Delegado paraibano que passou em concurso após nove reprovações revela erros e acertos para quem sonha ser policial: ‘Continue estudando’

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Delegado Emanuel Henriques — Foto: Lídice Pegado / TV Paraíba

Quando ainda era bem pequeno, apenas um menino, Emanuel Henriques assistia a filmes e desenhos animados com super-heróis. Desde cedo, ele construiu a visão de que tinha que combater o que estava errado. E com o tempo, essa vontade tomou forma na figura do delegado de polícia. Por isso, essa foi a profissão escolhida pelo paraibano, do município de Esperança, que persistiu em uma longa jornada até a aprovação que aconteceu depois de 11 anos de estudos, no 10º concurso público prestado.

“Cheguei na adolescência e já sabia o que um delegado fazia. Então coloquei como um objetivo na minha vida. Eu fiz Direito porque eu queria ser delegado de polícia. Mesmo sendo horrível em exatas, se precisasse fazer um curso de matemática pra ser delegado de polícia, eu faria”.

No início do curso de Direito, o agora delegado deu os primeiros passos no mundo dos concursos. Como não ainda não tinha refinado as técnicas de estudo, esses certames serviram para que ele ganhasse, aos poucos, experiência.

Não é tão agradável reconhecer, mas Emanuel confessa que o início – que durou um tempo considerável – ele não sabia estudar.

“Eu pegava um livro e lia de capa a capa (da frente até atrás). Lia o livro todo, assunto que não precisava. E passei uns dois ou três anos assim. Depois que fui conversando com um pessoal que já tinha sido aprovado, fui fazendo um cronograma de estudos, dividindo direitinho as matérias, não estudando a mesma matéria todo dia, sempre intercalando. Aí a pontuação foi aumentando”.

Duas foram as motivações iniciais que fizeram Emanuel querer construir uma carreira no serviço público. Primeiramente, o sonho de ser delegado. Depois, a possibilidade de contar com a estabilidade financeira.

Como podia se dedicar 100% ao mundo dos concursos, depois de formado, Emanuel estudava de seis a oito horas por dia.

Da preparação, ela recorda bem que rendia melhor no horário da manhã. Assim como esse turno se encaixou melhor para Emanuel, com o tempo ele também percebeu quais estratégias funcionavam mais para ele, que foram:

  • Leitura de livros e apostilas;
  • Resolução de questões;
  • Estar atualizado com jurisprudências.

As videoaulas não deram resultado, e ele descobriu o motivo. Nessa jornada Emanuel foi diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

A condição não o atrapalhou muito, mas contar com ajuda médica foi algo necessário.

Emanuel durante a cerimônia de formação da Polícia Civil — Foto: Emanuel Henriques / Arquivo pessoal
Emanuel durante a cerimônia de formação da Polícia Civil — Foto: Emanuel Henriques / Arquivo pessoal

‘Se não fosse a ajuda dos meus familiares, eu teria desistido’

A dificuldade se fez presente no passar dos dias. A maior manifestação dela talvez tenha sido conseguir sentir resiliência para continuar com os estudos depois das reprovações, que insistiram em se repetir ao longo dos anos.

“Se não fosse a ajuda dos meus familiares, eu teria desistido. Minha família sempre me ajudou bastante. Quando voltei do concurso do Rio Grande do Sul, o meu pai me disse ‘enquanto eu tiver vivo e tiver saúde, você não se preocupe que nada pra você vai faltar. Só continue estudando’. Esse apoio tornou as coisas mais fáceis”.

Emanuel pode ser considerado um homem sortudo por isso. Os ouvidos dele cansaram de ouvir relatos de colegas que eram rotulados de desocupados por quem acha que dedicar tempo exclusivamente aos estudos torna a caminhada muito fácil.

O cansaço também se tornou uma pedra no caminho. E em muitos dias o que o fez persistir, foi tirar a carteira do bolso e vê-la vazia, algo bem comum para ele.

Por outro lado, o delegado também se considera um privilegiado. Afinal, durante mais de uma década de estudos, não precisou trabalhar. Conseguiu focar exclusivamente nos estudos.

“Eu advogava muito pouco só pra conseguir me manter viajando pra os concursos. Pegava a área criminal, que era o que eu mais gostava. Quando via que uma causa ia dar um certo valor, passava dois ou três meses sem pegar outra. Mas o meu dia a dia basicamente era voltado só pra estudar”.

‘Me custou uma posse’: as consequências de negligenciar o TAF

Emanuel começou a estudar para concursos de delegado no ano de 2012. O primeiro certame foi encarado por ele somente em 2014.

Como eram sazonais, houve anos em que ele passou por mais de um. Mas também passou anos sem que um novo edital surgisse.

Assim como celebra todos os dias a aprovação, ele recorda de cada reprovação.

  • 2014 – Polícia Civil do Piauí – reprovado;
  • 2015 – Polícia Civil do Ceará – reprovado;
  • 2016 – Polícia Civil de Pernambuco – reprovado;
  • 2018 – Polícia Civil do Maranhão, Polícia Civil de Minas Gerais, Polícia Civil da Bahia e Polícia Civil do Rio Grande do Sul – reprovado;
  • 2019 – Polícia Civil do Rio Grande do Norte – reprovado;
  • 2021 – Polícia Federal e Polícia Civil da Paraíba – APROVADO.

O último concurso antes da aprovação foi um dos que mais impactou a trajetória dele. Emanuel passou por diversas etapas e foi reprovado em uma prova no Teste de Aptidão Física (TAF).

“No nono concurso, no Rio Grande do Norte, infelizmente eu tava muito sedentário. Treinei muito forte durante três meses e tive uma lesão na hora da prova. Fui desclassificado e tive que me reerguer pra continuar na batalha do concurso público”.

Os 90 dias dedicados à preparação para o TAF não foram suficientes para dar o condicionamento físico necessário a Emanuel. Ter empenhado apenas esse tempo foi motivo de arrependimento, mas também de aprendizado.

“Passei muitos anos só estudando, só ali trancado. Só lendo livros, assistindo à aula, resolvendo questões. Então esses três meses não deram de conta do que eu precisava pra passar no TAF. O arrependimento chegou, sem dúvida. Foi um erro muito grande abdicar de exercício físico pra estudar. Eu abri mão por achar que teria mais tempo de estudo. Achava que se tivesse em casa estudando, estaria na frente dos meus concorrentes. Isso me custou uma posse”.

Toda essa decepção e a frustração de ter chegado tão perto do sonho de ser um delegado de polícia fizeram com que Emanuel recalculasse a rota de mudasse alguns hábitos durante a preparação.

Os treinos para o teste de aptidão física passam de três para oito meses de tempo reservado na agenda. Dar atenção para esse elemento com certeza é um conselho que ele dá para outros concurseiros que sonham com a carreira policial.

“Eu percebi que se tivesse treinando uma hora por dia com certeza teria tirado o TAF de letra. A prova não é só objetiva. Se você não tiver treinando meia hora, uma hora por dia, vai ter dificuldade”.

Depois da aprovação, para o um bom desempenho da atividade policial, manter uma rotina de treinamento físico também é importante. Essa lição Emanuel aprendeu já como delegado.

“Muita gente acha que delegado fica muito no gabinete, conversa muito com juiz, com promotor. Mas quando sai mandado de prisão, a gente tem que subir ladeira, descer ladeira. O condicionamento físico tem que estar em dia”.

Hoje, ele continua estudando, mas para ser um delegado cada vez melhor. E quando chega em casa depois de praticar atividades físicas, sente que se sai bem melhor na missão de estudar.

Emanuel no trabalho de delegado da Polícia Civil da Paraíba — Foto: Lídice Pegado / TV Paraíba
Emanuel no trabalho de delegado da Polícia Civil da Paraíba — Foto: Lídice Pegado / TV Paraíba

‘Agora posso ajudar meus familiares, tanto financeiramente quanto com a minha presença’

Enquanto Emanuel estudava, o pai dele ficava responsável pelo sustento da família. A fonte dos recursos para segurar as pontas em casa vinha de uma pequena banca na feira.

“Agora posso ajudar meus familiares, tanto financeiramente quanto com a minha presença. Eu não era presente”.

Uma das maiores satisfações e também prioridades de Emanuel é pode pagar por um plano de assistência em saúde para que os pais possam se cuidar. Além disso, agora ele também consegue arcar com outras despesas do lar.

A maior realização, por outro lado, é algo que o dinheiro não pode pagar.

“Ver meus pais felizes hoje, meus irmãos. Se eu ficava triste, refletia neles. Hoje estão realizados e eu também”.

Como ele também merece recompensa pelo esforço todo, faz parte do planejamento a compra de um carro.

Uma viagem para a Europa também já está marcada. Enquanto vive esse sonho, ele pretende conhecer a Itália – especialmente o Vaticano – , França e Portugal.

Emanuel Henriques com uniforme de delegado em frente à viatura — Foto: Emanuel Henriques / Arquivo pessoal
Emanuel Henriques com uniforme de delegado em frente à viatura — Foto: Emanuel Henriques / Arquivo pessoal

‘Eu não quero outra polícia, não quero outro cargo’: planos para presente e futuro

Depois de tanto tempo e de conquistar o que foi tão sonhado, Emanuel acredita que precisava passar por tantas reprovações.

“Porque hoje tá sendo muito melhor do que eu imaginei. Hoje vejo colegas sofrendo por terem passado em outros estados e estarem longe da família. E eu estou perto da minha, perto de casa”.

Os planos não pararam com a aprovação. Agora, Emanuel quer crescer profissionalmente dentro da própria Polícia Civil da Paraíba.

“Eu não quero outra polícia, não quero outro cargo. Quero fazer bem o meu trabalho para o povo do meu estado”.

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