Entenda o pensamento do Papa Bento XVI em frases do seu pontificado

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Bento XVI acena da janela da sacada da Basílica de São Pedro depois de ser eleito o 265º papa da Igreja Católica, em 19 de abril de 2005, no Vaticano — Foto: Patrick Hertzog/AFP/Arquivo

Por Filipe Domingues*

O papa emérito Bento 16 foi um intelectual renomado e teólogo profícuo. Para muitos, o principal marco de seu papado foi a renúncia, mas Bento deixou um legado que será estudado por muitos anos e que devem orientar os sucessores.

Abaixo, veja algumas das principais frases proferidas pelo Papa durante homilias e encíclicas que resumem seu pensamento e visão de mundo:

“Em breve estarei diante do juiz final de minha vida. Embora ao olhar para trás em minha longa vida eu possa ter muitos motivos de medo e pavor, estou, no entanto, com um espírito alegre, porque confio firmemente que o Senhor não é apenas o juiz justo, mas ao mesmo tempo o amigo e irmão que já sofreu ele mesmo as minhas insuficiências e, portanto, como juiz, é ao mesmo tempo o meu advogado.” – Carta aberta sobre os abusos sexuais na Alemanha, 6 de fevereiro de 2022.

“Razão e fé se ajudam mutuamente. Somente juntas elas poderão salvar o homem. Atraída pelo puramente técnico, a razão sem fé está destinada a se perder na ilusão de sua própria onipotência. A fé sem razão corre o risco de alienação da vida concreta das pessoas.” – Encíclica Caritas in Veritate (Caridade na Verdade), n. 74, 29 de junho de 2009.

“A maior perseguição à Igreja não vem de inimigos de fora, mas surge do pecado dentro da Igreja, e a Igreja, portanto, tem uma profunda necessidade de reaprender a penitência, de aceitar a purificação, de aprender o perdão, por um lado, mas também a necessidade de justiça. O perdão não substitui a justiça.” – Entrevista coletiva na viagem para Portugal, 11 de maio de 2010.

“A Igreja não existe para si mesma, não é o ponto de chegada, mas deve ir além de si, em direção ao alto, acima de nós. A Igreja é verdadeiramente si mesma na medida em que deixa transparecer o Outro – com ‘O’ maiúsculo – de onde ela vem e ao qual ela conduz.” – Missa com novos cardeais na Basílica de São Pedro, 19 de fevereiro de 2012.

“O que Cristo realmente nos dá? Por que queremos ser discípulos de Cristo? A resposta é: porque esperamos encontrar vida na comunhão com Ele, a verdadeira vida digna desse nome, e por isso queremos torná-lo conhecido aos outros, para comunicar a eles o dom que encontramos Nele. Mas é realmente assim? Estamos realmente convencidos de que Cristo é o caminho, a verdade e a vida?” – Discurso na abertura da conferência latino-americana de Aparecida, 13 de maio de 2007.

“Aqui está precisamente o grande erro das tendências dominantes do século passado, o erro destrutivo, como demonstram os resultados tanto dos sistemas marxistas quanto dos capitalistas. Eles falsificam o conceito de realidade com a amputação da realidade fundadora e, portanto, decisiva, que é Deus. Quem exclui Deus de seu horizonte falsifica o conceito de ‘realidade’ e, como resultado, só pode acabar em caminhos errados e com receitas destrutivas.” – Discurso na abertura da conferência latino-americana de Aparecida, 13 de maio de 2007.

“A sexualidade é um dom do Criador, mas também uma tarefa que diz respeito ao desenvolvimento do próprio ser humano. Quando não está integrada à pessoa, a sexualidade se torna banal e destrutiva ao mesmo tempo. Vemos isso em muitos exemplos em nossa sociedade de hoje. Recentemente, tivemos que notar com grande tristeza que sacerdotes desfiguraram seu ministério com o abuso sexual de crianças e jovens … O abuso, porém, que deve ser profundamente reprovado, não pode desacreditar a missão sacerdotal, que permanece grande e pura.” – Carta aos seminaristas, 18 de outubro de 2010.

“Não é possível seguir Jesus sozinho. Quem cede à tentação de ir ‘por conta própria’ ou de viver sua fé de acordo com a mentalidade individualista que prevalece na sociedade, corre o risco de nunca encontrar a Cristo, ou de acabar seguindo uma falsa imagem dele. Ter fé é confiar na fé de seus irmãos e irmãs, e que sua fé também sirva de apoio para a fé dos outros. Peço, queridos amigos, que vocês amem a Igreja, que lhes gerou na fé, que lhes ajudou a conhecer melhor a Cristo, que lhes fez descobrir a beleza de seu amor.” – Missa com jovens na Jornada Mundial da Juventude de Madri, 21 de agosto de 2011.

“[Deus] nos amou primeiro e continua a nos amar; portanto, também nós podemos responder com amor. Deus não nos ordena um sentimento que não podemos suscitar em nós mesmos. Ele nos ama, nos faz ver e experimentar seu amor e, a partir deste ‘primeiro’ de Deus, o amor pode, como resposta, despontar também em nós. No desenvolvimento deste encontro, revela-se claramente que o amor não é apenas um sentimento. Sentimentos vão e vêm. O sentimento pode ser uma maravilhosa faísca inicial, mas não é a totalidade do amor.” – Encíclica Deus caritas est (Deus é amor), n.17,25 de dezembro de 2005.

“[Cristo] amou ao ponto de dar sua vida por nós na cruz. A ação da Igreja e dos cristãos na sociedade também deve possuir esta mesma inspiração. As iniciativas pastorais sociais, se forem orientadas para o bem dos pobres e dos doentes, trazem dentro de si este selo divino. O Senhor conta conosco e nos chama de amigos, porque somente àqueles que amamos desta maneira somos capazes de dar a vida oferecida por Jesus através de sua graça.” – Missa de canonização de Frei Galvão, em São Paulo, 11 de maio de 2007.

“[Jesus] denuncia a hipocrisia religiosa, o comportamento que quer aparecer, as atitudes que buscam o aplauso e a aprovação. O verdadeiro discípulo não serve a si mesmo ou ao ‘público’, mas ao seu Senhor, com simplicidade e generosidade.” – Última missa como papa, na Quarta-feira de Cinzas, 13 de fevereiro de 2013.

“No mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.” – Declaração de renúncia, lida em latim em reunião com cardeais (consistório), 10 de fevereiro de 2013.

* Filipe Domingues (Twitter @filipedomingues e Instagram @_filipedomingues) é jornalista, doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana, vice-diretor do Lay Centre em Roma

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