Tarifas de Trump deixam empresas em alerta e levam consumidor a cortar gastos nos EUA; presidente diz que não vê risco de recessão ‘de jeito nenhum’

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Donald Trump sugeriu mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América

A incerteza trazida pelas ameaças de tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, e suas políticas comerciais mutáveis estão começando a ter um efeito negativo em muitos setores, alertam as empresas, com os norte-americanos retraindo o consumo de tudo: dos produtos básicos a viagens.

As medidas tarifárias de Trump contra os principais parceiros comerciais deixaram empresas, consumidores e companhias nervosos, levando as companhias a alertar que talvez tenham que elevar preços. Isso poderia aumentar a inflação e prejudicar o crescimento econômico.

Embora Trump tenha dito que suas políticas podem causar problemas no curto prazo, as preocupações sobre as consequências econômicas se intensificaram no fim de semana, depois que ele se recusou a prever se as medidas econômicas causariam uma recessão.

Na segunda-feira (10), os receios alimentaram uma liquidação no mercado de ações que provocou uma desvalorização de quase US$ 5 trilhões (R$ 29,27 trilhões) do pico do S&P 500 no mês passado, quando Wall Street aplaudia grande parte da agenda de Trump.

Falando após o fechamento do mercado na segunda-feira, o CEO da Delta Air Lines alertou que as preocupações econômicas entre consumidores e empresas já estavam prejudicando as viagens domésticas.

“Vimos empresas começarem a recuar. Os gastos corporativos começaram a estagnar”, disse o CEO Ed Bastian à CNBC. “Consumidores de um setor discricionário não gostam de incertezas.” Nesta terça, foi a vez das aéreas American Airlines e United Airlines alertarem para uma queda nas vendas.

Os cortes nos gastos discricionários feitos pelos norte-americanos derrubaram as ações das companhias aéreas nesta terça-feira. A cada dia aumentam as evidências no mundo corporativo de que a implementação caótica das tarifas de Trump está se traduzindo em cautela na Main Street —a economia da classe média.

Espera-se que Trump fale com cerca de 100 CEOs em uma reunião regular da Business Roundtable em Washington, um grupo influente que inclui chefes de grandes empresas dos EUA, como Apple, JPMorgan Chase e Walmart. O presidente republicano já havia se encontrado com executivos de empresas de tecnologia na Casa Branca na segunda-feira.

ÚLTIMAS TARIFAS

A última rodada de tarifas de Trump —taxas de 25% sobre aço e alumínio importados— entrou em vigor nesta quarta-feira (12).

As taxas serão aplicadas a milhões de toneladas de importações de aço e alumínio de Canadá, Brasil, México, Coreia do Sul e outros países, cujos produtos estavam entrando nos EUA sem impostos devido a exceções.

Trump prometeu que as tarifas serão aplicadas “sem exceções ou isenções”, uma medida que ele espera que ajude as indústrias norte-americanas em dificuldades.

Na terça-feira (11), o presidente dos EUA anunciou que dobrará a tarifa planejada sobre todas as importações de aço e alumínio do Canadá, elevando o total para 50%, em resposta à imposição de uma sobretaxa de 25% pela província de Ontário sobre a eletricidade exportada para os Estados Unidos.

Em uma publicação no Truth Social, Trump também ameaçou “aumentar substancialmente” as tarifas sobre carros que entrarem nos Estados Unidos em 2 de abril, “se outras tarifas flagrantes e de longa data não forem igualmente eliminadas pelo Canadá”.

Antes dessas medidas, uma série de pesquisas recentes com empresas e consumidores dos EUA mostraram uma deterioração do sentimento, o que, se mantido, pode prejudicar os investimentos e os gastos das famílias.


As idas e vindas das tarifas de Trump sobre Canadá e México

  • 1º de fevereiro

    Donald Trump anuncia tarifas adicionais de 25% sobre todas as importações do Canadá e México, com exceção de produtos de petróleo e da energia canadenses, que terão taxa de 10%. No decreto inicial, tarifas estavam previstas para entrar em vigor três dias depois, em 4 de fevereiro.

  • 3 de fevereiro

    Um dia antes de tarifas começarem a valer, Trump recua pela primeira vez e as suspende por 30 dias. Adiamento ocorre após acordos com os governos vizinhos, que se comprometem a reforçar a segurança nas fronteiras.

  • 10 de fevereiro

    Trump aumenta tarifas sobre aço e alumínio de todos os países para 25% e exclui isenções anteriores para grandes fornecedores, que incluíam Canadá e México. Mudanças estão previstas para entrar em vigor no dia 12 de março.

  • 27 de fevereiro

    Após rumores de que iria adiar novamente tarifas, Trump confirma que prazo do dia 4 de março se mantém e diz que Canadá e México não fizeram o suficiente para conter o fluxo de fentanil nas fronteiras.

  • 4 de março

    Tarifas de 25% para produtos canadenses e mexicanos e de 10% para produtos de petróleo e energia do Canadá entram em vigor. Canadá retalia com tarifas de 25% e México promete uma resposta.

  • 5 de março

    Um dia após início das tarifas, Trump recua pela segunda vez e isenta por um mês montadoras instaladas nos EUA das tarifas de 25% sobre produtos importados dos vizinhos Canadá e México. Suspensão vale para as montadoras que cumpram os termos do USMCA (acordo de livre-comércio já existente entre os três países).

  • 6 de março

    Trump recua pela terceira vez e, após conversar com líderes dos países vizinhos, suspende até 2 de abril as tarifas sobre todos os produtos mexicanos e canadenses contemplados pelo USMCA.

  • 7 de março

    Trump faz ameaças contra produtos do Canadá, afirmando que pode impor tarifas sobre produtos lácteos e madeireiros do país

  • 11 de março

    Trump anuncia que vai dobrar a tarifa para produtos com aço e alumínio importados do Canadá, para 50%. A princípio, medida entra em vigor no dia 12 de março junto com tarifas de 25% sobre aço e alumínio de todos os parceiros dos EUA.


A Federação Nacional de Empresas Independentes —um grupo de lobby de Washington cujos membros apoiaram firmemente Trump na eleição de 2024— relatou que o sentimento das pequenas empresas enfraqueceu pelo terceiro mês consecutivo, reduzindo a empolgação com a vitória eleitoral de Trump.

“A incerteza é alta e crescente na Main Street, e por muitos motivos”, disse o economista-chefe da NFIB, Bill Dunkelberg.

Na segunda-feira (10), a pesquisa mensal do Fed de Nova York sobre as expectativas do consumidor mostrou que as famílias estavam ficando mais pessimistas sobre suas perspectivas financeiras para o próximo ano. Uma parcela maior de entrevistados esperava um aumento no desemprego.

As empresas dos EUA em geral receberam a eleição de Trump com otimismo, alimentadas por promessas de desregulamentação e cortes de impostos.

Mas os republicanos no Congresso ainda não chegaram a um acordo sobre um plano que lhes permitiria cortar impostos e, em vez disso, estão focados esta semana em evitar uma paralisação do governo quando o financiamento expirar à meia-noite de sexta-feira (14).

RELUTÂNCIA

Empresas sensíveis a mudanças no sentimento do consumidor e dos negócios estão soando o alarme sobre a desaceleração da demanda por bens domésticos e industriais.

A Henkel, da Alemanha, que fabrica os produtos para cabelo Sellotape e Schwarzkopf, disse nesta terça-feira que as políticas de Washington estavam prejudicando o mercado dos EUA desproporcionalmente.

A empresa, que também fabrica adesivos, atualmente vê uma “relutância” em termos de demanda nos EUA, tanto para os segmentos de consumo quanto industrial, disse o CEO Carsten Knobel.

Trump diz que não vê risco de recessão nos EUA ‘de jeito nenhum’

Ao ser questionado se sua agenda tarifária não arrastaria os Estados Unidos para uma crise, o presidente Donald Trump disse na terça-feira (11) que não vê risco algum e minimizou a queda nas ações das Bolsas americanas com os temores do mercado de uma recessão.

“Não vejo isso de jeito nenhum. Acho que esse país vai explodir”, disse Trump na Casa Branca em conversa com repórteres.

No domingo (9), o presidente já havia descartado uma recessão ou inflação mais alta.

“Eu odeio prever coisas como essa. Há um período de transição, porque o que estamos fazendo é muito grande. Estamos trazendo riqueza de volta para a América. Isso é algo grande, e sempre há períodos, leva um pouco de tempo”, disse em uma entrevista à Fox News.

Em reunião com bancos e empresários na terça (11), Trump disse que “as tarifas estão tendo um impacto tremendamente positivo” no país e afirmou que elas podem ultrapassar 25%.

“Quanto mais alto forem, mais provável é que elas reconstruam [os Estados Unidos]”, disse.

A Casa Branca confirmou que irá prosseguir com as tarifas de 25% sobre aço e alumínio de “todos os parceiros comerciais, sem exceções ou isenções”. A medida, que havia sido anunciada em fevereiro, entrou em vigor à meia-noite desta quarta-feira (12).

Os mercados globais reagiram, o que levou a uma desvalorização do dólar globalmente e a uma queda nas bolsas americanas. O S&P 500 caiu 0,76%, a 5.572 pontos, a Nasdaq recuou 0,18%, a 17.436 pontos, e Dow Jones perdeu 1,14%, a 41.433 pontos.

Trump chegou a minimizar as preocupações dos investidores e disse que os mercados “vão subir e vão cair, mas quer saber? Temos de reconstruir nosso país”.

No Brasil, na terça-feira (11), o dólar fechou em queda firme de 0,75% ante o real, cotado a R$ 5,810, e a Bolsa aprofundou as perdas do dia anterior e fechou em queda de 0,81%, a 123.507 pontos.

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