Reino Unido e França divergem sobre acordo de cessar-fogo na Ucrânia

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O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e o líder francês, Emmanuel Macron, se abraçam durante cúpula na Lancaster House, no centro de Londres - Justin Tallis - 2.mar.25/AFP

Um congressista britânico afirmou na segunda-feira (3) que Reino Unido e França não chegaram a um acordo sobre a proposta de um cessar-fogo de um mês na Ucrânia mencionada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, após uma reunião com diversos líderes europeus para discutir o futuro da guerra na véspera em Londres.

“Mas estamos trabalhando juntos, com a França e com nossos aliados europeus, para determinar o caminho a seguir para uma paz duradoura na Ucrânia”, ressaltou Luke Pollard, subsecretário parlamentar de Estado para as Forças Armadas, à rádio Times.

Ele ainda afirmou que há várias propostas possíveis para uma trégua sobre a mesa. Macron havia afirmando ao jornal Le Figaro no domingo que França e Reino Unido propunham uma pausa que não afetaria os confrontos terrestres, apenas “nos céus, nos mares e nas infraestruturas energéticas”.

“Tal trégua em infraestrutura aérea, marítima e energética nos permitiria determinar se o presidente russo Vladimir Putin está agindo de boa-fé quando se compromete com um cessar-fogo, e é quando as verdadeiras negociações de paz poderiam começar” , disse o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, afirmou a repórteres em Londres que estava ciente do plano anunciado pelo presidente francês. Ele, que no dia 28 de fevereiro enfrentou um humilhante confronto seu homólogo americano, Donald Trump, na Casa Branca, passou o fim de semana na cidade, primeiro para reunir-se com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e depois para participar da reunião que tinha como pauta o seu país.

Durante o evento, Starmer anunciou um apoio de € 1,6 bilhão (cerca de R$ 11 bilhões) a Zelenski. Este permitirá que o país invadido compre 5.000 mísseis de defesa aérea.

O Kremlin, que já tinha criticado a cúpula na véspera, afirmou nesta segunda que o encontro era um “incentivo à guerra” e uma indicação do desalinhamento crescente entre a Europa e os Estados Unidos —sob Trump, o último tem se aproximado cada vez mais da Rússia. À revelia de Kiev e sem consultar outros aliados ocidentais, o republicano reverteu a política dos EUA ao abrir negociações com Moscou.

“Vemos que uma fragmentação do Ocidente coletivo começou”, disse o porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov. “Kiev e Zelenski não querem a paz. É muito importante que alguém force Zelenski a mudar sua posição”, acrescentou, fazendo referência à insistência do presidente americano e seu vice, J.D. Vance, em obrigar seu homólogo ucraniano a aceitar as suas condições para a paz no Leste Europeu.

A imagem mostra um grande telão exibindo uma conversa entre duas pessoas, uma delas é um homem com cabelo curto e barba, e a outra é um homem mais velho com cabelo grisalho. Abaixo do telão, há um grupo de pessoas segurando cartazes, incluindo um que diz 'TRUMP' e outro com a bandeira da Ucrânia. O telão exibe a mensagem: 'TO STAND WITH UKRAINE HERE TO SUPPORT THEM'.
Manifestantes se reúnem no centro de Chicago, Illinois, para mostrar apoio à Ucrânia enquanto o noticiário na TV mostra bate-boca entre Zelenski e Trump – Scott Olson – 2.mar.25/Getty Images via AFP

Peskov afirmou, aliás, que o presidente russo, Vladimir Putin, tinha acompanhado o que chamou de “evento sem precedentes” na Casa Branca. Disse ainda que o entrevero entre os líderes demonstrou a falta de habilidades diplomáticas de Zelenski.

Esta não é a opinião dos líderes europeus, que em sua grande maioria saíram em defesa do ucraniano. O ex-presidente da Polônia e Nobel da Paz Lech Walesa, por exemplo, divulgou nesta segunda uma carta a Trump expressando “horror e repulsa” à sua discussão com Zelenski na Casa Branca.

No domingo, Zelenski disse acreditar ainda poder salvar seu relacionamento com Trump, mas manteve a sua posição de que a Ucrânia não cederia nenhum território à Rússia para encerrar a guerra. O ucraniano afirma que um cessar-fogo deve ter garantias de segurança explícitas do Ocidente para garantir que a Rússia não ataque novamente.

O líder da Ucrânia afirmou nesta segunda que o país precisa tornar suas ações diplomáticas mais sólidas e eficazes para encerrar o conflito, e disse que esperar contar com o apoio americano para um cessar-fogo definitivo.

“É muito importante que tentemos tornar nossa diplomacia realmente substancial para acabar com esta guerra o mais rápido possível. Estamos trabalhando junto com a América e nossos parceiros europeus, e esperamos muito pelo apoio dos EUA no caminho para a paz. A paz é necessária o mais rápido possível”, escreveu Zelenski no X.

Ele e seus aliados veem a invasão russa de 2022 como uma apropriação imperialista de terras. Putin, por sua vez, defende que o conflito é uma batalha contra um Ocidente decadente que, segundo ele, humilhou Moscou após a Queda do Muro de Berlim, em 1989, expandindo a Otan e invadindo a esfera de influência russa, que incluiria Kiev.

Também no domingo (2), o presidente ucraniano afirmou, segundo a agência AP, que um acordo para acabar com o conflito no Leste Europeu “ainda está muito, muito distante”. Em seu perfil no Truth Social, Trump reagiu dizendo que foi a pior declaração que Zelenski poderia ter feito, e que “a América não vai tolerar isso por muito mais tempo”.

“Esse cara não quer que haja paz enquanto tiver o apoio da América e, na reunião que tiveram com Zelenski, a Europa afirmou categoricamente que não pode fazer o trabalho sem os EUA —provavelmente não foi uma grande declaração em termos de demonstração de força contra a Rússia. O que eles estão pensando?”.

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