Ata do Copom: BC diz que preço alto dos alimentos deve se propagar e admite novo estouro da meta de inflação em junho
Essas expectativas são medidas por diversos instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes financeiros.
O BC também observou um aumento significativo no preço médio dos alimentos, devido à estiagem e à elevação de preços de carnes. Segundo o banco, o aumento tende a se propagar para os próximos meses.
Essas informações estão na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros foi elevada de 12,25% para 13,25% ao ano.
O documento menciona também que a valorização recente do dólar pressiona preços no Brasil, e que produtos industrializados também podem ficar mais caros.
Essa foi a quarta alta consecutiva da taxa Selic. O mercado projeta novos aumentos nos próximos meses, com a taxa superando 15% ao ano em meados de 2025, o maior nível em quase 20 anos.
Também foi a primeira reunião comandada pelo novo presidente do BC, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o primeiro encontro do Copom em que os diretores indicados pelo presidente Lula foram maioria no colegiado.
Novo estouro da meta de inflação
O Banco Central informou, também, que, em se concretizando as projeções, a inflação acumulada em doze meses permanecerá acima do limite superior da meta.
“Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”, acrescentou o Copom, na ata de sua última reunião.
A partir de 2025, com o início do sistema de meta contínua, o objetivo é de 3% – e será considerado cumprido se a inflação oscilar entre 1,5% e 4,5%.
- No regime de meta contínua, se a inflação ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida.
- Caso a meta de inflação não seja atingida, o BC terá de escrever e enviar uma carta pública ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando os motivos.
- Essa carta devem trazer uma “descrição detalhada das causas do descumprimento, as medidas necessárias para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos e o prazo esperado para que as medidas produzam efeito”.
- Segundo o BC, uma nova comunicação será feita “somente no caso de a inflação não retornar ao intervalo da meta dentro prazo estipulado ou se o BC julgar necessário atualizar as providências ou o prazo esperado para a volta da inflação ao intervalo de tolerância”.
Contas públicas
O Copom também manteve o tom duro de críticas à política para as contas públicas, conduzida pelos Ministérios da Fazenda e do Planejamento. Referindo-se à política econômica de uma forma mais geral, avaliou que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas.
“No período recente, a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida seguiu impactando, de forma relevante, os preços de ativos [juros futuros e dólar] e as expectativas dos agentes”, disse o BC.
A ata também lamentou a falta de novas medidas de ajuste fiscal.
“O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”, avaliou.
Como a decisão é tomada
🔎A taxa básica de juros da economia é o principal instrumento do BC para tentar conter as pressões inflacionárias, que tem efeitos, principalmente, sobre a população mais pobre.
Para definir os juros, a instituição atua com base no sistema de metas. Se as projeções estão em linha com as metas, pode baixar os juros. Se estão acima, tende a manter ou subir a Selic.
Desde o início de 2025, com o início do sistema de meta contínua, o objetivo de 3% e será considerado cumprido se a inflação oscilar entre 1,5% e 4,5%.
- Ao definir a taxa de juros, o BC olha para o futuro, ou seja, para as projeções de inflação, e não para a variação corrente dos preços, ou seja, dos últimos meses.
- Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.
- Neste momento, por exemplo, a instituição já está mirando na meta considerando o primeiro semestre de 2026.
- Para 2025, 2026, 2027 e 2028, a projeção do mercado para a inflação oficial está em 5,51% (com estouro da meta), 4,28%, 3,90% e em 3,74%. Ou seja, acima da meta central de 3%, buscada pelo BC.
Veja outros recados do Copom
▶️ O Copom manteve a indicação, anunciada em dezembro e reafirmada na semana passada, de um novo aumento nos juros, de um ponto percentual, para 14,25% ao ano, em sua próxima reunião, marcada para meados de março. “Para além da próxima reunião, a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação”, acrescentou.
▶️ O BC manteve a análise de que a combinação de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista (alta de gastos pelo governo) e vigor nas concessões de crédito amplo tem acelerado o consumo e a demanda por produtos. Isso pressiona a inflação.
▶️ A ata registrou que o descontrole das expectativas de inflação, em relação à meta central de 3%, e teto de 4,5% para este e próximos anos, é um “fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”. “Foi ressaltado que ambientes com expectativas desancoradas aumentam o custo de desinflação em termos de atividade”, acrescentou.
▶️ Para o Copom, o cenário externo se mantém desafiador, com incertezas econômicas e geopolíticas relevantes. O cenário base do Comitê segue sendo de desaceleração gradual e ordenada da economia norte-americana, mas, além da conjuntura econômica, há dúvidas sobre a condução da política econômica em diversas dimensões, tais como possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho, introdução de tarifas à importação.
▶️ O BC observou que a taxa de câmbio (dólar) tem reagido às notícias fiscais domésticas, às notícias da política econômica norte-americana e ao diferencial de juros.