Estação Espacial Internacional bn (1)

Por Eduardo F. Filho

Foi no começo de novembro do ano 2000 quando a nave Soyuz entrou em órbita carregando três tripulantes – o comandante americano Bill Shepherd e os russos Sergei Krikalev e Yuri Gidzenko – em direção à nova e inóspita Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla americana). Em um raro e breve momento, russos e americanos, historicamente adversários, urraram de felicidade e se abraçaram ao redor do mundo. Depois de dois anos do início da construção da estação, finalmente, humanos começavam a se hospedar no espaço. “A partir de agora, estaremos sempre com pessoas orbitando a Terra. Construiremos bases em Marte, na Lua e até em asteróides”, afirmou, na época, o então diretor da Nasa, a agência espacial americana, Daniel Goldin. Ele não estava errado. Nesses 24 anos a ISS foi ocupada por um seleto grupo de pouco mais de 250 pessoas – entre eles, apenas um brasileiro, o atual ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes. A história, entretanto, teve um ponto final marcado na última semana. Em relatório, a Nasa divulgou que a ISS funcionará apenas até 2030. O destino final da nave será o Oceano Pacífico, mais precisamente no Ponto Nemo, conhecido como o cemitério do espaço, pois representa a posição mais distante de qualquer litoral em todo o planeta. É lá, por exemplo, que a antecessora da Estação Internacional, a russa Mir, que ficou 14 anos no espaço, está “enterrada”.

Segundo a agência espacial americana, a suspensão das atividades na estação marca um momento de transição das atividades em órbita para o setor comercial, principalmente agora que empresas privadas, como a SpaceX, do bilionário Elon Musk, estão investindo muito dinheiro em pesquisas no turismo espacial. “O setor privado é técnica e financeiramente capaz de desenvolver e operar destinos comerciais na órbita, com a assistência da Nasa”, afirmou Phil McAlister, diretor de espaço comercial da agência. Além disso, a aposentadoria da nave resultará em uma economia de US$ 1,3 bilhão. Até 2014, por exemplo, os EUA já tinham investido quase US$ 75 bilhões na ISS e deveria gastar cerca de US$ 4 bilhões anuais com a manutenção e operação no local.

Principais experimentos

Estima-se que já foram realizados mais de três mil estudos dentro da ISS que ajudaram diretamente a vida na Terra. Como, por exemplo, a reciclagem da água. O Sistema de Recuperação de Água da ISS permite que 93% da água da nave seja reutilizada. Até mesmo o suor e a urina são convertidos em água potável. O sistema foi aplicado em partes do Iraque e da África subsaariana para abastecer a população. Pesquisas dentro da nave espacial foram importantes para conhecer e entender o corpo humano na microgravidade. Em 2016, uma experiência realizada com os astronautas gêmeos, Scott e Mark Kelly, mostrou os efeitos do espaço sob o nosso organismo. Enquanto Mark continuou sua vida normalmente na Terra, Scott passou 340 dias no espaço. O resultado foi surpreendente, o coração do astronauta encolheu mais de um quarto pelo efeito da gravidade zero. Além disso, a pesquisa confirmou que ossos perdem a densidade, o sangue não flui como deveria, os olhos achatam e, principalmente, os músculos atrofiam.

A aposentadoria da ISS marca o fim de uma grande e produtiva era no espaço, mas também o início de uma nova fase de descobertas do universo. Além da SpaceX, de Elon Musk, a Blue Origin, do fundador da Amazon, Jeff Bezos – responsável por levar um dos homens mais ricos do mundo para uma viagem no espaço no ano passado –, e outras empresas privadas, estão investindo bilhões de dólares em pesquisas e investimentos. Em abril deste ano, a SpaceX levará mais quatro tripulantes para a Estação Espacial Internacional, e no dia 30 de março será lançada a primeira missão privada de envio de astronautas à ISS. Os quatro tripulantes (da Espanha, Estados Unidos, Canadá e Israel) são da empresa Axiom Space. O quarteto vai passar oito dias a bordo do laboratório em órbita realizando atividades científicas, educacionais e comerciais antes de seu retorno à Terra. Esses programas comerciais tripulados podem gerar uma economia de até US# 30 bilhões à Nasa. Se o céu não é o limite, o espaço também não será. Próxima parada: Marte.

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