Por que lesões no joelho, tornozelo e coxa são as mais comuns no futebol

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Neymar chora após torcer o tornozelo em 2018 — Foto: Geoffroy Van Der Hasselt/AFP/Arquivo

Por Marina Pagno

Benzema, Pogba, Mané. Estrelas do futebol, ídolos em seus países e os três fora da Copa do Mundo de 2022 por causa de um único e temido motivo: lesão. Em tempos de Copa, tudo que um jogador menos quer é se machucar e ficar de fora do torneio esportivo. Mas, no futebol, isso é mais comum do que se imagina.

Aconteceu com Romário em 1998 e com Pelé, em durante a Copa de 62. E assombrou Lionel Messi que, na segunda-feira (21), assustou os torcedores ao aparecer com o tornozelo inchado às vésperas da estreia da Argentina no Catar.

Como o instrumento de trabalho de um jogador de futebol são os membros inferiores, o peso do corpo recai totalmente para as pernas, o que abre caminho para lesões principalmente nos joelhos, tornozelos e coxas.

“O jogador de futebol está propenso a lesões traumáticas, ou contusões, que são provocadas por impacto, ou as lesões por sobrecarga, que é aquela lesão muscular, que acontece por conta de um chute potente.

Há também as entorses, por conta da exigência de muita mudança de direção”, explica o médico ortopedista Marcos Marczwski, que trabalha no Sport Club Internacional, de Porto Alegre (RS).

“A carga maior do corpo acaba caindo sobre o joelho e tornozelo e, pela própria biomecânica do esporte e a exigência de mudança de direção, a gente acaba tendo um aumento de incidência de lesões nesses locais”, explica o ortopedista Marcos Marczwski.

Além de ser um esporte de impacto e que gera explosão muscular, o futebol exige alta performance dos atletas por um grande período, o que pode sobrecarregar e desgastar a musculatura e as articulações. Aí, resta ao atleta sair de campo e ir para o DM, sigla usada no futebol para identificar o departamento médico.

“Exige uma individualidade muito grande para cada atleta. Cada um exige um tipo de preparação diferente para aguentar, no caso do calendário brasileiro, uma sequência tão grande de jogos em um curto período, diz.

Estudo mapeia lesões no Brasil

Estudo publicado na Revista Brasileira de Ortopedia mapeou 577 lesões sofridas por jogadores de futebol em três temporadas do Campeonato Brasileiro das séries A e B (2016, 2017 e 2018). Em 2.280 jogos analisados, as lesões musculares representaram aproximadamente 35% de todas as lesões. Os laterais foram as principais vítimas, seguidos dos zagueiros, meio-campistas, atacantes e volantes.

No estudo, a lesão mais comum foi a dos isquiotibiais. Localizado na parte de trás da coxa (chamada de posterior), esse grupo de músculos é fundamental no deslocamento para frente e para trás, além de ajudar na extensão do quadril e flexão no joelho, movimentos bem frequentes no futebol.

Lesões nessa região podem surgir sozinhas, em jogo ou durante o treino, sem qualquer choque com outro colega.

“É um mundo de coisas que a gente tem que avaliar para saber o porquê o atleta está com essa dor. Pode ser uma carga acumulada, pode ser um excesso de treinamento daquele dia, pode ser um desequilíbrio… Ele pode ter dormido mal, por exemplo, está com uma dor lombar, e acaba não fazendo um gesto esportivo adequado, o que vai gerar um carga em uma certa estrutura do corpo”, afirma o médico.

Descansar é preciso

Na prevenção e recuperação de lesões, o sono e o descanso jogam no mesmo time dos atletas lesionados ou que querem evitar se machucar. “O descanso é muito importante para manter o atleta em alto nível e muitas vezes o calendário não permite”, diz médico ortopedista Marcos Marczwski.

Por conta da rotina puxada, o ritmo de treinos dos jogadores é monitorado cada vez mais de perto pelas equipes, assim como a alimentação, hidratação e o sono. A ideia é que ele não fique sobrecarregado, mas também não fique destreinado.

Para o médico do Internacional, o grande desafio hoje do futebol é evitar que a lesão aconteça. Para isso, a medicina esportiva usa a tecnologia ao seu favor, como a termografia. A técnica, usada em clubes de futebol em todo mundo, consiste em medir a temperatura e a distribuição de calor no corpo na tentativa de identificar possíveis falhas e desgastes que, se não tratados antes, podem se transformar em uma lesão mais grave.

Entre os machucados mais temidos, o mais comum é o rompimento do cruzado anterior, que é um ligamento que fica dentro do joelho. Nesses casos, há necessidade de cirurgia e o atleta pode ficar afastado por até 9 meses – ou seja, por toda uma temporada.

Por ter sido arrastada para o final do ano, a Copa de 2022 deverá ser objeto de estudo para especialistas em medicina do esporte, que devem avaliar o desempenho e o desgaste dos jogadores.

“Quem joga no Brasil, está agora no fim da temporada. Mas quem joga no calendário europeu, está na metade do calendário. Estamos curiosos em saber como será a incidência de lesões por fadiga e cansaço, que acontecem mais no fim do ano, para saber se vai ter uma alteração na incidência das lesões, que é uma coisa que essa Copa vai nos mostrar”, afirma o ortopedista.

E para amadores?

Os chamados ‘atletas de fim de semana’, que jogam futebol apenas pela diversão ou pela prática esportiva, também devem se atentar para lesões. Segundo o médico, o segredo aqui é manter um certo equilíbrio, e aliar o futebol a outras atividades.

“Manter a regularidade do exercício é muito importante para diminuir o risco de lesão. É nem muito e nem pouco. Além, claro, de manter um exercício físico fora do futebol, como uma academia, com supervisão de um profissional, e cuidar da saúde e da alimentação”, disse Marczwski.

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