Líbano elege novo presidente, que manda recado ao Hezbollah

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O recém-eleito presidente libanês, Joseph Aoun, posa para foto no palácio presidencial em Baabda, a leste de Beirute - Fadel Itani - 9.jan25/AFP

O Parlamento do Líbano elegeu na quinta-feira (9) o chefe do Exército, Joseph Aoun, como novo presidente do país depois de o cargo ficar vago por pouco mais de dois anos. A vitória do candidato apoiado pelos Estados Unidos evidencia o enfraquecimento da influência do Hezbollah, grupo armado islâmico apoiado pelo Irã, após os impactos da recente guerra com Israel.

Em discurso à Câmara do país, Aoun, 60, prometeu trabalhar para garantir que o Estado libanês tenha o direito exclusivo de portar armas, numa mensagem direcionada também ao Hezbollah. Ele recebeu aplausos entusiasmados enquanto os parlamentares do grupo islâmico, que também é um partido político, ficaram imóveis.

Aoun prometeu reconstruir o sul e outras regiões do Líbano que, segundo ele, foram destruídas por Israel. Também disse que irá prevenir ataques de Tel Aviv ao país, que já estava mergulhado em crises econômicas e políticas antes mesmo do conflito. “Hoje uma nova fase na história do Líbano começa.”

A eleição refletiu mudanças no equilíbrio de poder no Líbano e no Oriente Médio, com o Hezbollah enfraquecido pela guerra iniciada no ano passado e seu aliado sírio Bashar al-Assad deposto em dezembro.

Também indicou um ressurgimento da influência saudita em um país onde o papel de Riade foi eclipsado pelo Irã e pelo Hezbollah há muito tempo.

Aoun foi crucial para consolidar um cessar-fogo entre Hezbollah e Israel, mediado por Washington e Paris, no ano passado.

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, parabenizou o Líbano. Ele disse esperar que a eleição de Aoun contribua para a estabilidade e boas relações de vizinhança. A embaixadora dos EUA no país, Lisa Johnson, presente na sessão, disse estar “muito feliz” com a vitória do comandante do Exército libanês.

A França disse que o pleito abriu uma nova página para o Líbano. “Esta eleição deve agora ser seguida pela nomeação de um governo forte” capaz de “realizar as reformas necessárias para a recuperação econômica, estabilidade, segurança e soberania do Líbano”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores francês, Christophe Lemoine.

Melhem Riachi, legislador cristão que votou em Aoun, disse que a eleição marcou o fim de uma era. “Esta é a era da harmonia do Líbano com a comunidade internacional.”

Um de seus opositores, Gebran Bassil afirmou que a eleição resultou de pressão estrangeira, com legisladores recebendo “instruções do exterior”.

A Presidência do Líbano estava vaga desde outubro de 2022, após o fim do mandato de Michel Aoun.

O apoio a Aoun aumentou depois que Suleiman Frangieh, candidato do Hezbollah, retirou-se e apoiou o comandante do Exército. Enviados franceses e sauditas pressionaram pela eleição do chefe do Exército. Autoridades teriam indicado ainda que a assistência financeira internacional, incluindo da Arábia Saudita, estava condicionada à vitória de Aoun.

“Há uma mensagem muito clara da comunidade internacional de que estão prontos para apoiar o Líbano, mas isso precisa de um presidente, um governo”, disse Michel Mouawad, um legislador contrário ao Hezbollah que votou em Aoun. “Recebemos uma mensagem de apoio da Arábia Saudita.”

O rei saudita e o príncipe herdeiro parabenizaram Aoun.

A eleição visa revitalizar as instituições governamentais do Líbano, sem chefe de Estado ou gabinete capacitado desde a saída de Michel Aoun. O país, em crise econômica desde 2019, necessita de ajuda para reconstrução pós-guerra, com danos estimados em US$ 8,5 bilhões (R$ 52 bilhões) pelo Banco Mundial. Áreas xiitas, onde o Hezbollah tem apoio, foram as mais afetadas, e o grupo busca apoio árabe e internacional.

O sistema de governo do Líbano agora exige que Aoun convoque consultas com os legisladores para nomear um primeiro-ministro muçulmano sunita para formar um novo gabinete, um processo que muitas vezes pode ser prolongado enquanto as facções barganham por pastas ministeriais.

O primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, ocupa o cargo de forma interina.

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