Morte de Elizabeth reacende questões políticas e religiosas no futebol

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Rainha Elizabeth II. Foto: Simon Bruty/Allsport UK

Por Junio Silva e Nat Coutinho

A morte da rainha Elizabeth II mexeu com as estruturas do Reino Unido e também repercutiu no mundo do futebol. Além do adiamento de jogos da Premier League e do pronunciamento de diversos clubes, o falecimento da monarca, que aconteceu na quinta-feira (8/9), reacendeu questões que vão além das quatro linhas.

Na Escócia, Celtic e Rangers tomaram posicionamentos diferentes quanto a morte da rainha, demonstrando como política e religião entram em campo no clássico entre os gigantes de Glasgow.

Já na Inglaterra, a história da formação das cidades fez com que os ingleses esperassem que o Liverpool, um dos maiores clubes do país, não se pronunciasse sobre o falecimento da rainha.

Protestantes monarquistas x Católicos separatistas

As questões políticas e religiosas são plano de fundo para a rivalidade entre Celtic e Rangers desde o surgimento dos times. De origem protestante, o lado azul de Glasgow possui opiniões e posicionamentos diferentes do lado católico irlandês da maior cidade da Escócia.

Além da religião, assuntos políticos que envolvem diretamente a monarquia são combustíveis que inflamam o Old Firm, como é conhecido o clássico.

Enquanto a torcida do Rangers prega a permanência da Escócia no Reino Unido e são tão fiéis à monarquia ao ponto de imagens de Elizabeth II serem comuns em meio a torcida no estádio, os fãs do Celtic defendem a independência do país, a unificação das Irlandas e são contrários à família Real.

Após a morte da rainha, todas essas diferenças foram notadas no posicionamento dos dois maiores times da Escócia sobre o assunto.

O Rangers – que possui uma foto de Elizabeth no vestiário de seu estádio – divulgou uma nota de pesar, hasteou a bandeira do Reino Unido a meio mastro no Ibrox Stadium e seguiu a linha de diversos clubes que deixaram seus escudos em preto em branco nas redes sociais, como forma de manifestar o luto pela morte da monarca.

Por outro lado, o Celtic não prestou nenhuma homenagem mais sentimental à rainha, e divulgou apenas uma curta nota em seu site oficial, expressando “condolências à família da falecida rainha Elizabeth II” após o anúncio de sua morte.

A mágoa de Liverpool

Na Inglaterra, a situação fica ainda mais escancarada por um clube se destacar na forma como se relaciona com a monarquia britânica.

O Liverpool foi o último time que joga pela Premier League a se manifestar sobre a morte da rainha Elizabeth II. O fato, que não gerou surpresa nos torcedores e demais amantes do futebol, tem inúmeras motivações, começando pela formação da cidade.

Liverpool é uma cidade localizada ao norte da Inglaterra, a 287km de distância de Londres. Devido a isso, a formação do local teve uma forte participação de imigrantes, principalmente de irlandeses. Esse processo fez com que Liverpool ficasse conhecida, inclusive, como a segunda capital da Irlanda.

Essa distância e a história por trás do desenvolvimento do município criaram uma diferença entre os moradores do país: os ingleses que moram no sul passaram a enxergar os moradores do norte da Inglaterra como estrangeiros.

Além disso, como os imigrantes chegaram para trabalhar nas fábricas de Liverpool, a cidade conta com uma classe trabalhadora bastante ativa, envolvida em inúmeros eventos políticos.

Os moradores fazem manifestações constantes sobre as políticas britânicas, afirmando que os primeiros ministros do país tendem a privilegiar o sul da Inglaterra em detrimento do norte. Obviamente, a torcida do Liverpool foi influenciada por essa postura, que passaram a levar os protestos para as arquibancadas.

Durante o hino do Reino Unido, por exemplo, é comum ver a torcida vaiando e cantando “God Save our Team” [Deus salve nosso time], no lugar de “God Save The Queen” [Deus salve a rainha”]. Outro momento em que essas manifestações ficaram visíveis foi no falecimento de Margareth Thatcher, que contou com inúmeras mensagens dos torcedores, como “Você não se importou quando mentiu, nós não nos importamos que você morreu”.

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