Cadetes policiais se vestem de nazistas e provocam repúdio na Colômbia
Estudantes de academia de polícia fizeram representação da Alemanha nazista em “atividade pedagógica”, segundo a instituição. Após escândalo, presidente Iván Duque se manifesta, e diretor da escola perde o cargo.
Alunos de uma escola de formação de policiais na Colômbia se vestiram de nazistas durante um evento cultural nesta quinta-feira (18/11). O episódio provocou mal-estar diplomático com as embaixadas da Alemanha, de Israel e dos Estados Unidos e forçou o presidente Iván Duque a se manifestar publicamente contra o ato .
Imagens de um evento realizado na escola Simón Bolívar, no município de Tuluá, no sudoeste da Colômbia, no qual os alunos utilizaram a iconografia nazista foram divulgadas nas redes sociais da polícia. Oficialmente, a instituição organizou o ato como uma espécie de “semana da Alemanha” para promover “intercâmbio cultural” entre os cadetes. Mas em vez de abordar a moderna Alemanha a escola acabou promovendo o período nazista sem qualquer critério.
As fotografias, que já foram apagadas das páginas oficiais da instituição, mostram estudantes uniformizados com suásticas no braço e em uniformes da SS, um policial fantasiado de Adolf Hitler ao lado de um pastor alemão, um modelo de jato militar alemão da Segunda Guerra, modernas bandeiras alemãs e balões pretos, vermelhos e amarelos por toda parte.
Toda una polémica ha provocado el evento realizado en las últimas horas en la escuela de Policía Simón Bolívar de Tuluá. Los uniformados se disfrazaron de Adolf Hitler, haciendo alusión al nazismo durante la semana de la internacionalización. #VocesySonidos pic.twitter.com/EoS4JqvzrC
— BLU Pacífico (@BLUPacifico) November 18, 2021
Reação de Alemanha, Israel e Estados Unidos
As embaixadas alemã e israelense expressaram em uma declaração seu “repúdio total” e pediram punições aos responsáveis.
“Acontecimentos como esse são ultrajantes e ofendem diretamente não apenas os judeus, mas também todas as vítimas do regime nazista e de seus criminosos”, disseram as embaixadas em uma declaração conjunta.
O embaixador dos Estados Unidos na Colômbia, Philip S. Goldberg, também divulgou uma condenação dura. “Estou chocado e profundamente desapontado com o uso de símbolos e uniformes nazistas nas instalações de treinamento da polícia da Colômbia. Nenhuma explicação é suficiente”, escreveu ele na conta da embaixada no Twitter. A polícia colombiana recebe assistência técnica e financeira permanente dos Estados Unidos.
Nesta sexta-feira, Duque se manifestou em sua conta no Twitter: “Qualquer apologia ao nazismo é inaceitável e condeno qualquer manifestação que faça uso ou referência a símbolos alusivos aos que foram responsáveis pelo Holocausto judaico que tirou a vida de mais de 6 milhões de pessoas.”
Cualquier apología al nazismo es inaceptable y condeno toda manifestación que haga uso o referencia a símbolos alusivos a quienes fueron responsables del holocausto judío que cobró la vida de más de 6 millones de personas. El antisemitismo no tiene cabida en el mundo.
— Iván Duque 🇨🇴 (@IvanDuque) November 19, 2021
Há duas semanas, Duque havia feito uma visita de estado a Israel, onde prestou homenagem às vítimas do Holocausto no museu Yad Vashem, em Jerusalém.
Diretor de escola perde o cargo
A polícia retirou o diretor da escola Simon Bolívar, Jorge Ferney Bayona, de seu cargo, mas não o demitiu da instituição, e pediu desculpas pelo que chamou de “uma atividade de natureza pedagógica sobre a história mundial”.
Em um comunicado, a polícia colombiana disse que “rejeita veementemente a decisão tomada dentro da escola” e que o uso de símbolos nazistas era “inaceitável”.
“Não houve nenhuma homenagem ao nazismo, o que o diretor da escola fez de forma totalmente equivocada foi realizar uma atividade acadêmica para ilustrar da forma mais absurda e errada o momento histórico vivido naquela época”, disse a general Yackeline Navarro, diretora nacional das escolas de polícia, à rádio Blu.
As fotografias do evento sobre o nazismo estavam acompanhadas da hashtag #TransformaciónPolicial.
Criticada internacionalmente por abusos e a repressão violenta de recentes manifestações, a polícia colombiana está passando por uma campanha de “transformação” para tentar melhorar sua imagem, que incluiu uma mudança de uniforme, do verde para azul, e mais treinamento em direitos humanos.