Projeto Xadrez Escolar, da Prefeitura de João Pessoa, chega a cerca de mil alunos e abre novos horizontes para crianças e adolescentes

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Projeto Xadrez Escolar chega a cerca de mil alunos e abre novos horizontes para crianças e adolescentes de João Pessoa

Enxergar o mundo como um grande tabuleiro de xadrez, onde a cada jogada existe uma nova expectativa, com a consciência da possibilidade de vitória ou derrota, mas mantendo a certeza que em qualquer das duas situações fica sempre um grande aprendizado. É assim que Yasmim Evelin da Silva Marques, de 14 anos, aluna do 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Ângela, no bairro do Cristo Redentor, passou a olhar a vida desde que começou a participar do projeto Xadrez Escolar, colocado em prática pela Secretaria de Educação e Cultura de João Pessoa (Sedec).

“Agora eu uso [o xadrez] mais como uma ferramenta para a vida. Porque agora, tudo na vida que eu vejo é como se fosse uma partida de xadrez, ou eu ganho ou perco, mas, sempre ganhando. Porque ou você se afoga em sua própria jogabilidade ou você ganha sacrificando algo. O xadrez é isso. Você tem que sacrificar algo para ganhar. Eu levei isso para a vida, porque a vida é isso, escolhas”, classificou Yasmim.    Visionária, Yasmim nutre sonhos que fazem seus olhos brilharem e sua face se iluminar ao relatar que já pensa num futuro promissor como advogada, quando as peças do tabuleiro serão mais que um jogo de xadrez com os amigos da escola e passará a ser um plano estratégico de atuação profissional.

“Eu vejo o meu futuro brilhando, porque eu quero ser advogada. Então é algo que requer bastante estudo. E eu tento o meu máximo possível para conquistar as coisas. Jogando xadrez eu vou ter raciocínio do que eu vou falar ali [no Tribunal], minhas atitudes, o que eu vou fazer, estratégias que eu vou ter na hora de defender alguns dos meus clientes. Então já é algo que me prepara para o futuro emprego, que tanto almejo desde pequena”, refletiu.

E Yasmim Evelin não é a única sonhadora nesse projeto, onde os maiores objetivos são contribuir para o desenvolvimento cognitivo dos adolescentes e, especialmente, para a formação do cidadão de bem. Cerca de mil estudantes da Rede Municipal de Ensino de João Pessoa participam do Xadrez Escolar, praticado em 13 unidades educacionais, além do Centro Escolar de Atividades Pedagógicas Integradoras (Cemapi) – que abrange as escolas do bairro de Mangabeira – e Instituto dos Cegos.

Quem contabiliza esses números com o coração palpitando nos ritmos da gratidão e da alegria é o coordenador do projeto na Prefeitura de João Pessoa e mestre da Federação Internacional de Xadrez (FIDE), Francisco Cavalcanti. Grande entusiasta da proposta, ele conta com admiração os resultados da realização desse plano didático que transcende as peças do jogo de tabuleiro.

“O xadrez educa o caráter, desenvolve o raciocínio lógico matemático, aprimora a concentração, o respeito às regras e ao adversário, desenvolve a linguística e a aptidão pelas leituras e ainda contribui para a socialização. Sinto o maior prazer por fazer as crianças e adolescentes felizes e, assim, contribuindo na sua formação, como ser participativo e inteligente no desenvolvimento social. Agradeço aos professores que atuaram e atuam no Xadrez Escolar”, celebrou Francisco Cavalcanti.

Com 54 anos de sala de aula, a professora Fátima Kobayashi acompanha de perto o desenvolvimento dos alunos participantes do projeto. Atuando nas escolas Santa Ângela e Leônidas Santiago, Fátima deixa nítido a sua felicidade em poder contribuir para a garantia de um futuro melhor para crianças e adolescentes por meio do jogo de tabuleiro, que faz vencedores todos os dias.

“O xadrez é um jogo acolhedor, porque naquele jogo, eles também terminam conversando alguma coisa deles que muitas vezes não contam nem em casa e contam para mim, para o colega, e eu estou ali participando, entendeu? No final, a gente termina assim, a família do xadrez, é como todo mundo sabe um pouco do outro e… aprende a cuidar. Aprende a cuidar um do outro e ajudar”, conta emocionada a professora.

Para ela, o projeto faz toda a diferença na vida dos alunos. “Faz uma grande diferença mesmo! E também na vida escolar, porque o xadrez tem o papel de desenvolver também a criatividade, o raciocínio, a capacidade de calcular e, acima de tudo, a formação educativa, porque pensa na peça antes de jogar, pensa uma estratégia para chegar a um final vitorioso, então isso vai preparando para a vida. É como eu digo para eles, assim como você pensa para tocar numa peça, você vai pensar quando vai falar, se é o momento oportuno, se é bom. A mesma coisa é no xadrez, é comparado, eu comparo muito isso à vida”, pontuou Fátima Kobayashi.

Foco, concentração e boas notas – De um lado, um jogo que simula o conflito entre dois exércitos, cada qual composto por 16 peças passíveis de movimento em tabuleiro subdividido em 64 casas e disputado com a utilização de intenso raciocínio lógico e estratégico. Do outro, Dário Andrade, de 15 anos, também da Escola Municipal Santa Ângela. Um aluno concentrado, com boas notas no boletim e muita paixão pelo xadrez.

Quem vê Dário hoje jogando com tanto foco nem consegue imaginar que um dia houve ali um aluno ansioso e desconcentrado. “Ele [o xadrez] está contribuindo bastante no meu raciocínio lógico. Antigamente, em matemática, eu sabia de muita coisa. Só que eu demorava muito para poder fazer os cálculos. Com o xadrez, foi melhorando bastante isso, principalmente minha ansiedade. O comportamento também foi melhorando”, conta o garoto que vai representar João Pessoa nos Jogos Escolares Brasileiros (JEB’s) em Aracaju, no Estado de Sergipe, no fim deste mês.

Todo esse bom comportamento e as boas notas que vieram acompanhados da prática no projeto Xadrez Escolar é confirmado pelo pai de Dário, o assistente administrativo André Vitor Andrade. “O xadrez tem ajudado bastante na questão da concentração. Ele está se concentrando mais nos estudos e na questão da paciência também. Está sabendo lidar melhor com as adversidades do dia a dia, na escola, em casa. Isso aí mudou muito para o Dário. Foi muito positivo na vida dele”, reconheceu André Vitor.

Orgulhoso, o pai do aluno, que está no 9º ano, vê um futuro cheio de boas expectativas para o filho. “Ele está treinando incansavelmente dia a dia e tem melhorado bastante. Ele está desafiando pessoas de outros estados, pessoas de outros países, porque o xadrez não se resume só ao tabuleiro, também tem as plataformas digitais. Então, o futuro dele, a previsão é de ser brilhante. É um futuro promissor, graças a Deus!”, evidenciou.

Amanda Uchôa é tia e uma das maiores incentivadoras de Dário. Grata por ver esse projeto inserido na escola, ela conta que sempre estará ao lado do sobrinho, a quem ama como se fosse o próprio filho. “Tenho muito orgulho dele! Ele é dedicado, é estudioso, então quanto mais incentivo ele tiver dos familiares, mais força ele vai ter e acolhido vai se sentir. Vou apoiá-lo até o término dos estudos dele, a profissão, a vida toda, né?”, sorri Amanda, feliz por ver o desenvolvimento do sobrinho.

Progresso na educação – Alunos em evolução, progresso que se reflete também na escola como um todo. A garantia é da gestora administrativa da Escola Municipal Santa Ângela, Hamanda Albuquerque. “O Xadrez Escolar tem ajudado muito a escola com aqueles alunos que têm dificuldade de concentração. Quando a gente vem para o xadrez, o aluno aprende que para ele poder fazer uma jogada, para ele poder aprender a jogar, tem que se concentrar, tem que fazer silêncio, tem que pensar, tem que ter aquela concentração que, às vezes, a gente tem dificuldade numa sala de aula”, afirmou.

Hamanda lembra que a nova geração tem se ocupado muito em frente às telas e o xadrez vem mudar essa realidade e incentivar os alunos a terem disciplina. “Os alunos são de uma geração que têm um uso muito excessivo de telas e isso prejudica essa parte da paciência, da concentração. O xadrez vem agregando muito, ajudando muito a gente nas disciplinas de sala de aula, trazendo essa capacidade do aluno de se concentrar, de pensar, na tomada de decisões, na socialização também”, ressaltou.

Inclusão social – Preparada para oferecer suporte e defender os direitos dos indivíduos, a assistente social da rede municipal, Sarally Gabriel da Silva, ostenta a felicidade de poder ver tantos alunos envolvidos em um projeto que também representa inclusão social.

“O Xadrez Escolar é um parceiro muito forte, muito potente, porque o que a gente também objetiva, para além da aprendizagem mais formal, ele vem com outras possibilidades de desenvolver a questão interativa dos alunos, o saber conviver, o compromisso em vir para a escola, não só para aqueles momentos mais formais da sala de aula, que também reflete nessa ocasião. É algo motivador, é algo muito importante, porque vai garantir com que esse aluno esteja mais presente aqui dentro da escola e, principalmente, aqueles que têm uma questão de vulnerabilidade social, porque não vão estar em outros lugares fazendo qualquer coisa ou em risco, vão estar aqui dentro da escola num tempo de qualidade, protegidos, tendo os seus direitos garantidos, aprendendo, desenvolvendo vários tipos de habilidades cognitivas, emocionais e sociais também”, destacou Sarally.

Diante dessa realidade cheia de perspectivas, a assistente social vislumbra para as crianças e os adolescentes incluídos no projeto Xadrez Escolar um futuro com muitas portas abertas para a boa convivência em sociedade. “Isso vai além de uma educação mais formal, que é muito importante. O xadrez vem complementar de forma muito positiva, abrindo as portas para que eles possam vislumbrar outras possibilidades. Então, é dar oportunidade, é jogar semente nessa terra que a gente vê que é fértil e que com certeza mais na frente vai trazer frutos muito bonitos”, projetou.

Escolas incluídas no projeto – A Sedec mantém o projeto Xadrez Escolar nas seguintes unidades de ensino: Cônego Mathias Freire, Leônidas Santiago, Santa Ângela, Dom José Maria Pires, Chico Xavier, Bartolomeu de Gusmão, José Américo, Ana Nery, João XIll, Cônego João de Deus, Índio Piragibe, Anaide Beiriz, Bartolomeu de Gusmão e  Cemapi Mangueira, além do Instituto dos Cegos.

Os alunos dessas unidades interessados em participar do projeto devem procurar a direção da escola e fazer a inscrição. Não há nenhum critério exigido.

Texto: Nice Almeida
Edição: Cristina Cavalcante
Fotografia: Quel Valentim

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