Governo francês diz que venda de ingressos falsos foi responsável por caos na final da Liga dos Campeões

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© AP - Christophe Ena

Ingressos falsos, violência policial e falta de segurança que faziam “lembrar as favelas do Rio”. Não faltam acusações sobre as razões do fiasco da final da Liga dos Campeões, no sábado (28). O governo francês culpa a venda de ingressos falsos pelo caos no Stade de France. Mas torcedores do Liverpool acusam polícia de violência e dizem que governo francês “mente”.

O ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, responsabilizou, nesta segunda-feira (30) a venda de ingressos falsos pelos incidentes no Stade de France, na final da Liga dos Campeões. De acordo com ele, entre 30.000 e 40.000 torcedores ingleses não tinham ingressos ou estavam com entradas falsificados. “O que foi constatado foi uma fraude de massa e organizada de falsas entradas: 70% de ingresso falsos encontradas na primeira barreira e 15% na segunda”, disse.

A UEFA confirmou a informação de que um grande número de torcedores com entradas falsas teriam causado os atrasos e bloqueios nas catracas de acesso ao estádio.

Darmanin também precisou que sábado, as 21h, 97% dos torcedores espanhóis, munidos de ingressos, estavam dentro do estado, contra 50% dos torcedores ingleses.

As declarações foram feitas em coletiva conjunta com a ministra francesa dos Esportes, Amélie Oudéa-Castéra, após uma reunião na manhã desta segunda-feira com a polícia, autoridades locais e representantes da UEFA.

No sábado, a final entre Real Madrid e Liverpool, que acabou com a vitória por 1 a zero do time espanhol, começou com um atraso de 30 minutos devido a problemas de acesso de torcedores ao estádio. O episódio não fez feridos graves, mas foi marcado por muito tumulto.

Desde o início, a França responsabilizou os torcedores do Liverpool pelos problemas. Mas o governo britânico não concordou com a tese de Paris e disse que estava “extremamente decepcionado” pelo tratamento inflingido aos Reds. “Os torcedores merecem saber o que aconteceu”, declarou nesta segunda-feira o porta-voz de Boris Johnson, o primeiro-ministro britânico. Ele também pediu à UEFA que “trabalhe de maneira conjunta com as autoridades francesas em uma investigação completa”.

A ministra francesa do Esporte disse que era necessário analisar o problema para “aprender juntos lições, consequências e ensinamentos”. Ela afirmou que pediu à UEFA que as “2.700 pessoas que tinham entradas e não puderam assistir ao jogo sejam compensadas”, afirmou. A UEFA não se manifestou sobre a questão.

Violência contra torcedores e roubos

Com a greve de uma das linhas de trens de periferia de Paris, principal meio de transporte público para chegar ao Stade de France, os torcedores tiveram que tomar outra linha cuja saída levava a um corredor estreito. Neste lugar, eles passavam por um primeiro controle dos ingressos. Mas, somente ao chegar às catracas, os torcedores descobriam que os códigos QR não funcionavam e que os ingressos eram falsos.

De acordo com pessoas presentes no estádio, o número de funcionários para controlar as entradas não era suficiente.

Daniel Austin, escritor e jornalista esportivo inglês que vive na França e torce pelo Liverpool, afirmou em entrevista à emissora France Info que o governo francês “mente”. “Trinta mil pessoas sem entrada é simplesmente impossível. Isso me deixa muito irritado”, afirma.

“O que eu vejo é um Estado que perdeu o controle da situação e usa uma massa de estrangeiros para salvar sua reputação, para se proteger. A culpa é dos ingleses, sem investigação. Isso é o que os ministros franceses e a UEFA decidiram dizer”, lamenta.

“A polícia e o Estado francês quase causaram mortes. Foi a primeira vez em toda minha vida que eu tive medo de morrer. A polícia fechou os portões duas horas antes do jogo. Tivemos que esperar três horas sem poder ir ao banheiro, sem beber água, apertados um contra o outro. Isso é culpa do estado francês”, relatou. “Da próxima vez, serão os franceses que estarão em perigo. Não os ingleses”, alerta o jornalista.

Já Jean Cristophe Couvy, secretário nacional do sindicato da Polícia disse, também à France Info, que vendo as imagens da invasão do Stade de France se sentiu no “Rio de Janeiro, no meio de favelas”.

Mas insistiu que os torcedores ingleses são conhecidos por causar tumultos, citando a final da Eurocopa, entre Inglaterra e Itália, em Wembley, em 2021, quando 2.000 torcedores invadiram o estádio.

Fraude do lado francês

Mas não apenas torcedores ingleses criticaram a organização do evento. Nas redes sociais, muitos franceses denunciavam roubos, dificuldades de entrar e falta de segurança no estádio.

“Eu cheguei ao #stadedefrance às 18h45. Cheguei ao meu lugar às 21h45. Após ter sido espremido, recebido gás, terem roubado meu telefone e assistir à várias agressões. Todo o resto é conversa fiada. Teve déficit de organização. Tinha delinquência. Ponto”, torcedor.

Outros constataram a presença de grupos de jovens locais não identificados que tentaram se introduzir no estádio sem entrada.

Vídeos que circulam em redes sociais mostram pessoas se vangloriando de terem conseguido entrar no estádio, sem ingressos. Outras imagens mostram assaltos e a polícia usando gás de pimenta contra torcedores.

Entre os vídeos que circulam nas redes sociais, o mais polêmico é o do também polêmico Cyril Hanouna, apresentador de um dos programas de maior audiência entre os jovens na França. Nas imagens, ele passa por debaixo da catraca do estádio.

Entre as pessoas detidas pela polícia na noite de sábado, 15 ainda estão em prisão provisória, todos franceses.

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