Da tropa de choque de Collor a bolsonarista; conheça a trajetória de Roberto Jefferson

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A trajetória política de Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, foi do pragmatismo à defesa aberta das bandeiras mais radicais do bolsonarismo. Aos 68 anos, ele foi preso pela segunda vez nesta sexta-feira, 13, por incitar ataques e disseminar desinformação contra o Judiciário nas redes sociais.

Sua primeira passagem pela prisão foi entre 2014 e 2015, após ser condenado no caso do mensalão. Foi o pivô do escândalo ao denunciar, em entrevistas à imprensa, a existência de um esquema de pagamentos mensais a partidos da base aliada, em troca de apoio parlamentar. O ano era 2005, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente. Ele teve seu mandato cassado pela Câmara logo em seguida, sob a acusação de ter feito as acusações sem apresentar provas.

Em uma audiência na Justiça três anos depois, o deputado admitiu ter recebido R$ 4 milhões, e acabou condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Sua pena foi de sete anos e 14 dias, dos quais passou oito meses em regime fechado. Ele obteve o perdão da pena em 2016 e retomou o controle do PTB logo em seguida. Desde então, tem levado o partido cada vez mais à direita no espectro político.

O ex-deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, em 2016  

Jefferson ingressou na política ao filiar-se na ala jovem do MDB, na oposição ao regime militar, em 1971. Seu avô e seu pai haviam sido vereadores em Petrópolis pelo PTB, na época em que a sigla representava o trabalhismo de Getúlio Vargas. Com o fim do bipartidarismo, em 1979, ficou filiado por cerca de um ano no PP e depois migrou para o novo PTB.

O partido já havia abandonado as bandeiras do período anterior ao golpe de 1964. Principal herdeiro do trabalhismo durante a redemocratização, Leonel Brizola fundou o PDT após perder uma disputa judicial com uma sobrinha de Getúlio, Ivete Vargas, pelo nome original da agremiação. Ivete era a presidente do PTB quando ele se filiou.

Os anos 80 trouxeram popularidade para Jefferson. Ele participou dos programas Aqui e agora, da TV Tupi, e, depois apresentou o programa O povo na TV, da TVS – no qual foi também consultor jurídico. Elegeu-se pela primeira vez como deputado federal em novembro de 1982 com 84 mil votos, o mais votado na legenda do PTB naquele ano.

Como deputado federal, Jefferson se destacou como líder de uma “tropa de choque” que defendia o então presidente Fernando Collor no Congresso, em 1992. Ele foi membro da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou suspeitas de que Collor recebia vantagens indevidas pagas pelo empresário Paulo César Farias, tesoureiro de sua campanha presidencial. Tentava apresentar um relatório alternativo na comissão, sem acusações ao presidente, mas não teve sucesso.

Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, integrou novamente a base de apoio ao Planalto. Nessa época protagonizou situações que contrastam com as posições que defende hoje. Em 1996, foi relator de um projeto de lei que regulava o uso de armas e, em seu parecer, propôs tipificar como crime — e não contravenção, como determinava a lei da época — o uso ilegal e o contrabando de armas de fogo. O relatório previa a criação do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), e restringia a concessão de licenças para o porte. Chegou a dar declarações a favor do desarmamento.

Hoje, Roberto Jefferson publica fotos empunhando armas de fogo nas redes sociais e adotou um discurso armamentista, religioso e anticomunista. Como plataforma de apoio ao bolsonarismo, o PTB passou a abrigar grupos declaradamente fascistas. Neste ano, integrantes da Frente Integralista Brasileira (FIB) filiaram-se ao partido. Fundado em 1932 pelo jornalista Plínio Salgado, o integralismo se inspira no fascismo italiano e voltou a ganhar adeptos nos últimos anos.

Sua reaproximação com a direita ocorre desde que voltou à presidência do PTB, em 2016. Trabalhou a favor do impeachment de Dilma Rousseff logo após seu retorno à política, e garantiu o apoio da sigla ao governo de Michel Temer. Desse período, sua maior derrota foi a indicação da filha, a então deputada federal Cristiane Brasil, para o Ministério do Trabalho. Ela acabou impedida de assumir o cargo por decisão judicial. Logo em seguida, pai e filha foram alvos da Operação Registro Espúrio da Polícia Federal, que investigava suspeitas de fraudes em registros sindicais no ministério.

A aproximação com Bolsonaro se consolidou já no segundo ano de governo, quando o presidente já buscava apoio nos partidos do Centrão. Jefferson adotou o tom bolsonarista e se tornou um crítico ferrenho do Supremo Tribunal Federal (STF). Em maio do ano passado, ele já defendia “demitir e substituir os 11 ministros” da Corte, o que é inconstitucional.

Após um desentendimento com o deputado estadual Campos Machado, que por décadas dominou o diretório paulista da sigla, Jefferson repassou o controle do PTB paulista ao empresário Otávio Fakhoury. Bolsonarista, Fakhoury foi investigado em inquéritos do STF sobre propagação de notícias falsas e foi citado na investigação dos atos antidemocráticos, extinta por recomendação da Procuradoria Geral da República. O inquérito que resultou na prisão preventiva do ex-deputado esta manhã é um desdobramento deste último, aberto por determinação do ministro Alexandre de Moraes em julho, e trata de milícias digitais.

Em recente entrevista ao Estadão, Jefferson disse que as portas do PTB estão abertas para Bolsonaro, que ainda não tem partido para disputar a reeleição. “Mesmo que ele não venha para o PTB, terá nosso apoio. Isso nós já decidimos: vamos apoiá-lo no partido que ele estiver. É o nosso candidato à reeleição”, afirmou.

Postado por Poliana Skaf

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