Por que o crescimento da economia brasileira está perdendo fôlego?
Por Bianca Alvarenga
Voo de galinha: é assim que analistas encaram a fotografia recente dos dados da economia brasileira. Depois de um começo de ano forte, a atividade produtiva do país começa a dar sinais de que está perdendo força. Os números mensais da indústria divulgados na sexta-feira (02/12) corroboram a visão de que o melhor parece ter ficado para trás.
Embora tenha crescido em outubro, a indústria acumula queda de 1,4% nos últimos 12 meses. Ao contrário de setores como os serviços e o comércio, a indústria não conseguiu se recuperar do tombo da pandemia e segue 2,1% abaixo do nível registrado no início de 2020.
O setor fabril é o primeiro a sofrer com os efeitos de uma política monetária mais restrita. Desde março passado, o Banco Central tem elevado a Selic, a taxa básica de juros da economia, para conter a inflação. Os juros partiram de 2% para 13,75%, atualmente.
O plano teve efeitos sobre os preços. A inflação ultrapassou os dois dígitos no primeiro semestre de 2022, e agora já recuou para patamares próximos a 6%.
Crédito mais caro
Os juros mais elevados encarecem o financiamento de empresas e o custo do crédito para as famílias. Na frente produtiva, empresários já colocaram um freio nos investimentos para equalizar o aumento de custo causado pela Selic alta.
“A indústria e comércio já perderam força no último trimestre, mas o setor de serviços continua bastante robusto”, avalia, em relatório, Carlos Pedroso, economista-chefe do banco MUFG.
Embora o crédito e a inflação sejam críticos para o bolso das famílias, a concessão do Auxílio Emergencial e o bom momento do mercado de trabalho sustentaram a alta de 1,1% dos serviços, setor que já recuperou todas as perdas do período de pandemia.
“A melhora no mercado de trabalho, como mostraram os dados da PNAD desta semana, e a distribuição de renda pelo governo contribuíram para manter o consumo das famílias em alta, mas outros setores da economia, como o comércio, já começam a indicar os impactos negativos da politica monetária contracionista [de alta de juros]“, comenta a economista Ariane Benedito.
Os dados mais mornos do comércio em setembro mostram que o setor de serviços também pode começar a tropeçar na reta final do ano. O último trimestre concentra datas importantes de consumo, como a Black Friday e o Natal, mas os primeiros dados divulgados já indicam que o brasileiro está mais conservador nas compras.
Além do peso dos juros e da inflação, isso se deve, segundo Benedito, ao sentimento de incerteza em relação à situação da economia em 2023, principalmente com a falta de definição sobre o valor do Auxílio Emergencial (que deve voltar a se chamar Bolsa Família, sob o governo Lula).