PF diz que Bolsonaro saiu do país no fim de 2022 para evitar prisão e aguardar desfecho do 8 janeiro

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Bolsonaro sai de casa em Brasília para depor na Polícia Federal — Foto: Adriano Machado/Reuters

No relatório final sobre a trama golpista, a Polícia Federal concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados deixaram o Brasil no fim de 2022 para evitar uma prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas no dia 8 de janeiro de 2023.

Segundo a PF, Bolsonaro tinha conhecimento dos atos do 8 de janeiro e mantinha contato, através de aliados, com os financiadores dos acampamentos em frente aos quartéis.

“Apesar de não empregado no ano de 2021, o plano de fuga foi adaptado e utilizado no final do ano de 2022, quando a organização criminosa não obteve êxito na consumação do golpe de Estado. Conforme será descrito nos próximos tópicos, Jair Bolsonaro, após não conseguirem o apoio das Forças Armadas para consumar a ruptura institucional, saiu do país, para evitar uma possível prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023 ( “festa da Selma”)”, diz um trecho do relatório final da PF.

Para sustentar a alegação do conhecimento de Bolsonaro sobre o 8 de janeiro, os investigadores da PF usam uma troca de mensagens do então ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, com o também militar Sérgio Cavaliere, que integrava o núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral da trama golpista.

Segundo o relatório da PF, em um diálogo realizado em 4 de janeiro de 2023, Cavaliere questiona Cid se há algo ainda para acontecer. Em resposta, o então ajudante de ordens de Bolsonaro encaminha duas mensagens que foram apagadas e complementa que é algo “bom”.

“No dia 04/01/2023, Cavaliere pergunta se “Ainda tem algo para acontecer?”, referindo-se, possivelmente, a uma ruptura institucional. Mauro Cid encaminha duas respostas, que foram apagadas. Diante do conteúdo das mensagens apagadas, Cavaliere indaga: “Coisa boa ou coisa horrível?” e em seguida diz: “Bom”. Mauro Cid em resposta à pergunta de Cavaliere diz: “Depende para quem. Para o Brasil é boa”, diz o relatório da PF sobre o diálogo.

No decorrer da conversa com Cid encontrada pela PF, Cavaliere envia imagens de mensagens que ele teve com um interlocutor chamado Riva -cujo relatório não apresenta mais detalhes. No diálogo, é relatado por Riva uma reunião de Bolsonaro, seu então vice, Hamilton Mourão, e outros generais.

Nas mensagens, Riva afirma que nesse encontro os generais “rasgaram o documento que o 01 assinou”, em referência a minuta golpista.

Em reforço a ideia de que se tratava da minuta golpista, Riva também elogia Almir Garnier, então almirante da Marinha, que foi o único chefe de Força que teria apoiado o golpe para manter Bolsonaro no poder. “O Alte Garnier é patriota. Tinham tanques no arsenal prontos”, diz a mensagem.

Em seguida, Mauro Cid sugere que Bolsonaro deveria ter rompido com a Marinha -ou seja, iniciado o plano de golpe com a Força- que depois o Exército e a Aeronáutica viriam atrás.

Por fim, Cavaliere avalia que os militares que tinham interesses golpistas foram covardes e é endossado por Mauro Cid. “Fomos todos [covardes]. Do PR e os Cmt F”, disse o então ajudante de ordens, em referência a Bolsonaro e aos chefes das Forças.

A PF afirma ainda que núcleos próximos de Bolsonaro mantinham frequentes contatos com os financiadores dos acampamentos em frente aos quartéis que culminaram no atos do 8 de janeiro.

Segundo as investigações, integrantes do governo Bolsonaro mantinham uma ligação com os manifestantes acampados em frente ao QG do Exército, em Brasília. O general da reserva Mário Fernandes, preso por elaborar o plano para matar Lula (PT), era um dos responsáveis por essa relação.

O relatório da PF também apresenta o tenente Portella, suplente da senadora Tereza Cristina (PL-MS), como um dos interlocutores dos manifestantes junto ao governo Bolsonaro, inclusive, como uma das pontes para o financiamento dos atos.

Em 12 de janeiro de 2023, 4 dias depois dos atos golpistas, Portella manda mensagem a Cid em que afirma que devolveria “a parte” de um pessoal -sem especificar o que seria. Ele também relata que sua vida está um inferno.

De acordo com a PF, o suplente se referia a devolução de dinheiro aos manifestantes após o dia 8 de janeiro.

Os investigadores da PF ainda afirmam que Portella é amigo próximo de Bolsonaro desde quando serviram juntos no Exército em Nioaque (MS).

 

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