Dia da Educação: estudante da rede pública passa a ensinar inglês após intercâmbio

Alex Martins realizou intercâmbio no Canadá e, com o conhecimento adquirido, hoje ensina a língua inglesa para outras pessoas — Foto: Alex Martins/Arquivo Pessoal
Estudante de escola pública desde que iniciou a carreira escolar, Alex Martins, natural da cidade de Solânea, no Brejo da Paraíba, teve a oportunidade de realizar um intercâmbio para o Canadá, em 2020, proporcionado por um programa estadual da rede pública de ensino. Nele, Alex pôde abrir os horizontes para uma nova cultura, novas relações interpessoais e ter a oportunidade de aprimorar a língua inglesa. E quando voltou para o Brasil, teve a oportunidade de disseminar o que aprendeu , ensinando inglês para outras pessoas.
Neste dia 28 de abril é celebrado o Dia da Educação . E para marcar a data, Alex contou ao g1 todo o processo de vivência no país norte-americano, como foi importante para si o aprendizado obtido numa outra sociedade e como essa experiência o ajudou a repassar o conhecimento adquirido.
Relação com o inglês
Alex, de 19 anos, conta que o interesse pela língua inglesa surgiu justamente por conta do intercâmbio. Antes da oportunidade, ele diz que não tinha tanto interesse pelo idioma, mas que a possibilidade de ir para um outro país fez com que ele se empenhasse a aprender a língua em um curto período de tempo.
“Eu confesso que antes não tinha interesse em aprender inglês. Eu achava legal mas não tinha tanto interesse. Eu vim me interessar mesmo em aprender [o idioma] depois que soube da oportunidade. Aí passei a estudar de todas as formas, de madrugada, durante o dia quando tinha um tempinho, mas geralmente era de madrugada. Mas também devorei tudo: vídeos no YouTube, sites…”, disse Alex.
Em 2020, Martins conseguiu uma das vagas para o intercâmbio no Canadá. Para ele e a família, um misto de surpresa e gratidão.
“Fiquei muito feliz, sem acreditar. Olhava a lista [de classificados] direto para saber se era real. Era uma coisa que eu acreditava muito, tinha depositado muito tempo, me dedicado muito para estudar inglês. Minha família ficou muito feliz…minha mãe não queria deixar eu ir, logo antes quando eu falei que iria fazer o processo. Mas ela sempre foi muito assustada com isso, por que eu tinha 16 anos [na época], qual a mãe que vai se sentir segura em deixar o filho de 16 anos ir para outro país e por seis meses? Mas depois ela foi se acostumando”, comentou Alex.
Em março de 2020, Alex desembarcou no Canadá, onde ficou na residência de uma família que costumeiramente recebe intercambistas de outros países. Ao todo, Alex passou cinco meses no país norte-americano, e tanto aprendeu com os canadenses, como pôde levar a cultura brasileira para lá.
“Eu fiquei na província de Newfoundland and Labrador, na cidade de Gander, no Canadá, é uma região pequena, mas cultural. Lá fiquei na casa de uma família, e essa família já é acostumada a receber estudantes de outros países. Como fui na pandemia, estudei um pouco [presencialmente] e depois parou. Aí fiquei estudando de casa, e como eu tinha contato [com a família nativa] todos os dias, fui aprimorando o inglês. Sempre ficava querendo conversar, conhecer pessoas novas, lugares…explorar. Eu senti sim falta da família, da comida do Brasil, mas eu não me importava muito com a questão da saudade, eu teria que aproveitar aquilo, pois eu sabia que iria voltar para casa e tudo voltaria ao normal”, disse.

Alex reforça a importância de ter o contato com nativos para aprender uma nova língua e como esse contato foi importante para o seu processo de aprendizagem.
“Quando a gente aprende o inglês, costuma aprender e guardar. e no intercâmbio, é bem diferente pois a gente acostuma com o ritmo, com as gírias, palavras regionais, e isso é importante quando está aprendendo e tendo o contato direto com um nativo.Todo mundo que aprende uma nova língua deveria ter esse contato”, explica.
Repasse de conhecimento
O conhecimento adquirido no Canadá, tanto no quesito educacional quanto no campo social, fez com que Alex tivesse a oportunidade de repassar para outras pessoas o que aprendeu durante todo o tempo que passou fora do Brasil.

Alex conta que com a experiência adquirida no intercâmbio e o conhecimento da língua inglesa, o fizeram conquistar oportunidades. No início de 2022, o jovem foi selecionado para lecionar numa escola de idiomas na cidade de Solânea. Com turmas de todas as idades, Martins conta que tem boa relação com os alunos, que sempre perguntam como um ele tão jovem já ensina inglês e as experiências vividas no intercâmbio motivam os alunos a também querer viver essa experiência.
“Uma das portas que o inglês me abriu foi poder trabalhar com ele. Eu dou aulas de inglês e é muito legal me ver em cada pessoa, pois há um tempo eu estava na fase de aprender um novo idioma. Apesar de eu não seguir o caminho acadêmico da língua inglesa [Alex estuda arquitetura e urbanismo na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)], eu trabalho com o inglês. Foi algo que eu aprendi e vai servir para minha vida inteira, porque tantas outras oportunidades surgirão pelo fato de eu saber inglês”, comentou.
“Muitos ficam surpresos quando comento sobre a experiência do intercâmbio, justamente por eu ser muito novo. Muitos falam que tem a vontade de fazer intercâmbio, de conhecer outro país, e eu incentivo. Querem saber as diferenças de escola, convivência, e isso despertou o interesse. [E ensinar] é uma experiência que me sinto muito grato e honrado, pois sei que estou contando algo aos meus alunos que eles vão colher lá na frente, vão lembrar disso. Eu me orgulho de ter estudado inglês e até onde ele me fez chegar. Eu ensino e, ao mesmo tempo, aprendo”, ainda descreveu.
E não é só na escola de idiomas que Alex repassa o seu conhecimento. Enquanto estava no ensino médio, ele também costumava ensinar outros colegas a aprender a língua inglesa e, em casa, também ajuda o irmão, de nove anos de idade, a aprender o idioma.
“[Com o intercâmbio], muita coisa mudou no meu aprendizado. Eu gostava de estudar mais quando eu voltei, porque foi através do estudo que eu consegui a oportunidade do intercâmbio, então comecei a pensar que pelo estudo, tantas outras oportunidades poderiam surgir para mim. Eu voltei mais motivado a estudar, mais interessado em conhecer culturas, história”, comentou.

“Quando voltei do Canadá e voltei para o ensino médio, passei a ajudar os meus colegas de sala, com atividades, projetos, trabalhos. E em casa eu ensino bastante pro meu irmão, de nove anos, ensino bastante, incentivo ele a aprender, ele já sabe bastante coisas e ensino cada vez mais, principalmente porque ele é novo, quanto mais cedo aprende inglês, é bem melhor, se ele tem a oportunidade desde cedo, é algo que vou focar para fazer com que ele aprenda”, ressaltou.
Alex reforça a importância de aproveitar a experiência de intercâmbio e, principalmente, em ter conhecimento de uma língua estrangeira, como o inglês.
“Eu trago muitas mensagens da experiência do intercâmbio. Uma delas é de que não devemos desistir dos nossos sonhos. Para mim, era um sonho muito distante sair do meu país, com 16 anos, e consegui. Acreditar e agir é importante”, finalizou.