‘Dizia como ia me matar’, ‘violador em série’, ‘gosta muito da dor’: os relatos de mulheres que acusam cientista político de estupro e tortura
Frio. Extremamente violento. E um torturador em série. É assim que vítimas do cientista social Lucas José Dib, de 35 anos, que é acusado de estupro e tortura, o descrevem. Uma delas, mesmo 10 anos depois, ainda enfrenta os traumas deixados pela violência do homem.
A Lei Maria da Penha, criada para proteger mulheres da violência, completou 18 anos na quarta-feira passada (7). Mesmo com o avanço da legislação, as vítimas conhecem o peso do medo e a sensação de impunidade.
Lucas Dib foi preso em abril por estupro e cárcere privado contra uma turista que estava de férias no Rio, mas foi solto menos de um mês depois. Atualmente ele está solto. Na época, a turista relatou ter sido torturada durante 18 horas e violentada física e sexualmente.
“Ele falava a forma como ele ia me matar. Que ele ia me picar, que ia me dopar”, conta a vítima.
Depois do caso vir à tona, mais vítimas tiveram coragem de denunciar.
“Eu não estava fazendo o que ele queria, porque eu já não estava mais respondendo, ele passou a rasteira em mim, no chão da sala, tirou minha roupa e me estuprou ali mesmo”, conta uma das mulheres que teve coragem de expor.
Uma outra mulher, de outro estado, classifica ele como “violador em série” e que “não tem condições de viver em sociedade”.
Lucas já trabalhou como chefe de gabinete em um banco de Minas Gerais e em uma agência do governo de São Paulo, além de ter dois diplomas de faculdades chinesas e duas graduações nacionais. Estudado, viajado e bem conhecido por políticos.
Segundo a investigação, ele usava esse artifício tanto para conseguir a confiança das vítimas quanto para ameaçar as vítimas.
A turista que diz ter sido violentada no Rio conta que sentiu segurança ao ver que ele tinha uma carreira estável. Depois de conhecê-lo por um aplicativo de relacionamento, a moça topou se encontrar com ele em Botafogo, na Zona Sul.
“Ele me obrigou a usar droga. Eu até tentava enganar ele quando ele colocava na minha boca, mas ele fazia mastigar, engolir. Isso às vezes ele mesmo colocava, cuspia da boca dele na minha boca”, relata ela.
Ela foi salva por amigos que, ao notar o sumiço dela, foram atrás da localização do celular dela e chamaram a polícia. Imagens de segurança do prédio mostram o exato momento em que ela sai do elevador, segura o amigo pela mão e os dois correm.
Lucas chegou a ser preso pela violência contra a turista, mas foi solto e responde ao processo em liberdade.
Uma mulher que namorou ele há 10 anos conta que era constantemente estuprada por ele.
“Eu não queria que mais nenhuma menina passasse por isso. Eu tenho certeza de que ele não pode ficar solto, é um psicopata que gosta muito da dor”, afirma ela.
Com uma outra vítima, ele se relacionou por pouco tempo, mas o suficiente para traumas profundos.
“Ele destruiu minha identidade, minha personalidade. Os únicos dias mais tranquilos da minha vida em relação a ele foram os dias que eu sabia que ele estava em Bangu [preso]. Desde que ele foi solto eu durmo com medo, com uma faca do lado da cama”, destaca ela.
O Ministério Público do Rio pediu a prisão de Lucas José Dib pelo caso da turista e o classificou como um predador sexual. Ele responde por estupro, cárcere privado, tortura, ameaça e injúria. Mas, a Justiça decidiu que a espera pela sentença será em liberdade – o MP recorreu.
A equipe de reportagem entrou em contato com a defesa de Lucas, mas não teve retorno.