O que existe por trás da exigência de reciprocidade do PSB?

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João Azevêdo e Vitor Hugo durante evento na Paraíba (Foto: Arquivo)

Qual o significado político da palavra reciprocidade, que entrou para o vocabulário do PSB, mas já foi usada até pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), em Campina Grande, para explicar o que ele espera da aliança que fez com o prefeito Bruno Cunha Lima?

Aparentemente, o significado não destoa muito do que se encontra nos dicionários,  que é o conceito da correspondência mútua, da troca, do doar e receber. Na política, apoiar e ser apoiado, reciprocamente.

É o que se deduz na cobrança que o PSB faz ao prefeito Cícero Lucena e seu grupo político em Cabedelo. Como os socialistas votam em Cícero na Capital, acreditam ser lógico receberem o apoio do deputado federal Mersinho Lucena, filho do prefeito pessoense, que tem base eleitoral em Cabedelo.

O vocábulo não entrou gratuitamente nas articulações do PSB, tanto que até o governador João Azevedo já o pronunciou algumas vezes e, pelo visto. Na verdade, o que se pode depreender de tudo que já foi dito e escutado é que o termo reciprocidade entrou para os protocolos de alianças do PSB.

A questão é que, para os socialistas, a exigência de reciprocidade em seus acordos políticos é mais do que a expectativa de correspondência de apoio mútuo ou de troca de apoios. Trata-se de uma definição de tática política e parece ter por objetivo ampliar e delimitar seu território.

Reparando bem, talvez represente até mais do que uma tática para a disputa das eleições municipais de 2024. Uma leitura mais aguçada vai permitir compreender que o processo de reciprocidade esboçado pelo PSB visa, em última instância, definir quais são suas próprias forças e o que é dos aliados.

O exemplo de Cabedelo, analisado mais minuciosamente, permite a exata noção da ampla extensão da proposta de reciprocidade do PSB. Lá, a ideia seria a seguinte: é melhor perder com candidato próprio do que ganhar com Vitor Hugo. A avaliação é que o prefeito tem suas próprias ligações políticas e só oferece ao PSB a promessa de apoio à candidatura do governador João Azevedo a senador, não ao demais candidatos do partido. Além disso, os governistas consideram que contribuíram para a reeleição de Vitor Hugo e ele foi hostil na campanha para governador.

Outro exemplo: é comum ouvir queixas de dirigentes socialistas que perderam o apoio dado à candidatura de Ana Cláudia à Prefeitura de Campina Grande em 2020, já que,  em 2022, Veneziano rompeu e o PSB ficou com base diminuta na cidade. Faltou a garantia de reciprocidade.

Observe-se que o PSB e o governador João Azevedo estão trabalhando para ter garantia de apoio em 2026. Lógico que desejam eleger o maior número de prefeitos, mas preferem perder nas cidades onde não tiverem garantia de reciprocidade nas eleições de 2026.

Outra observação interessante é que, pelo que tem ocorrido em Cabedelo, não interessa apenas a promessa de apoio ao governador para uma possível candidatura ao Senado. O compromisso político precisa ser integral.

Registre-se, pois, que a ideia parece ser de depurar de duas cabeças e anotar as alianças que resultem em vínculos políticos confiáveis. Não que o PSB não vá fazer alianças com todas as forças que já estão na base do governo, mas, como já avisou o próprio governador, onde não for possível, o PSB terá seu próprio candidato, ainda que concorrendo com o candidato de um partido aliado.

Pode parecer exercício de pura pressuposição, mas esses cuidados de reciprocidade do PSB paraibano em relação às alianças para as eleições municipais permitem imaginar que o projeto do partido para 2026 é maior do que se imagina.

Por Josival Pereira, T5

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