Como estão os invasores do Capitólio dos EUA quatro anos depois do ataque
Nos últimos quatro anos, quase 1.600 pessoas foram processadas em conexão com a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Algumas foram acusadas de crimes como agressão ou conspiração e ainda estão na prisão. Mas centenas de acusados de crimes menores encerraram seus casos e voltaram para suas vidas.
O 6 de Janeiro foi um momento decisivo para todos os envolvidos. Ao invadir o Capitólio, uma multidão de apoiadores de Trump causou danos de milhões de dólares, feriu mais de 140 policiais e, pela primeira vez na história dos EUA, afastou os legisladores de seu dever de certificar uma eleição presidencial.
O ataque também provocou a maior investigação individual já realizada pelo Departamento de Justiça, levando a prisões em todos os 50 estados. Desde então, os réus têm sido responsabilizados no tribunal federal de Washington, a quarteirões de distância do próprio Capitólio, por seus papéis em minar um alicerce da democracia, a transferência pacífica de poder.
Embora alguns tenham se arrependido de suas ações naquele dia, outros não o fizeram. Na melhor das hipóteses, eles dizem que viram a realidade do sistema de justiça criminal, tornando-se mais compreensivos com a situação de outros que estão sendo processados. Na pior das hipóteses, continuam convencidos de que o sistema os tratou injustamente, endurecidos por seus confrontos com a lei. Os juízes que supervisionaram os casos de rebelião no Capitólio têm rechaçado rotineiramente essa ideia.
“Fiquei chocado ao ver algumas figuras públicas tentarem reescrever a história, alegando que os manifestantes se comportaram ‘de forma ordeira’ como turistas comuns, ou martirizando os réus condenados em 6 de janeiro como ‘prisioneiros políticos’ ou até, incrivelmente, ‘reféns'”, disse o juiz Royce C. Lamberth, nomeado por Reagan, no tribunal no ano passado. “Tudo isso é absurdo.”
Ainda assim, o presidente eleito Donald Trump prometeu perdoar muitos, talvez a maioria, dos invasores assim que assumir o cargo e poderia encerrar a ampla investigação sobre o ataque ao Capitólio. Aqui estão as experiências de alguns réus acusados de crimes relativamente menores quatro anos após o dia 6 de janeiro.
Jacob Chansley
Poucas pessoas estão mais visivelmente associadas ao ataque ao Capitólio do que Jacob Chansley, o chamado xamã QAnon, que entrou no prédio com pintura facial e um cocar com chifres enquanto brandia uma bandeira americana em um mastro com ponta de lança.
Seguindo com a primeira onda de invasores, ele deixou um bilhete ameaçador no chão do Senado para o então vice-presidente Mike Pence, que teve que ser levado para um local seguro enquanto a multidão dominava o Capitólio.
No entanto, assim como outras pessoas que interromperam a certificação das eleições naquele dia, Chansley tenta justificar a sentença de 41 meses que recebeu como uma “experiência de tirania em primeira mão”. Mesmo após sua libertação, ele afirma que o 6 de Janeiro foi “uma armação” do governo e que as autoridades públicas e a mídia o pintaram como um “vilão e terrorista”.
Ainda assim, Chansley, 37, disse que sua vida cotidiana em Phoenix, criando arte, continua praticamente a mesma de antes daquele dia —”a não ser pelo fato de que agora eu tenho mais entrevistas”.
Eric Clark
Em 6 de janeiro, Eric Clark estava sóbrio havia três anos e tinha mais ou menos se estabelecido em uma vida de classe média como operador de máquinas em Louisville, no estado de Kentucky, depois de anos lutando contra a falta de moradia e o vício em drogas.
Mas a crença de que Trump venceria a eleição de 2020 o levou a entrar ilegalmente no Capitólio com uma máscara de Guy Fawkes e se recusar a sair por quase 30 minutos. Clark foi condenado a cinco meses de prisão. Agora com 48 anos, ele está trabalhando em uma equipe de limpeza de drywall, tentando reconstruir sua vida.
Seu único grande sucesso, segundo ele, é o relacionamento que reconstruiu com sua filha, embora tenha sido ela quem o entregou às autoridades no início. “Em vez de ficar bravo com ela”, disse, “optei por aceitar que ela tem o ponto de vista dela e eu tenho o meu”.
Treniss Evans
Treniss Evans disse que não estava muito interessado em política antes da eleição de 2020. Ele se aprofundou no assunto desde o 6 de Janeiro, quando entrou por uma janela quebrada do Capitólio e usou um megafone para liderar outros manifestantes no Juramento de Fidelidade e no hino nacional.
Evans, 50, foi condenado a 20 dias de prisão depois de se declarar culpado por entrar no terreno restrito do Capitólio. Como outros manifestantes, ele saiu da experiência concentrado menos em sua própria culpa e mais nos maiores problemas de estar sujeito a um processo criminal.
Nos últimos quatro anos, ele dedicou grande parte de seu tempo a um grupo que fundou, o Condemned USA, que oferece apoio jurídico e defesa pública a centenas de outras pessoas que participaram do ataque ao Capitólio.
“Eu costumava acreditar em nosso sistema judicial”, disse, “mas agora vejo o que gerações e gerações de minorias e pessoas de baixa renda têm reclamado”.
James Beeks
Quando James Beeks foi para Washington no 6 de Janeiro com a milícia Oath Keepers, a profissão que escolheu o distinguia de muitos de seus compatriotas do grupo de extrema direita, que desempenhou um papel central na invasão do Capitólio. Beeks atuou cinco vezes na Broadway, reprisando o papel de Judas na produção do 50º aniversário de “Jesus Cristo Superstar”.
Depois de ser acusado em um processo de conspiração por entrar à força no Capitólio em uma matilha de estilo militar com outros Oath Keepers, Beeks foi considerado inocente por um juiz que determinou que as evidências não sustentavam as acusações.
Ele foi um dos dois únicos entre as dezenas de réus do 6 de Janeiro que foram a julgamento e foram totalmente absolvidos. Mas, apesar de ter sido inocentado no caso, disse, sua vida não voltou ao normal.
Ele está morando na van de um amigo na Flórida, terminando um livro sobre sua experiência, “I Am Judas Redeemed” (eu sou o Judas redimido, em tradução livre). Ele não voltou aos palcos desde sua prisão. “Ainda tenho essa letra escarlate J6 em meu peito”, disse.
Jenna Ryan
Jenna Ryan era corretora de imóveis e influenciadora de mídia social na área de Dallas quando entrou no Capitólio em 6 de janeiro, orando e cantando “Fight for Trump!” (lute por Trump!) com uma multidão na Rotunda.
No dia seguinte, ela postou uma mensagem no Twitter, dizendo: “Acabamos de invadir o Capitólio. Foi um dos melhores dias da minha vida”.
Tudo isso acabou resultando em uma pena de 60 dias de prisão. Ela alega que foi tratada com severidade por causa de seu “perfil público”. Mas o fato de ter sido condenada por se manifestar ilegalmente no Capitólio também permitiu que ela cumprisse o que ela descreve como seu “objetivo de toda a vida de ser escritora e palestrante”.
Ryan, 54, escreveu um livro chamado “Storming the Capitol: My Truth About January 6th” (invadindo o Capitólio: a minha verdade sobre o 6 de Janeiro), que, segundo ela, “mostra como é ser pega no meio de um clima político polarizado, cancelada pela sociedade, vigiada pelo FBI e jogada na prisão por causa de um tuíte”.