© Ozan KOSE. Contêineres de carga empilhados no porto turco de Haydarpasaa, em 18 de fevereiro de 2022, em Kadikoy, Istambul

A Turquia registrou um nível recorde de exportações em 2021 e sonha com se tornar a “fábrica do mundo” às portas da Europa, impulsionada por uma moeda fraca e pela vontade das multinacionais de aproximarem a produção de seus principais mercados.

Em 2021, a Turquia exportou US$ 225,4 bilhões e pretende chegar aos US$ 300 bilhões em 2023.

Para isso, aposta suas cartas na proximidade com a Europa, em um momento no qual a alta no custo do transporte marítimo e os problemas nas cadeias de abastecimento levam as empresas europeias a reduzirem sua dependência da Ásia.

Há, no entanto, muitos obstáculos no caminho do “made in Türkiye” (fabricado na Turquia), advertem especialistas.

“Muitas multinacionais estão dando passos para se abastecer mais na Turquia”, disse à AFP o presidente do Escritório de Investimentos da Presidência turca, Burak Daglioglu, ressaltando que o país atrai, há muito tempo, gigantes dos setores automobilístico e têxtil e oferece uma mão de obra qualificada, uma geografia “perfeita” e “infraestruturas de ponta”.

No final do ano passado, a sueca Ikea anunciou que pretende transferir parte de sua produção para a Turquia, e o grupo italiano de moda Benetton confirmou à AFP que quer “aumentar seu volume de produção em vários países mais próximos da Europa, entre eles a Turquia”.

O vice-presidente da Câmara de Comércio Holanda-Turquia, Peter Wolters, disse “receber pedidos dos setores de casa e jardim, do têxtil e da moda e da indústria de construção de iates”, de empresários que desejam reduzir suas cadeias de abastecimento.

– Custos dos transportes disparam –

Trazer mercadorias da Ásia se tornou extremamente caro. Devido à escassez de contêineres nos portos, os custos de frete se multiplicaram por mais de nove desde fevereiro de 2020 entre a China e o norte da Europa, de acordo com o índice Freightos Baltic.

A Turquia fica, por sua vez, a apenas três dias de caminhão da Europa Ocidental.

Um estudo da consultoria McKinsey publicado em novembro passado colocou a Turquia em terceiro lugar entre os países com maior potencial de oferta têxtil até 2025, atrás de Bangladesh e Vietnã, mas à frente de Indonésia e China.

“As empresas de vestuário buscam mudar seu ‘mix’ de fornecimento” e “se aproximar” de seus mercados, escrevem os autores do estudo, que também observam que a Turquia oferece “custos de produção mais baixos, devido a uma lira turca mais barata”.

Como consequência do colapso da moeda local frente ao dólar (-44% em 2021), o salário mínimo líquido na Turquia é, hoje, equivalente a US$ 315, um nível apenas ligeiramente superior ao da Malásia.

Para alguns observadores, o presidente Erdogan, que está há 20 anos no poder e espera ser reeleito em 2023, aposta na fraqueza da lira para impulsionar as exportações e o crescimento, apesar de sua intenção declarada de aumentar o poder aquisitivo dos turcos.

O colapso da lira turca também é problemático para a indústria, por causa da dependência do país das importações de energia e de certos materiais básicos.

“Não é como a Rússia, por exemplo, que tem abundantes matérias-primas”, diz o economista Roger Kelly, economista do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD).

Segundo ele, cada vez mais empresas vão apostar na Turquia.

“Ainda não vemos grandes investimentos, apesar de a Turquia ser, do ponto de vista puramente econômico, o país perfeito para aproximar a produção da Europa”, comenta Erdal Yalcin, professor de economia internacional da Universidade de Konstanz, na Alemanha.

A culpa – explica Yalcin – está na “incerteza institucional e jurídica” da Turquia e na diplomacia de Ancara.

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