Como as armas do Ocidente ajudaram a Ucrânia a reverter vantagem russa em ataques aéreos

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Explosão de um míssil é vista em Kiev durante um ataque russo. Foto: Reuters

Por Brad Lendon

Uma questão tem deixado os militares russos coçando a cabeça: o que tornou as defesas aéreas da Ucrânia tão impenetráveis ​​de repente?

Somente neste mês, a Rússia lançou oito ondas de ataques com mísseis contra a capital ucraniana, Kiev. A última delas, um bombardeio na madrugada de terça-feira (16), envolveu pelo menos 18 mísseis de vários tipos e um enxame de drones.

No entanto, Kiev afirma ter escapado com apenas um arranhão, negando que qualquer um dos mísseis ou drones tenha atingido seus alvos.

Isso pode ser exagero – autoridades americanas acreditam que o sistema de defesa Patriot, fabricado nos Estados Unidos, foi provavelmente danificado – mas, mesmo permitindo uma hipérbole, os especialistas dizem que está claro que algo está acontecendo.

Até recentemente, a maioria dos analistas e até mesmo oficiais de defesa dos EUA simplesmente duvidavam que as defesas aéreas da Ucrânia seriam capazes de repelir um ataque russo contínuo.

No mês passado, documentos vazados do governo dos EUA detalhavam como os estoques ucranianos de mísseis de defesa aérea de médio alcance da era soviética foram severamente esgotados, enquanto até mesmo Alexander Rodnyansky, consultor econômico do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenksy, admitiu que as defesas aéreas de seu país “não estavam lidando bem o suficiente”.

Essas avaliações seguiram-se a um ataque violento em 9 de março, no qual a Rússia lançou 84 mísseis contra as principais cidades da Ucrânia. Naquela ocasião, até Kiev admite que seis mísseis balísticos Kinzhal conseguiram escapar de suas defesas aéreas.

Então, o que mudou no espaço de apenas algumas semanas?

Tudo sobre os Patriots?

A resposta óbvia, pelo menos na região de Kiev, é a implantação dos sistemas de defesa aérea Patriot, fabricados nos Estados Unidos, que chegaram à Ucrânia no mês passado.

Os EUA e a Alemanha forneceram cada um uma bateria Patriot para a Ucrânia.

Mísseis interceptadores Patriot podem atingir aeronaves de alta e média altitude, mísseis de cruzeiro e alguns mísseis balísticos, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS).

Tão formidáveis ​​são as defesas do Patriot que a Rússia prometeu eliminá-las. De fato, alguns especialistas acreditam que a onda de ataques deste mês foi projetada especificamente para sobrecarregá-los com números.

E os ataques de terça-feira a Kiev provavelmente danificaram, mas não destruíram, um dos sistemas Patriot da Ucrânia, disse uma autoridade norte-americana.

Mas não são os Patriots sozinhos que estão defendendo os céus da Ucrânia.

Kiev recebeu mais mísseis de defesa aérea de curto e médio alcance de outros países da Otan, de acordo com o CSIS.

Isso inclui alguns dos sistemas mais avançados disponíveis, como as baterias alemãs IRIS-T, e os menos avançados, como o sistema antimíssil Hawk, o antecessor do Patriot.

“Líderes ucranianos declararam que o sistema IRIS-T obteve sucesso em 90% dos engajamentos”, escreveu Ian Wiliams, do Projeto de Defesa contra Mísseis do CSIS, em um relatório este mês, acrescentando que outra doação ocidental, a US NASAMS, teve 100% de sucesso, de acordo com comentários do secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, em novembro passado.

Além disso, há as armas que a Ucrânia já possuía antes do início da guerra, principalmente sistemas da era soviética que incluem os mísseis antiaéreos de médio alcance S-300 e Buk M1.

Esses sistemas tiveram uma taxa de sucesso de cerca de 80% atingindo mísseis de cruzeiro russos, diz o relatório do CSIS.

Guerra de exaustão

Mas Kiev está ficando sem munição para seus sistemas da era soviética, segundo os documentos vazados dos EUA e o relatório do CSIS.

“Com um número limitado de mísseis restantes, os ucranianos precisarão mantê-los para os alvos de maior prioridade – aeronaves russas ou mísseis direcionados aos alvos mais sensíveis”, diz o relatório do CSIS.

Alguns se perguntam se esgotar os estoques de mísseis antiaéreos da Ucrânia é o objetivo do ataque atual.

Na terça-feira, a Rússia lançou uma barragem de vários quadrantes: mísseis balísticos Kinzhal lançados de caças, mísseis de cruzeiro Kalibr disparados do Mar Negro e mísseis Iskander disparados do solo, disse o chefe das Forças Armadas da Ucrânia. O ataque veio do norte, sul e leste.

Vídeos de Kiev mostraram rastros de mísseis no céu noturno.

No ritmo atual de uso de munição – em ambos os lados – a guerra pode se resumir a quem fica sem munição para a guerra aérea primeiro, acreditam alguns analistas.

“O alto volume de atividade de defesa aérea sem dúvida sobrecarregou a capacidade das defesas aéreas ucranianas, e as táticas russas parecem ter como objetivo precisamente drenar a capacidade defensiva da Ucrânia”, escreveu Williams, do CSIS.

Mas Williams também observou que os restos de alguns dos mísseis russos que atingiram a Ucrânia pareciam sugerir que eram um novo estoque, insuando que seus arsenais podem estar esgotados.

E há sérias dúvidas sobre a capacidade de Moscou de produzir novas armas em grande quantidade, enquanto as sanções ocidentais impedem seu acesso a peças fundamentais.

Os aliados ocidentais da Ucrânia, por outro lado, parecem empenhados em manter Kiev abastecida.

Reforços a caminho

Em 9 de maio, o Departamento de Defesa dos EUA anunciou um pacote de US$ 1,2 bilhão (cerca de R$ 5,9 bilhões) para reforçar as defesas aéreas e os estoques de artilharia da Ucrânia.

A ajuda dos EUA incluirá “sistemas adicionais de defesa aérea e equipamentos de munições para integrar lançadores, mísseis e radares de defesa aérea ocidentais com os sistemas de defesa aérea da Ucrânia”, de acordo com um comunicado do Pentágono.

“O pacote também contém munição para abater sistemas aéreos não tripulados, serviços comerciais de imagens de satélite e suporte para atividades de treinamento, manutenção e sustentação”, afirmou.

Enquanto isso, na última segunda-feira (15), o Reino Unido confirmou que enviaria centenas de mísseis de defesa aérea para a Ucrânia.

Williams disse que o apoio ocidental será crítico nas próximas semanas e meses porque um lugar onde a Rússia tem estoques suficientes é em bombas de gravidade de baixa tecnologia lançadas de aeronaves.

Se a força aérea russa puder operar sobre a Ucrânia, deverá causar muitos danos.

“Se a Rússia conseguir desgastar as defesas aéreas da Ucrânia por exaustão e ganhar superioridade aérea, a guerra se tornará significativamente mais desafiadora para a Ucrânia”, escreveu Williams.

“Na medida do possível, o reabastecimento de interceptadores e equipamentos de defesa aérea relacionados deve permanecer uma alta prioridade para os pacotes de ajuda militar ocidentais no futuro previsível”, escreveu ele.

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