Testemunha diz que Flordelis permitia que pastor alisasse filha: ‘Se a mulher está ciente que o marido procura outra, não é pecado’

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Por Eliane Santos e Henrique Coelho

O terceiro dia de julgamento de Flordelis, na quarta-feira (9), no Fórum de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, seguiu com o depoimento de testemunhas de acusação, formadas por parentes que romperam com a ex-deputada.

A ex-deputada é acusada da morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, no dia 16 de junho de 2019. Também estão sendo julgados por envolvimento no assassinato a filha biológica de Flordelis Simone dos Santos, a neta Rayane dos Santos e os filhos adotivos André Luiz e Marzy Teixeira.

Entre os depoentes estava a filha afetiva Daiane Freires, que depôs por videoconferência, e montou um panorama de como era a vida na casa da família e como ela ficou depois da morte do pastor Anderson do Carmo.

Ao ser questionada pela advogada de defesa de Flordelis se já tinha presenciado algum abuso por parte do pastor, Daiane relatou que a irmã Kelly contou que o Anderson do Carmo costumava entrar no quarto para alisá-la.

Ela inicialmente não acreditou e ouviu da irmã que era para ficar acordada à noite que veria. Ao se confirmar a situação, perguntou para Kelly por que ela não tomava alguma atitude, por que não contava para Flordelis.

“Ela me respondeu que já tinha contado e que ouviu da mãe: ‘Se a mulher está ciente que o marido procura outra, não é pecado’”, disse Daiane sobre o diálogo entre Flordelis e Kelly.

A advogada Janira Rocha, que conduzia as perguntas quis saber se Anderson do Carmo tinha algum envolvimento com alguma outra parente.

“Acho que só com a Simone [filha biológica de Flordelis] , mas ela se beneficiava daquilo. Ele pagou peito para ela e dizia que precisava usufruir daquilo que ele deu”, disse Daiane, que depois complementou:

“Ouvi isso da boca da própria Simone, que disse que estava com muito nojo dele.”

Daiane foi a terceira testemunha de acusação a falar na quarta-feira (9). Antes dela, depuseram Luana Vedovi, nora da Flordelis e Daniel dos Santos, filho adotivo da ex-deputada federal.

Em sua fala, Luana citou um plano confidenciado a ela por Marzy Teixeira, filha adotiva da missionária.

“Ela [Marzy] disse: ‘Matar o Niel [Anderson] vai resolver o problema de todo mundo. Ele é muito rigoroso, ninguém é feliz naquela casa’. Ela foi completamente inundada disso”, disse Luana.

Durante as perguntas dos jurados, ela também fez críticas ao pastor Anderson. Segundo Luana, Flordelis e o ex-marido mantinham segredos e “muitas mentiras”, o que iria contra as leis religiosas seguidas pelo casal.

“O pastor Anderson também não era um pastor de verdade”, lamentou. “É muito doloroso dizer isso”

Filho registrado

Daniel dos Santos de Souza, registrado como filho de Flordelis e Anderson do Carmo, foi o segundo a prestar depoimento.

Assim como Wagner e Alexsander, filhos afetivos da pastora e ex-deputada federal, Daniel também prestou depoimento por videoconferência porque não quis falar em frente aos réus. O motivo, segundo ele, é sentimental.

Durante o depoimento de Daniel, Flordelis chorou e foi amparada por uma das advogadas de sua equipe de defesa. Ao contar sobre a noite da morte de Anderson, Daniel também chorou.

“Era perto da garagem”, relatou Daniel. “Eu me lembro de ouvir seis disparos. Teve intervalo sim, entre os tiros. A minha mãe, Flordelis, gritava, que tinham matado o marido dela”

Daniel também confirmou que sabia de um plano para matar o pastor Anderson do Carmo, e que inclusive o próprio Anderson sabia da existência do complô:

“Soube através do Lucas, que estava junto comigo no carro, e contou que a Marzy estava oferecendo dinheiro para matar meu pai”, relatou.

Lucas foi condenado a sete anos de prisão, em 2021, por intermediar a compra da arma utilizada no crime.

Reunião na ‘sala vip’

Após o enterro de Anderson do Carmo, segundo Daniel, houve uma reunião em que Flordelis o chamou para conversar em uma “sala vip”.

Segundo ele, Flordelis criticou Anderson e disse que “Deus já estava planejando levá-lo”.

“Ela falava que meu pai não era nenhum santo, e sempre dizia que Deus ia levar meu pai, que ele fazia algumas coisas erradas”

Daniel contou, após uma pergunta dos jurados, que sabia de planos para tentar envenenar o pastor Anderson:

“Tayane disse que uma vez o Miguel foi pegar o iogurte para tomar, sendo que ela não deixou, ela tomou e passou mal”

Julgamento até agora

Até a quarta-feira, foram ouvidas seis testemunhas arroladas pela acusação: os delegados Bárbara Lomba e Allan Duarte, Regiane Ramos, o inspetor Tiago Vaz e os filhos afetivos de Flordelis Alexsander Mendes e Wagner Pimenta.

Além da ex-parlamentar, outros quatros réus estão sendo julgados: a filha biológica de Flordelis Simone dos Santos, a neta Rayane dos Santos e os filhos adotivos André Luiz e Marzy Teixeira.

A morte de Anderson do Carmo ocorreu na noite de 16 de junho de 2019. O pastor foi morto, com mais de 30 tiros, na garagem da casa onde morava com a família, em Pendotiba, Niterói.

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