Rússia tem dificuldade em fabricar novas armas, diz relatório

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Reservistas russos participam de cerimônia na região de Rostov antes de partirem para a área do conflito entre Rússia e Ucrânia. Foto: Reuters

Por Brad Lendon

As perdas no campo de batalha e as sanções ocidentais deixaram as forças armadas russas em declínio, mas Moscou ainda terá poder de fogo suficiente para estender a guerra na Ucrânia, de acordo com uma nova análise independente.

O relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dá números absolutos de perdas militares russas – quase 10 mil unidades de equipamentos essenciais, como tanques, caminhões, peças de artilharia e drones aéreos, de acordo com uma estimativa.

Mas também diz que a Rússia pode usar estoques da era da Guerra Fria e mais antigos nas linhas de frente para compensar em números o que pode ter perdido em tecnologia. “A qualidade das forças armadas russas em termos de equipamentos avançados provavelmente diminuirá, pelo menos no curto prazo”, diz o relatório do CSIS.

Ele observa como as perdas russas de tanques de batalha principais, especialmente os modernos, foram severas.

“Estima-se que Moscou tenha perdido de 1.845 a 3.511 tanques em um ano de guerra”, diz o relatório do CSIS, com perdas de seu tanque principal de batalha T-72B3 mais recente e atualizado, entregue pela primeira vez em 2013, notado como especialmente prejudicial.

O site de inteligência de código aberto Oryx, com sede na Holanda, diz ter evidências visuais de mais de 500 variantes do T-72B3 destruídas, danificadas, abandonadas ou capturadas a partir desta semana.

Autoridades ocidentais, falando durante um briefing na terça-feira (18), também observaram a pressão sobre a frota de tanques russa.

“Eles estão retrocedendo em termos de equipamento”, disseram as autoridades sobre os blindados russos, observando que os tanques T-55, introduzidos em 1948, agora estão aparecendo no campo de batalha.

O relatório do CSIS destaca o problema que a Rússia enfrenta na construção de novos tanques, citando relatos da mídia russa.

Uma fábrica de tanques, a UralVagonZavod, pode produzir cerca de 20 tanques por mês. Mas a Rússia perde, em média, quase 150 tanques de todos os tipos na Ucrânia a cada mês, diz. E depois há a falta de hardware moderno.

O relatório do CSIS diz que Moscou precisa reformar e colocar seus tanques de décadas de volta em ação porque simplesmente não tem recursos para construir novos, com as sanções ocidentais deixando-o incapaz de fornecer peças e ferramentas necessárias para montar um tanque moderno.

“Fornecedores menos confiáveis”

As sanções cortaram o acesso russo a sistemas ópticos – necessários para os artilheiros de tanques escolherem alvos – rolamentos de esferas e máquinas-ferramentas, disse o relatório do CSIS.

Especificamente para sistemas ópticos, a Rússia dependia de importações francesas durante sua produção pré-guerra, disse o relatório.

Com essas importações cortadas por sanções, ele é forçado a colocar miras de artilharia mais antigas e menos sofisticadas até mesmo em seus tanques mais modernos, resultando em uma possível perda de até dois quilômetros de alcance, disse.

No caso dos rolamentos de esferas de alta qualidade – “fundamentais para a produção de qualquer tipo de veículo em movimento”, disse o relatório – 55% do suprimento da Rússia antes da guerra veio da Europa e da América do Norte. Com essas fontes agora perdidas, pode tentar compensar o déficit com suprimentos produzidos internamente ou importações de qualidade inferior da China ou da Malásia, disse o relatório.

De qualquer forma, a Rússia não consegue obter a qualidade que tinha antes da guerra.

“Moscou está sob pressão para se adaptar, muitas vezes recorrendo a fornecedores e rotas de abastecimento menos confiáveis e mais caros, importações de qualidade inferior ou tentando reproduzir componentes ocidentais internamente. Isso provavelmente está prejudicando a taxa e a qualidade da produção de defesa russa”, disse o relatório.

A perda de componentes ocidentais não é sentida apenas nos tanques, diz o relatório.

Aeronaves tripuladas e não tripuladas, mísseis e equipamentos de guerra eletrônica precisam de peças modernas e de alta tecnologia – incluindo microchips – que a Rússia não consegue adquirir adequadamente de fornecedores internos e tem dificuldade de importar por causa das sanções ocidentais, afirmou.

Vantagem numérica

Mas o relatório adverte que a Ucrânia e seus apoiadores ocidentais não devem esperar que esses problemas de abastecimento interrompam rapidamente as hostilidades.

“Sanções e controles de exportação não são uma bala de prata que forçará a Rússia a encerrar a guerra”, afirmou.

A Rússia ainda mantém vantagens numéricas sobre a Ucrânia, disse o relatório, porque tem grandes estoques em reserva.

“As capacidades militares da Rússia ainda superam em muito as da Ucrânia na maioria dos indicadores, incluindo poder humano, aéreo, terrestre e naval”, diz o relatório.

“Embora uma contagem precisa dos estoques militares atuais de Moscou não esteja disponível publicamente, estima-se que, em fevereiro de 2023, o número total de aeronaves à disposição do Kremlin tenha sido 13 a 15 vezes maior que o de Kiev. A Rússia tem cerca de 7 a 8 vezes mais tanques e 4 vezes mais veículos blindados de combate, enquanto sua frota naval é 12 a 16 vezes maior que a da Ucrânia”, diz.

As vantagens numéricas permitirão a Moscou travar uma guerra de desgaste no próximo ano, lançando números no campo de batalha até que a Ucrânia, mesmo com menos perdas, fique sem hardware, diz o relatório.

Para compensar as vantagens numéricas russas, mesmo de armamento inferior, é vital que os países ocidentais mantenham armamentos tecnologicamente superiores fluindo para a Ucrânia.

Por exemplo, os tanques mais antigos são vulneráveis a mísseis portáteis Javelin, diz.

“Este é o ponto crucial desta guerra em seu segundo ano: os militares russos podem contar com sua massa e continuar alimentando tecnologia mais antiga ou menos avançada, desde que pensem que podem simplesmente sobreviver às entregas ocidentais de armas. e sistemas para a Ucrânia”, diz o relatório do CSIS.

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