Quem é Mama Antula, canonizada pelo Papa Francisco como primeira santa argentina

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Papa Francisnco realiza canonização da Beata Maria Antônia de São José de Paz y Figueroa, conhecida como Mama Antula, a primeira santa argentina

por Joaquin Doria

O Papa Francisco realizou no domingo (11/2) a cerimônia de canonização da beata María Antonia de Paz y Figueroa, mais conhecida como Mama Antula, que se tornou a primeira santa argentina.

A cerimônia contou com a presença de Javier Milei, antigo crítico do papa.

Saiba abaixo quem é Mama Antula.

Quem é Mama Antula, a primeira santa argentina?

Nascida em 1730, em Santiago del Estero, na Argentina, a vida de María Antonia de Paz y Figueroa foi marcada desde cedo pela vocação religiosa.

Com apenas 15 anos, fez os votos na Companhia de Jesus, onde iniciou uma vida com outras mulheres, conhecidas como bem-aventuradas. Lá se dedicou à educação das crianças, ao cuidado dos doentes e à assistência aos mais pobres e vulneráveis.

“As bem-aventuradas eram mulheres que viviam em suas casas, mas María Antonia sai de casa e embarca em uma viagem pelo país, algo impensável na história latino-americana”, explicam José Torres de Argañaras e Damián Abregu, membros da Família Mama Antula, um grupo de fiéis que são devotos da beata.

Além disso, acrescentam que a primeira santa argentina foi uma mulher que empreendeu um trabalho inédito baseado na esmola. Para eles, “sua própria vida é um milagre”.

O nome e a fama das ações de Antula começaram a crescer em 1767, quando o rei Carlos III, da Espanha, expulsou a Companhia de Jesus dos territórios da Coroa.

Neste contexto, e aos 37 anos, ela tomou a decisão de continuar organizando cursos de exercício espiritual, prática fundamental para os fiéis em uma época em que os jesuítas passaram a ser muito mal vistos após a decisão do rei.

Segundo a crença popular, suas iniciativas surgiram de uma epifania que a chamava a continuar a sua missão. Desde então, adotou seu nome religioso: María Antonia de San José.

A partir daí, Mama Antula começou a levar os exercícios espirituais a diferentes províncias do que hoje é o norte da Argentina, como Catamarca, La Rioja, Jujuy, Salta e Tucumán, que naquela época faziam parte do território colonial.

“Onde ela dava exercícios, todas as classes sociais se misturavam e viviam em harmonia e paz”, destacam Abregu e Torres de Argañaras.

Ele só chegou a Buenos Aires em 1778, onde seus ensinamentos foram rejeitados pelas autoridades do vice-reinado. No entanto, o apelo massivo aos seus retiros levou o bispado a lhe dar autorização oficial para realizá-los algum tempo depois.

Suas peregrinações a levaram ao Uruguai, especialmente paraa Colônia e Montevidéu, onde fundou uma casa de exercícios espirituais, em 1784.

Antula fez o mesmo em Buenos Aires, onde construiu em 1795 a Santa Casa de Exercícios Espirituais, um dos mais antigos edifícios da cidade e que ainda hoje é um templo para os fiéis.

Mama Antula faleceu em 7 de março de 1799, data em que é celebrada sua festa litúrgica, e seus restos mortais repousam na Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia, em Buenos Aires.

“Ela é a padroeira das mulheres empreendedoras argentinas. Sua casa foi refúgio para muitas mulheres ao longo da história”, diz a Familia Mama Antula.

Estima-se que entre 70 mil e 80 mil pessoas foram beneficiadas pelos exercícios espirituais de Mama Antula, e seus ensinamentos chegaram ao Paraguai e até à França. Além disso, suas cartas foram traduzidas para vários idiomas.

Milagres de Mama Antula

Dois milagres são atribuídos a Mama Antula, embora a crença popular destaque que ela realizou muitos outros durante sua vida.

O primeiro deles foi a cura de Vanina Rosa, uma religiosa que recuperou se recuperou de um choque séptico após sua intervenção.

O segundo, reconhecido pelo Vaticano, é o que lhe proporcionou a canonização.

Em 2017, um homem foi hospitalizado na província argentina de Santa Fé por sofrer um “acidente vascular cerebral isquêmico com infarto hemorrágico em diversas áreas, coma profundo, sepse, choque séptico resistente, com falência de múltiplos órgãos”.

Segundo o site Vatican News, o paciente foi submetido a cuidados intensivos em “estado comatoso” e “com um infarto do tronco cerebral muito extenso”, o que implicava um prognóstico muito reservado, com poucas hipóteses de “regressar a uma vida normal”.

Inesperadamente, dias depois começou uma rápida recuperação até alcançar a autonomia total.

A confirmação do milagre veio pela constatação de que seus amigos e familiares, além de outras sete pessoas que não tinham ligação com ele, pediram a intercessão de Mama Antula.

Além disso, destacam conclusões científicas alcançadas pelos médicos assistentes e pela Consulta Médica do Vaticano em 14 de setembro de 2023.

“Em resposta à habitual consulta ao Colégio Cardinalício, o Santo Padre Francisco decidiu proceder à canonização da Beata Maria Antonia de San José (nascida: María Antonia De Paz y Figueroa), conhecida como Mama Antula, Fundadora do Casa de Exercícios Espirituais de Buenos Aires, nascido em 1730 em Silipica, Santiago del Estero (Argentina), e falecida em 7 de março de 1799 em Buenos Aires (Argentina).”, confirmou o boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé, em dezembro de 2023.

Caminho para a canonização

Desde domingo (11/2), María Antonia de San José é a primeira santa argentina. Mas o caminho para isso foi muito longo.

Seu processo de beatificação, etapa anterior à canonização, começou em 1905, mas somente em 2010 foi declarada venerável pelo Papa Bento XVI.

Francisco foi quem lhe concedeu a beatificação, no dia 27 de agosto de 2016.

Um dia depois, na celebração do Angelus, o Papa disse: “Que o seu exemplar testemunho cristão, especialmente o seu apostolado na promoção dos exercícios espirituais, desperte o desejo de aderir cada vez mais a Cristo e ao Evangelho”.

Finalmente, após a confirmação do seu milagre em 2023, Francisco procedeu neste domingo à canonização de Mama Antula.

Esta celebração tem um grande significado para os seus fiéis, explicam José Torres de Argañaras e Damián Abregu.

“Significa valorizar a missão das mulheres na Igreja e das mulheres leigas comprometidas. O testemunho de María Antonia continua a encorajar muitas pessoas a continuarem a fazer o bem”, concluem.

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