Em breve, adultos poderão ficar vulneráveis a doenças infantis; entenda

Preparação da vacina contra coqueluche, ou tosse comprida, no Serviço de Saúde Pública do condado de Skagit, em Mt. Vernon, Washington - MATTHEW RYAN WILLIAMS/NYT
Em 2024, os Estados Unidos registraram mais de 32 mil casos de coqueluche, a maior contagem em uma década. Só no estado da Califórnia, a doença atingiu duas mil pessoas entre janeiro e outubro. Mais de 60 crianças menores de quatro meses foram hospitalizadas. Uma delas morreu.
A coqueluche, também conhecida como pertússis ou tosse convulsa, é apenas o exemplo mais gritante do que acontece quando as taxas de vacinação diminuem. Mas está longe de ser o único.
A pandemia interrompeu as imunizações infantis nos EUA inteiro, e as taxas ainda não voltaram ao patamar anterior. Como resultado, centenas de milhares de crianças estão cada vez mais vulneráveis a doenças antes relegadas aos livros de história.
A maioria delas —como o sarampo, a caxumba e a rubéola— afeta predominantemente crianças pequenas. Mas, se as taxas de vacinação continuarem a diminuir nos próximos anos, devido à crescente desconfiança ou a políticas federais mais restritivas, várias doenças infecciosas preveníveis ressurgirão em todas as faixas etárias, advertem os especialistas. “Pode levar um ou dois anos, mas não há dúvida: vamos ter surtos”, diz Pejman Rohani, epidemiologista de doenças infecciosas da Universidade da Geórgia.
Não são apenas os não vacinados que terão de se preocupar. Até mesmo os adultos que foram imunizados décadas atrás poderão se tornar vulneráveis a doenças que agora são consideradas infantis.
Para Alex Richter, imunologista clínico da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, onde há aumentos preocupantes de sarampo e caxumba, a maioria das pessoas se esqueceu dos perigos das doenças infantis.
Há poucas décadas, muitas crianças menores de cinco anos morriam de alguma doença infecciosa. Agora, estão mais ameaçadas por acidentes de trânsito, overdose de drogas e violência armada, enquanto a preocupação com doenças desapareceu paulatinamente. “Mas tudo isso pode mudar se não continuarmos com as políticas de vacinação”, afirma.
As taxas elevadas de vacinação em uma comunidade protegem não só os vacinados, mas também as pessoas que não podem receber algumas vacinas ou que podem não responder a elas devido a certas condições médicas, à idade ou ao sistema imunológico enfraquecido. “Quanto menos gente for vacinada, o mundo se tornará um lugar menos seguro para uma grande parte da população”, comenta o médico.
Por exemplo, a rubéola, também chamada de sarampo alemão, pode ser perigosa para as grávidas e seus bebês. No entanto, elas não podem ser imunizadas contra a doença porque a vacina contém um vírus vivo enfraquecido.
Hoje em dia, elas normalmente não correm risco, porque há menos de uma dúzia de casos de rubéola nos Estados Unidos a cada ano. Mas isso pode mudar se as taxas de vacinação caírem. Em todo o mundo, a rubéola é a principal causa de defeitos congênitos preveníveis por vacina. “Se você tem mães não imunes pegando rubéola, então há as complicações que perduram ao longo da vida, como cegueira e surdez e tudo o mais”, explica Richter.
Elsa Sjunneson sabe disso muito bem. Sua mãe foi infectada com rubéola durante um surto na cidade de Nova York, em 1985, enquanto estava grávida, e Sjunneson nasceu com síndrome da rubéola congênita, ou SRC. No caso dela, isso significava catarata espessa, perda auditiva e defeito cardíaco.
Antes de seu primeiro aniversário, foi submetida a duas cirurgias que corrigiram a maior parte do defeito cardíaco e a sete cirurgias oculares que não lhe restauraram totalmente a visão. Ela é cega do olho direito, tem visão limitada no esquerdo e ainda precisa de aparelhos auditivos. “Na verdade, tive muita sorte, porque muita gente que nasceu com SRC não sobreviveu. Ninguém merece ser exposto a doenças que podem matar”, diz Sjunneson, que é defensora de pessoas com deficiência e da vacinação contra a rubéola.
