Sobrinha que denunciou pediatra paraibano preso por estupros de crianças diz que pela primeira vez ‘tem paz’

Gabriela Cunha Lima
Gabriela Cunha Lima, sobrinha do médico Fernando Cunha Lima, que foi presa na sexta-feira (7), suspeita de estuprar seis filhos, afirmou que se sente aliviada pela primeira vez em 42 anos. Ela denunciou que foi abusada pelo tio quando tinha 9 anos, na década de 1990.
O médico foi preso em Pernambuco, após quatro meses foragido. Ele nega os crimes e disse que não vai ficar preso.
“Hoje é o primeiro dia em 42 anos, quase 43, que eu tenho paz”, disse Gabriela Cunha Lima
Após a mãe de um dos pacientes do médico denunciou, em agosto de 2024, uma sobrinha relatada que foi abusada pelo tio. Na época, não houve uma denúncia formal, mas o fato ocasionou uma brincadeira familiar.
Uma mulher conta que na infância a família tinha a fantasia de passar férias na casa de praia do médico, em João Pessoa. Em uma dessas graças, ela foi chamada pelo pediatra e tio para ir até o quarto dele. Quando chegou no local, foi abusada pelo homem.
Há dois anos, Gabriela Cunha Lima não falou aos familiares sobre o ocorrido, tendo contado apenas para uma prima que esteve na casa do pediatra no dia do ocorrido.

“Ter um estuprador de criança a menos na rua é motivo de conforto. Você ter o seu estuprador na prisão depois de 33 anos é um motivo de rompimento, de muito rompimento”, afirmou a sobrinha de Fernando Cunha Lima.
Gabriela e uma outra sobrinha do médico foram incluídas no processo como testemunhas, porque os crimes contra elas já foram prescritos, devido ao tempo decorrido entre o crime, em 1991, e a denúncia. Porém, os depoimentos deles são relevantes para dar embasamento ao inquérito.
Rede de apoio em Pernambuco
O pediatra Fernando Cunha Lima, preso na manhã de sexta-feira (7), estava em um imóvel proprietário com sua esposa no município de Paulista, em Pernambuco, e tinha uma rede de apoio para continuar foragido. A prisão foi realizada pela Polícia Civil da Paraíba, e o médico foi levado para a Central de Polícia, em João Pessoa.
A Polícia Civil afirmou em entrevista coletiva que o médico estava morando em um bairro de classe média baixa. A equipe assinou o imóvel onde ele vivia, foi até o local e a esposa do médico abriu a porta para os policiais. Nesse momento, eles já conseguiram visualizar o pediatra no sofá da residência e deram voz de prisão.
Em um primeiro momento, no mês de novembro, o médico estava morando na casa da filha, no bairro Casa Forte, no Recife. Ele fugiu uma semana antes da Polícia Civil ir até o local e realizou uma busca na residência.
“Ele se deslocou para a cidade de Paulista, pulou para diversos endereços, e hoje nos revelou que estava neste endereço já fazia alguns meses. Disse que não estava tendo contato com os familiares, apenas por telefone”, afirmou o delegado da Draco, Rafael Bianchi.
O médico foi apresentado à Polícia Civil da Paraíba, em João Pessoa, fez exame de corpo de delito e passou por audiência de custódia em Pernambuco. Depois, em dados ainda não definidos, deverá retornar para a Paraíba.
De acordo com a Polícia Civil, o pedido de prisão não poderá ser reavaliado ou suspenso pela Justiça de Pernambuco.
O que diz a defesa do médico?
A defesa do médico afirmou, em nota, que entrou com um habeas corpus em favor de Fernando Cunha Lima contra o fato de a Polícia Civil ter trazido o médico para João Pessoa. A Justiça entendeu que a audiência de custódia deve acontecer de fato em Pernambuco, local da prisão.
Ainda segundo a defesa, desde 21 de fevereiro, o médico pediu para ser preso e cumprir sua prisão no Recife por temer por sua integridade física e por ser o local onde mora sua família.
No entanto, o delegado Rafael Bianchi afirmou que trouxeram o pediatra para João Pessoa após um pedido do próprio. Ele afirmou à Polícia Civil que preferia ficar perto da família, já que a maior parte dela está em João Pessoa e apenas uma filha está em Recife.
As acusações contra o médico
A primeira denúncia formal de estupro de vulnerabilidade contra o pediatra Fernando Cunha Lima tornou-se pública em agosto de 2024.
A mãe da criança, que estava no consultório, disse em depoimento que viu o momento em que ele teria tocado as partes íntimas da criança. Ela informou que na ocasião retirou imediatamente os dois filhos do local e foi prestar queixa à Delegacia de Polícia Civil.
Após a primeira denúncia, uma série de vítimas resultou na procura da Polícia Civil, inclusive a sobrinha do médico
O médico pediatra acusado de estuprar crianças, em João Pessoa, atendia a maioria das vítimas desde bebês e tinha a confiança das famílias. Fernando Paredes Cunha Lima é um pediatra famoso na capital paraibana e tinha uma clínica particular no bairro de Tambauzinho.
Desde o início das investigações, a polícia e o Ministério Público estadual pediram a prisão dele em cinco graças, todas negadas. Mas, em novembro de 2024, os desembargadores da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba decidiram acolher o recurso do MP de forma unânime determinando a prisão dele pela primeira vez.