Petistas veem erros em escolhas nas eleições e ironizam aliança com Boulos após 1º turno

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O presidente Lula (PT) e Guilherme Boulos em Brasíia - Leandro Paiva - 10.out.2024/Divulgação

O resultado do primeiro turno das eleições municipais e a perspectiva de derrota de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo desencadearam um debate no PT marcado por comentários jocosos sobre a performance do psolista na capital paulista.

No último dia 10, a pesquisa Datafolha que aponta a liderança de Ricardo Nunes (MDB) sobre Boulos foi alvo de comentários no grupo do Diretório Nacional do PT. Ao ver projeções para o segundo turno com larga vantagem para o prefeito, o deputado federal Washington Quaquá (RJ) postou que aquela era a “crônica de uma morte anunciada”.

O secretário de comunicação do partido, Jilmar Tatto (SP), sugeriu, em tom irônico, que mantivessem calma porque uma revolução ainda estaria em curso. O comentário foi recebido como uma crítica do deputado federal, que, em 2020, ficou em sexto lugar na corrida pela Prefeitura de São Paulo.

As manifestações no grupo do WhatsApp aconteceram no mesmo dia em que Lula encorajou Boulos, durante gravações para o programa eleitoral. Segundo relatos, após gravar ao lado do candidato, o presidente lembrou sua própria trajetória para incentivar o aliado.

Vice-presidente do PT e recém-eleito para a Prefeitura de Maricá, Quaquá é um crítico da aliança em apoio à candidatura de Boulos. Procurado para falar sobre sua postagem, disse que só se manifestará publicamente no balanço do partido sobre a eleição. Uma reunião do comando da sigla está programada para o dia 28, logo após o segundo turno.

“Só vou comentar o erro de São Paulo depois da eleição. No balanço”, respondeu Quaquá.

Em Belo Horizonte, o cenário é o oposto. Enquanto uma ala petista lamenta a ausência de um candidato próprio na disputa pela Prefeitura de São Paulo, na capital mineira a insistência na candidatura petista foi apontada como um erro.

Ao ver críticas de correligionários, o deputado federal Rogério Correia (PT) reagiu nas redes sociais. Ele não chegou ao segundo turno.

Maior corrente do PT, a CNB (Construindo um Novo Brasil) rachou em Minas. E uma parte foi acusada de abandonar a candidatura de Correia, tendo aderido à candidatura do PSD já no primeiro turno.

Nas redes sociais, Correia disse que pretendia fazer uma avaliação apenas após o segundo turno, mas que tem sido “atacado por posições oportunistas internas no PT, visando 2026, sempre usando a ‘derrota’ midiática do PT e de Lula em 2024”.

Segundo o deputado, proclamam que o PT não deveria ter disputado Belo Horizonte e outros municípios, delegando à direita a tarefa de enfrentar a extrema direita.

“Alguns traíram nossa luta e proclamam traições maiores. Ainda bem que temos um Lula atento e um partido majoritariamente consciente. Mas hoje, são deputados federais, ‘moderados’ e modernos da esquerda, que adotam a tese ‘ajuizada”. Em Minas, o traidor é conhecido. Hipocrisia, desonestidade e fraqueza moral e intelectual”, escreveu.

Na publicação, o deputado criticou ainda aqueles que, nas suas palavras, “se lambuzaram da máquina e das benesses de emendas parlamentares e políticas públicas do governo Lula, mas alardeiam a meritocracia como sujeito da vitória”.

Procurado, o parlamentar disse que teve que responder por ter sido criticado pela imprensa. Dentro do partido, despontam críticas à atuação de petistas em campanha, seja pela timidez na defesa do governo ou pelo lançamento de candidaturas com intuito de garantir visibilidade para as eleições legislativas.

O resultado do primeiro turno pôs em xeque o prestígio de lideranças do partido em São
Paulo. Petistas amargaram dissabores em tradicionais redutos, a começar por São Bernardo do Campo, domicílio eleitoral do presidente Lula na Grande São Paulo.

Uma derrota recebida com surpresa pela cúpula petista aconteceu em Araraquara, onde a popularidade do prefeito, Edinho Silva, uma ampla coligação e a destinação de recursos federais à cidade não foram suficientes para fazer sua sucessora.

Sob reserva, integrantes do partido admitem que a derrota pode abalar o favoritismo de Edinho para o lugar de Gleisi Hoffmann na presidência da sigla. Segundo petistas, a própria Gleisi mostra simpatia por nomes alternativos, por exemplo do Nordeste, tendo encorajado o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), a disputar a presidência do partido.

Guimarães já admitiu a possibilidade de disputar, em entrevista ao jornal Folha. Mas atualmente sua predisposição seria pela vaga ao Senado, de acordo com relato de petistas. Edinho tem apoio de Lula.

As queixas não se restringem apenas aos nomes de São Paulo. Integrantes da cúpula do PT têm criticado a performance de ex-governadores do partido que hoje estão no ministério de Lula, especialmente pela costura de alianças com políticos do centrão. É o caso dos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Camilo Santana (Educação), que governaram a Bahia e o Ceará, respectivamente.

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