pintar o que já estava pronto que achavam que não conseguiriam se expressar livremente”, destacou a assistente social.

Selma Valentim participa do grupo desde o início e contou que a terapia tem a ajudado muito a se reconhecer mais capaz. “Eu não gostava de pintar até que conheci a pintura abstrata e estou aprendendo aos poucos. Já vendi algumas bolsas com minhas pinturas e isso faz me sentir melhor, fazendo essas pinturas bonitas com as meninas”, disse.

Outra participante do grupo é Ana Afonso, que também começou a pintar após o ingresso na oficina. “Faço minhas pinturas nos momentos em que estou mais angustiada, chorando muito. Aqui a gente conversa, brinca e pra mim é prazeroso fazer as pinturas. Também faço em casa. É uma terapia pra mim, quando acordo chorando é a primeira coisa que faço depois de tomar café”, disse.

O grupo é formado por mulheres de várias faixas etárias, entre 20 e 60 anos, e busca enfatizar para elas a questão da autonomia. “Tentamos mostrar que elas conseguem fazer e então percebemos mudanças na autoestima. Quando elas viram os primeiros trabalhos prontos, ficaram encantadas. Algumas dessas mulheres foram institucionalizadas ou sofreram violência doméstica durante muito tempo. Uma das usuárias tem atraso cognitivo, dificuldade e não se comunicava, então trouxemos ela pra esse grupo e hoje ela já se comunica, se arruma e descobriu sua própria maneira de pintar”, ressaltou a psicóloga.

Bem Me Quero – Todas as ecobags do projeto ‘Bem Me Quero’ utilizam as pinturas feitas durante as oficinas de empoderamento feminino e economia solidária. As bolsas são produzidas com tecido de brim, algodão cru, tinta e aviamentos. Parte do material é doado pela rede municipal de saúde, como o tecido reaproveitado do excedente das costuras dos hospitais e a tinta doada pela SMS.

O restante do material como pincel, algodão e aviamentos são comprados com parte do dinheiro arrecadado, assim como o pagamento para a costureira das bolsas. Os valores das bolsas são acessíveis e são atribuídos de acordo com o gasto do material utilizado para a produção.

De acordo com a diretora-geral do Caps Gutemberg Botelho, todo o gerenciamento do dinheiro arrecadado com a venda das bolsas segue as diretrizes da economia solidária e geração de renda. “Após o pagamento dos custos dos produtos, o lucro é dividido igualmente entre as participantes do projeto”, explicou Ana Karina Almeida.

“Existe um grupo que administra o valor arrecadado com a venda das bolsas, auxiliado pelas orientadoras do grupo. Tudo é conversado e pactuado com elas. Além disso, estamos buscando melhorias para o grupo como um curso de costureira para que elas próprias façam as costuras das bolsas”, completou.

Parceria – Para se desenvolver dentro das diretrizes da geração de renda, o ‘Bem Me Quero’ conta com o apoio de outros projetos parceiros. Um deles é o ‘Janela Aberta’, projeto de extensão da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que envolve uma equipe multiprofissional e busca abordar o tema da loucura articulado com as iniciativas de arte, cultura e geração de renda. O projeto contribui com direcionamentos e orientações ao grupo de empoderamento feminino e, em contrapartida, o Caps recebe estudantes extensionistas para a prática dentro do serviço de saúde mental.

O grupo também recebe o apoio do EcoParaíba – Centro Público Estadual de Economia Solidária, espaço localizado no bairro de Tambaú para abrigar empreendimentos econômicos solidários selecionados por meio de edital de chamada pública, contemplando os segmentos do artesanato, agricultura familiar, finanças solidárias e catadores de resíduos sólidos. Neste espaço, as ecobags são expostas ao público para a venda. As bolsas também são vendidas em eventos voltados para saúde mental.

Caps Gutemberg Botelho – No Caps Gutemberg Botelho são atendidos pacientes adultos com transtornos mentais graves e persistentes. Para ter acesso ao atendimento, a família ou o próprio paciente pode procurar diretamente o serviço ou ser encaminhado por alguma unidade de saúde da família (USF).

No centro, os pacientes recebem acompanhamento médico e psicológico, além de participar de oficinas, grupos terapêuticos, atividades esportivas e culturais que propiciam a integração em um ambiente social e cultural junto às famílias. O Caps Gutemberg Botelho está localizado na Avenida Minas Gerais, nº 409, no Bairro dos Estados.

Texto: Thibério Rodrigues
Edição: Katiana Ramos
Fotografia: Thibério Rodrigues e Micael Lima

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