Professor paraibano que voltou ao magistério após 4 aprovações em concursos de áreas diferentes agora mira no CNU: ‘Esse é o último’

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Luis Carlos no ambiente onde estuda para concursos — Foto: Beto Silva / TV Paraíba

Passar em um concurso público é o sonho de muitas pessoas que querem estabilidade e qualidade de vida. Luis Carlos pode dizer que viveu essa felicidade cinco vezes depois que decidiu se tornar um concurseiro. Em Sousa, cidade do Sertão da Paraíba onde nasceu e mora, ele estava atolado em uma rotina exaustiva quando era professor na rede privada cerca de 15 anos atrás. O trabalho esgotante em sala de aula, quase todos os dias, começava a partir das 7h e terminava apenas por volta das 23h. Foi então que o paraibano resolveu dar um rumo diferente para a própria vida e da família: voltar a estudar e se preparar para ser um servidor público.

“Eu estava cansado da rotina. Coloquei na mente que o serviço público ia me satisfazer mais, me realizar mais. Comecei a estudar mesmo sem ter tempo. Driblei a falta de tempo com muito esforço. Tive que estudar quando chegava mesmo muito cansado, de 23h de um dia até 1h do outro. Era difícil, mas era meu objetivo. Eu tive que suportar isso. Eu não tinha escolha”.

Se o cansaço foi o fator que mais pesou na decisão de entrar de cabeça no mundo dos concursos, a questão financeira, por outro lado, se tornou secundária.

“Quando eu dava aula na rede privada, a parte financeira não era ruim. O que me fez querer concurso foi a falta de tempo. Ter tempo com minha família, qualidade de vida. Quando eu assumi o meu primeiro concurso, eu ganhei menos. Mas isso me fez ficar mais próximo da minha família. Então isso me motivou”.

Pouco tempo depois de se dedicar, Luis alcançou a primeira aprovação para o cargo de auxiliar judiciário no concurso do Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB), onde foi o 8ª colocado. Ele não assumiu a vaga por conta da demora na convocação.

Em seguida, também foi aprovado na 8ª posição para o cargo de técnico previdenciário do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Nesse certame ele também não tomou posse.

“Eu desejava o serviço público, mas não me via nesses cargos. Com o tempo, passei a pensar nisso”.

Após alinhar o que realmente desejava com as tentativas que faria, veio a terceira aprovação. Dessa vez ele tomou posse como cadastrador da Companhia de Águia e Esgotos da Paraíba (Cagepa). Nessa vaga, ele passou três anos.

“Na Cagepa tive a oportunidade de trabalhar em um cargo que tinha a ver com minha profissão. Gostava do cargo. A Cagepa me satisfez. Mas novamente eu me vi em outro cargo, pertencendo a uma nova função”.

Crachá de Lusi Carlos quando era servidor da Cagepa — Foto: Luis Carlos / Arquivo pessoal
Crachá de Lusi Carlos quando era servidor da Cagepa — Foto: Luis Carlos / Arquivo pessoal

Foi então que a área financeira começou a ser vista com outros olhos e despertou o interesse do professor. Sem edital algum previsto, ele passou a estudar com a finalidade de se tornar servidor público em um banco.

Com seis meses de estudos, Luis passou no concurso do Banco do Brasil, onde trabalhou por oito anos.

Na primeira aprovação, Luis sentiu que realizou um sonho. A última soou como o cumprimento de uma meta. Mas em todas elas houve um certeza e se confirmou um objetivo:

“Ser dono do meu destino, conduzir a minha vida, estar onde eu quero estar”.

Luis Carlos com colegas em trabalho no Banco do Brasil — Foto: Luis Carlos / Arquivo pessoal
Luis Carlos com colegas em trabalho no Banco do Brasil — Foto: Luis Carlos / Arquivo pessoal

‘Desenvolvi a vontade de ser professor de novo. Eu sabia o caminho’

Como antes dessas quatro aprovações e de duas novas carreiras construídas Luis trabalhava como professor, o magistério ainda conseguiu despertar nele a vontade do retorno para a sala de aula.

“Fui professor e sempre gostei. Desenvolvi a vontade de ser professor de novo. A princípio foi um choque, mas eu desejava muito isso. Só que eu não tinha a formação em licenciatura pra ingressar em uma vaga. Então mais uma vez me antecipei ao edital e consegui minha formação”.

A primeira graduação de Luis Carlos é de engenharia mecânica. Já para concorrer a uma vaga no magistério, ele fez licenciatura em matemática.

“Eu sabia o caminho. Chegava cansado em casa de uma rotina muito pesada e continuava com mais duas ou três horas de estudos para voltar a ser professor”.

Na função que é nova, mas também antiga na vida de Luis, ele está há quatro anos. Mas dessa vez como servidor público.

Luis Carlos dando aula na escola onde trabalha — Foto: Luis Carlos / Arquivo pessoal
Luis Carlos dando aula na escola onde trabalha — Foto: Luis Carlos / Arquivo pessoal

‘Eu quero mais um projeto de vida. Esse é o último’

Se engana quem pensa que o paraibano parou no magistério. Embora esteja realizado, um novo setor fez com que os olhos de Luis voltassem a brilhar. Com o sentimento de que tem a necessidade de encarar um novo e último desafio, ele mirou a área fiscal. A oportunidade em vista é o Concurso Nacional Unificado (CNU). Se for aprovado, dessa vez, pretende se aposentar na função.

“Eu quero mais um projeto de vida. Esse é o último. Eu quero ir pra área fiscal. Construí coisas na minha com o serviço público. Agora quero aproveitar, curtir mais o meu cargo, me aposentar nele”.

O CNU, que é o próximo desafio, é considerada pelo professor e por muitos brasileiros como uma grande oportunidade. Ele vai concorrer a uma as 900 vagas para o cargo de auditor fiscal do trabalho, oferecidas para todo o país.

“Eu tenho que estudar muito. Existe concorrência qualificada. Pra isso, eu abri mão até de férias. Passei as férias estudando. Estou 100% preparado? Não. Mas em nenhum deles eu estava”.

‘As reprovações servirão de base pra aprovação futura’

Construir uma carreira no serviço público e usufruir de toda a estabilidade que ela proporciona é, desde sempre, um projeto de família.

E para conquistar esse objetivo, Luis precisou sacrificar a convivência com quem ama. Ao longo de 15 anos nessa jornada, muitas vezes não houve lazer e o tempo para viagens precisou ser reduzido.

“Não foi fácil. Toda essa preparação causou traumas. Houve três mudanças de cidades também”.

Alguns desses traumas estão ligadas às reprovações, que geralmente fazem parte da história de todo concurseiro.

“Ser reprovado causa sim um abatimento. Não é fácil. Causa um impacto negativo sim, você desanima sim. Mas uma coisa ‘boa’ é que todos os que estão nos órgãos públicos já foram reprovados. Eu também já fui. Reprovar é algo normal”.

Luis foi reprovado em dois concursos:

  • Escola agrotécnica de Sousa (atual IFPB), em que não se preparou bem;
  • Instituto Técnico-científico de Perícia (ITEP) do Rio Grande do Norte, em que passou mal durante aprova por não ter se alimentado bem no dia anterior.

Para superar uma reprovação, a dica do sertanejo é que o candidato continue persistindo, foque no cargo que deseja e não concorrer a todas as vagas abertas.

“A carga de estudo não se perde. No próximo, já acumulou carga também até a provação. As reprovações servirão de base pra aprovação futura”.

E quem passa, segundo Luis, é quem consegue insistir. Mesmo com as dificuldades, nunca passou pela cabeça dele desistir.

“São pessoas comuns quem estão nos cargos públicos. Quem tem disposição de ler várias vezes pra entender. Gênio é que lê uma vez e entende. A gente precisa ter um primeiro contato com a leitura, um segundo contato e depois fazer revisões”.

Ambiente organizado por Luis para estudar para concursos — Foto: Beto Silva / TV Paraíba
Ambiente organizado por Luis para estudar para concursos — Foto: Beto Silva / TV Paraíba

‘Virou hábito’

Na preparação para os dois últimos concursos, Luis confessa que era necessário ter organizado melhor a rotina de estudos. Encontrar um bom material foi fundamental na reorganização da trajetória dele.

“Sofri pra estudar. Depois a gente vai adquirindo experiência e percebendo que precisa gastar com material de estudo, investir em um material bom, que tenha uma estrutura boa, que você possa se aprofundar bem. Passei a fazer isso”.

Com a experiência de quatro aprovações e possivelmente mais uma a caminho, Luis conseguiu desvendar o caminho até a conquista do cargo dos sonhos. Para ele, estudos eficazes envolvem, primeiramente, um bom material.

Depois disso, pensar no espaço em que se vai estudar também é muito importante para o desempenho do candidato.

“Um ambiente tranquilo vai ajudar muito o concurseiro a ser bem sucedido na prova de concurso. Eu me isolo de barulhos externos. Minha esposa não bate a porta quando alguém chega. Aqui eu fico focado. Eu e meu objetivo”.

Outra orientação de Luis é separar bem os materiais para que a mente trabalhe de forma organizada.

Já o tempo de estudo, conforme as recomendações dele, pode variar de acordo com as ocupações do candidato. Para quem precisa trabalhar, a orientação do concurseiro é estudar pelo menos duas horas por dia. Inclusive, esse é o ritual que ele segue.

“Chego do trabalho e descanso um pouco. 19h me levanto e vou cumprir as minhas duas horas. E isso tem que ser encaixado. Se não fizer duas em um dia, faço quatro em outro. Virou hábito. No final de semana eu estudo de quatro a cinco horas”.

Já quem só estuda, pode ser dedicar mais, cerca de quatro a cinco horas por dia.

Concursos com vagas abertas e previstos para 2024 nas áreas de atuação de Luis

Em quase todas as áreas em que Luis foi aprovado foram abertas novas vagas no ano passado e neste ano. Também há previsão para abertura de novas oportunidades.

Para a função de auditor fiscal do trabalho, a próxima que Luis vai concorrer, o concurso Nacional Unificado oferece 900 vagas. No entanto, ao todo, são 6.640 vagas em 21 órgãos do governo federal, em diversas áreas. Os salários chegam a quase R$ 23 mil. As inscrições já se encerraram. As provas seriam aplicadas no começo de maio, mas precisaram ser adiadas por conta da tragédia no Rio Grande Sul, causada pelas mudanças climáticas que acontecem em todo o planeta.

A área bancária também abriu muitas oportunidades. O concurso da Caixa Econômica Federal oferece mais de 4 mil vagas em todo o país. As provas estão previstas para o fim do mês de maio. Já o concurso do Banco do Nordeste, que abriu 410 vagas, teve as provas aplicadas em abril. E em 2022, o Banco do Brasil abriu 6 mil vagas também no Brasil inteiro. Os salários para esse segmento variam de R$ 3,6 mim a quase R$ 15 mil.

Já para o magistério, a previsão é que um concurso com 2 mil vagas seja aberto na rede estadual de ensino ainda em 2024. Estão previstas oportunidades para as áreas de artes, biologia, educação física, física, geografia, história, língua inglesa, língua espanhola, língua portuguesa, matemática, sociologia, filosofia e química. Os salários devem passar dos R$ 4 mil, que é o valor do piso nacional para o setor.

Também está previsto para este ano o concurso da Cagepa com mais de 70 vagas para sete áreas da companhia. Veja os cargos, que se encaixam nos níveis técnico e superior, abaixo:

  • Técnico em saneamento
  • Técnico em eletrotécnica
  • Técnico em eletrônica
  • Técnico em informática
  • Engenheiro civil
  • Engenheiro mecânico
  • Engenheiro ambiental

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