Opinião – Ou Sérgio Moro vira um fenômeno eleitoral ou nem candidato será

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Sergio Moro. Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Por Ricardo Noblat

Não é sobre se daria certo, mas sobre se deveria ter feito. O ex-juiz Sérgio Moro, tratado como celebridade no congresso do Movimento Brasil Livre (MBL), em São Paulo, insiste em dizer que havia uma “chance de dar certo” quando ele aceitou o convite para ser ministro da Justiça do governo Bolsonaro. Não deu porque o governo fez “o exato oposto” no combate à corrupção.

Com esse discurso, Moro arrisca-se a não ir tão longe assim. Ou a ficar na defensiva enquanto durar sua campanha a presidente. Ao mesmo tempo em que alega que à época não conhecia Bolsonaro, mas que via com bons olhos suas posições, ele admite ter ouvido de muita gente: “Que alívio que você está indo [para o governo], para ser contrário aos impulsos do presidente eleito.”

Quer dizer: não faltou quem lhe chamasse a atenção para “os impulsos do presidente eleito” aos quais deveria se opor. Moro ensurdeceu e aceitou o convite feito entre o primeiro e o segundo turno da eleição de 2018. A poucos dias do segundo turno, divulgou a delação do ex-ministro Antonio Palocci contra Lula e o PT na qual nem ele acreditava, e que mais tarde se revelaria falsa.

Moro deixou o governo em abril de 2020 após acusar Bolsonaro de interferir na Polícia Federal durante a investigação do esquema de “rachadinha” do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho mais velho do presidente. “Mas eu não tinha essas informações em 2018, então eu encarei”, desculpa-se. Improvável que não tivesse. Mais ainda que achasse que Bolsonaro não interferiria.

O ex-juiz atravessou mais de seis meses sob a pressão de Bolsonaro para trocar delegados e o superintendente da Polícia Federal. Em certo momento, cedeu, desde que fosse sua a escolha do novo superintendente. Bolsonaro não topou. Moro perdera a fé na promessa que o presidente lhe fizera de nomeá-lo ministro do Supremo Tribunal Federal. Então, pediu as contas e saiu.

O ex-juiz tem uma tarefa descomunal pela frente: tomar o lugar de Bolsonaro no segundo turno e derrotar Lula. Desde que a reeleição para cargos majoritários foi introduzida no Brasil em 1998, presidente da República não só disputa o segundo turno como vence. Moro é detestado à direita e à esquerda. Ou vira um fenômeno eleitoral ou nem candidato será.

 

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