Líder da Síria após queda de Assad diz que novas eleições podem levar até quatro anos
A realização de eleições na Síria pode levar até quatro anos, afirmou Ahmed al-Sharaa, novo líder do país após queda do regime de Bashar al-Assad, em declarações divulgadas no domingo (29).
Sharaa também afirmou, em uma entrevista à emissora saudita Al-Arabiya, que a elaboração de uma nova Constituição pode levar até três anos e que mudanças drásticas no país só poderão ser vistas em um ano.
É a primeira vez que o líder faz menções a um calendário eleitoral. As declarações de Sharaa, à frente da HTS (Organização para a Libertação do Levante, na sigla árabe) foram feitas em um cenário em que Damasco tenta se posicionar na comunidade internacional como um governo moderado.
O próprio Shaara é descrito por analistas como um extremista que, desde 2016, quando rompeu relações com a Al Qaeda, adotou uma postura mais moderada para alcançar seus objetivos. Com o passar dos anos, parou de usar o turbante típico dos jihadistas e também abandonou o codinome de guerra, Abu Mohammed al-Jolani, e passou a usar seu nome verdadeiro, Ahmed al-Sharaa.
Um dos temores é que, a exemplo do que ocorreu no Afeganistão, Sharaa implemente a lei islâmica, também chamada de sharia. Esse conjunto de regras normalmente exige que, em público, os homens se cubram da barriga até o joelho e as mulheres se cubram completamente, podendo deixar apenas o rosto, os pés e as mãos à mostra.
Sharaa tem pela frente o desafio de evitar confrontos entre os inúmeros grupos que lutaram para derrubar o regime ditatorial de Assad e as diversas minorias do país.
Sob sua liderança, forças rebeldes tomaram o poder na Síria no início de dezembro, encerrando um período de 24 anos de Assad após um surpreendente avanço pelo território do país —mas deixando questões sobre o futuro da nação e sua relação com potências como Turquia e Rússia, que atuaram diretamente no conflito nos últimos anos.
Sharaa disse que a HTS, anteriormente conhecido como Frente Nusra, será dissolvida durante uma conferência de diálogo nacional.
Durante a entrevista transmitida neste domingo, Sharaa afirmou que a Síria compartilha interesses estratégicos com a Rússia, um aliado próximo de Assad durante a longa guerra civil e que mantém bases militares no país. No início deste mês, ele disse que as relações da Síria com Moscou devem servir a interesses comuns.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou que o status das bases militares russas será tema de negociações com a nova liderança em Damasco.
“Não se trata apenas de manter nossas bases, mas também das condições de sua operação, fornecimento e interação com a parte local”, disse ele em entrevista à agência de notícias russa RIA, publicada no domingo.
Sharaa também disse esperar que o governo do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, suspensa as sanções impostas à Síria. Diplomatas americanos que visitaram Damasco neste mês afirmaram que Washington decidiu remover uma recompensa de US$ 10 milhões pela captura do líder da HTS.