Viagem de Lula ao Egito deve ter discurso pró-Palestina e turismo nas pirâmides
por Renato Machado
O presidente Lula (PT) embarca na próxima terça-feira (13) para uma viagem oficial ao Egito e à Etiópia, num roteiro que deve ter como um dos principais momentos um discurso em defesa da Palestina na sede da Liga Árabe, no Cairo.
Lula ainda deve aproveitar a sua estada na capital egípcia para visitar as pirâmides e o Grande Museu do Egito, ao lado da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja. Na Etiópia, a segunda perna da viagem à África, ele participará da cúpula da União Africana.
A visita ocorre mais de 20 anos após a primeira ida de Lula ao país, em dezembro de 2003, no seu primeiro mandato. Na ocasião, a passagem pelo Cairo fez parte de um giro por outras nações árabes, como Síria, Líbia e Emirados Árabes Unidos.
Há algumas semelhanças entre as duas viagens. Apesar de que o objetivo anunciado há duas décadas fosse estritamente comercial, Lula fez diversos comentários sobre o processo de paz entre Israel e Palestina, defendendo a criação de um Estado para os palestinos —anos mais tarde, o Brasil reconheceria a soberania palestina.
As falas aconteciam em um dos muitos momentos de conflito na região. Quando Lula chegou ao Egito, Israel havia feito uma incursão na Faixa de Gaza e explodido um prédio em Rafah —a mesma cidade por onde estrangeiros, incluindo brasileiros, foram retirados durante a atual guerra entre os israelenses e o grupo terrorista Hamas.
No primeiro dia no Cairo, na quarta-feira (14), Lula e Janja devem visitar as pirâmides, no entorno da capital egípcia. A ida até os monumentos históricos foi um pedido do próprio presidente, que para isso vai chegar com antecedência de um dia em relação aos compromissos oficiais.
Em dezembro de 2003, Lula também reservou um tempo para turismo histórico. Na ocasião, acompanhado da então primeira-dama Marisa Letícia (1950-2017), ele esteve no museu do Cairo, visitando em particular os objetos do faraó Tutancâmon (1340 a.C.-1322 a.C.), até hoje o único imperador egípcio cuja tumba foi encontrada intacta, em 1922.
Lula deve visitar a Liga Árabe na quinta-feira (15). Autoridades do Brasil e da organização estão em tratativas finais para que ele discurse numa plenária extraordinária. A participação carrega um grande simbolismo, considerando que ele deve falar diretamente para todos os embaixadores dos 22 países-membros.
Se o discurso efetivamente ocorrer, interlocutores no Palácio do Planalto apontam que o tom será em favor da paz, condenando as mortes de civis, em particular mulheres e crianças. O presidente, então, deve fazer uma defesa da existência de um Estado palestino que seja viável economicamente.
Haverá um cuidado para a declaração não soar anti-Israel. Conselheiros afirmam que mesmo dentro da Liga Árabe há nuances sobre o tema que precisam ser respeitadas.
Ainda no Cairo, Lula deve ser recebido pelo ditador egípcio, Abdel Fattah al-Sisi. O petista inclusive ficará hospedado numa das residências oficiais do governo do Egito para convidados de honra. Os dois devem assinar acordos de cooperação e dar declaração à imprensa lado a lado.
Embora não esteja definido se no Cairo ou em Adis Abeba (Etiópia), o brasileiro deve se encontrar com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. Na capital etíope, está prevista uma reunião com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, para tratar da crise no Oriente Médio.
A guerra Israel-Hamas deve ser um dos principais temas do encontro, com o brasileiro aproveitando para agradecer as ações do Egito durante o processo de retirada dos brasileiros que estavam na Faixa de Gaza.
O governo brasileiro desde o início condenou a ação do Hamas em território israelense, classificando-a como ataque terrorista, embora tenha se recusado a usar o mesmo termo para descrever a facção em si. Lula, depois, passou a criticar mais abertamente a resposta de Israel, principalmente a partir da elevação do número de vítimas civis.
Ele chegou a afirmar ter a impressão de que Israel usava os ataques para “expulsar os palestinos” e assim ocupar o território. O Brasil apoiou a denúncia da África do Sul à Corte Internacional de Justiça da ONU para apurar a acusação de que Tel Aviv comete genocídio contra o povo palestino em Gaza —na primeira apreciação do tema, o tribunal ordenou que Israel tome medidas para evitar atos de genocídio, mas não determinou cessar-fogo imediato.
Brasil e Egito também vão tratar da articulação para a reforma das instituições econômicas globais, uma bandeira de Lula que encontra grande acolhida do Cairo. O país africano mantém negociações para aumentar um empréstimo concedido pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), apesar das rígidas exigências de reestruturação da economia.
Uma das medidas praticamente prontas para serem anunciadas após o encontro de Lula com Sisi é a data de lançamento do voo direto entre São Paulo e o Cairo, que será operado pela EgyptAir. A ligação busca fomentar o turismo de brasileiros no país árabe e também impulsionar os negócios.
Já na Etiópia, Lula terá uma série de encontros bilaterais à margem da cúpula da União Africana. A agenda ainda não está fechada, mas ele deverá ser recebido pela presidente anfitriã, Sahle-Work Zewde, e se reunir com os líderes de Nigéria, Quênia e Moçambique.
Assim como na reunião com Sisi, Lula deve chamar a atenção na conferência para as discussões em torno da reforma do sistema econômico global, em particular no âmbito do G20, atualmente sob a presidência brasileira.