Ataque em Nova Orleans mostra força do Estado Islâmico 5 anos após sua queda
Ao erguer uma bandeira do Estado Islâmico (EI) enquanto atropelava uma multidão em Nova Orleans na quarta-feira (1º/01), o veterano do Exército americano responsável pelo ataque mostrou que o grupo terrorista continua influente —mesmo depois de sofrer repetidas derrotas para uma coalizão militar liderada pelos Estados Unidos.
No auge de seu poder, de 2014 a 2017, o EI impôs morte e tortura a vastas áreas do Iraque e da Síria, além de possuir braços locais em todo o Oriente Médio.
Seu líder à época, Abu Bakr al-Baghdadi, morto em 2019 por forças especiais dos EUA no noroeste da Síria, emergiu do anonimato para liderar o grupo ultrarradical e se declarar califa de todos os muçulmanos.
O grupo terrorista colapsou primeiro em 2017, no Iraque, onde mantinha uma base a apenas 30 minutos de carro de Bagdá; e depois em 2019, na Síria, após uma campanha militar sustentada por uma coalizão liderada pelos americanos.
O EI respondeu se dispersando em células autônomas e sendo assumido por uma liderança clandestina. É difícil dizer quantos integrantes a organização tem atualmente —a ONU estima que sejam 10 mil membros nos principais territórios que controla.
Nesse meio tempo, a coalizão continuou a atacar os terroristas com bombardeios e incursões que, segundo o Exército americano, resultaram na morte e na captura de centenas de combatentes.
Mas o EI continua a inspirar atentados isolados. Episódios semelhantes àquele que deixou 15 mortos em Nova Orleans, na quarta-feira (1º/01), incluem um ataque em uma cerimônia oficial do regime do Irã em Kerman em janeiro do ano passado, quando ao menos 94 pessoas morreram; e a invasão de uma casa de shows por atiradores em Moscou em março do mesmo ano, que deixou 143 mortos.
Apesar da pressão antiterrorismo, o EI se reagrupou, “ajustou suas operações de relações públicas e voltou a fazer planos para o exterior”, diz Brett Holmgren, diretor interino do Centro Nacional de Contraterrorismo dos EUA, em outubro.
Fatores geopolíticos têm favorecido o retorno do grupo. A indignação que a guerra Israel-Hamas causou entre os árabes incentiva o recrutamento por parte dos jihadistas. Os riscos para os curdos sírios, que mantêm milhares de prisioneiros do EI, também podem criar uma abertura para o seu retorno.
O EI não reivindicou a autoria do ataque em Nova Orleans nem o elogiou publicamente, embora seus apoiadores tenham feito isso, disseram agências governamentais americanas.
Sob anonimato, um funcionário público dos EUA ligado à Defesa afirmou que há uma preocupação crescente da administração com o aumento dos esforços de recrutamento do EI na Síria, além de um fortalecimento geral do grupo no país.
Essas preocupações se intensificaram após a queda do ditador Bashar al-Assad e a tomada de poder no país pela organização islâmica HTS (Hayat Tahrir al-Sham, ou Organização para a Libertação do Levante na sigla em árabe), em dezembro de 2024.