Motorista de aplicativo é banido de plataforma após mãe de santo denunciar intolerância religiosa
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Mãe de santo denuncia ter sofrido intolerância por motorista de carro por aplicativo, em João Pessoa — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
O motorista de aplicativo denunciado por uma mãe de santo por intolerância religiosa teve a conta banida na plataforma da empresa de transportes. A líder religiosa pediu uma corrida saindo do terreiro, o motorista encaminhou uma mensagem com expressões religiosas, dizendo que não iria, e na sequência cancelou. Um boletim de ocorrência foi registrado contra o motorista.
A informação foi confirmada pela Uber, na segunda-feira (1º/4). Em nota, a empresa afirmou que não tolera qualquer forma de discriminação, encoraja a denúncia tanto pelo próprio aplicativo quanto às autoridades competentes e se coloca a disposição para colaborar com as investigações, na forma da lei.
De acordo com a empresa de transportes por aplicativo, não é possível informar quando o banimento aconteceu por questões de privacidade, previstos na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
O caso
A denunciante Lúcia de Oliveira, que é líder de um terreiro de Candomblé na capital paraibana, solicitou uma viagem para um atendimento médico.
Ela citou, por mensagem, o terreiro como ponto de referência para ajudar o motorista a se localizar e compreender melhor onde estava indo buscá-la.
O motorista, identificado no aplicativo como Leonardo, respondeu por mensagem: “Sangue de Cristo tem poder, quem vai é outro kkkkk tô fora”. A corrida foi cancelada em seguida.
![Motorista da Uber utilizou expressões religiosas para recusar corrida de mãe de santo, em João Pessoa — Foto: Reprodução/Redes sociais](https://i0.wp.com/s2-g1.glbimg.com/wThsO306TY3l6eDDJ_G95S-e4Hs=/0x0:591x526/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2024/Y/U/7mBNvZREG3vlJsrb8a3A/motoristadeuber-recusacorrida-1-.jpg?resize=606%2C540&ssl=1)
A mãe de santo explicou que quando viu a mensagem teve um aumento de pressão e, depois que outro motorista aceitou a corrida, chegou na consulta médica passando mal.
“A gente se sente muito menosprezada enquanto ser humano, entendeu? Eu gostaria que nenhum pai e mãe de santo passasse pelo que eu passei. A gente se sente muito mal numa situação dessa. A gente se sente ninguém na realidade”, concluiu.
A líder religiosa registrou boletim de ocorrência no dia 25 de março, na Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Homofóbicos, Étnicos-raciais e Delitos de Intolerância Religiosa de João Pessoa.
Notificação do MPPB
Na quarta-feira passada (27/3), o Ministério Público da Paraíba (MPPB) notificou a empresa Uber, sobre atos de intolerância religiosa praticados por motoristas da plataforma.
A promotora de Justiça Fabiana Maria Lobo da Silva salientou que, além de contribuir para a apuração desse caso específico, o MPPB quer saber o que a empresa tem feito para coibir essa prática.
“Queremos que a empresa preste esclarecimentos do que vem fazendo para evitar esse tipo de crime, que é um crime também, um crime de racismo, e as medidas que serão adotadas com relação aos motoristas que cometerem esse tipo de prática. Durante a investigação, caso se apure, a empresa pode, inclusive, responder por um dano moral coletivo, que é aquele dano de ofensa à honra, aos valores intrínsecos de uma coletividade, no caso da coletividade de pessoas de religião de matriz africana”, explicou Fabiana Lobo.